terça-feira, 16 de setembro de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Esse discurso de que o Estado melhorou a sua vida é uma grande enganação. Ninguém acha que foi o governo que melhorou a sua vida. A gente escuta muito um discurso de "olha, nós melhoramos a sua vida, nós tiramos milhões de brasileiros dessa situação para aquela". Nada disso, quem melhora a vida de cada um é quem acorda cedo, rala, chacoalha no transporte público, estuda e trabalha. Essa é a minha visão, muito diferente de um modelo que está aí governando o Brasil.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidente da República. O Globo, 15 de setembro de 2014.

Dilma diz que proposta de reduzir ministérios é 'um escândalo'

• No Rio, presidente afirma que só fará reforma política com plebiscito

Juliana Castro – O Globo

Em discurso ontem na Central Única das Favelas (Cufa), na Zona Norte do Rio, a presidente Dilma Rousseff ironizou a proposta de seus principais adversários, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), de reduzir o número de ministérios - atualmente são 39. Na entrevista coletiva, após o evento, a presidente disse ser um escândalo querer acabar com algumas pastas:

-Acho um verdadeiro escândalo querer acabar. Criei dois ministérios: o da Aviação Civil criei pela consciência absoluta de que havia uma verdadeira revolução no transporte por aviões no Brasil. Para se ter uma ideia, em 2003 eram 33 milhões de passageiros por ano e, agora, são 111 milhões de passageiros por ano. A ampliação de aeroporto no Brasil é uma exigência desse processo de inclusão social - disse.

No discurso para uma plateia de convidados da Cufa, para o lançamento do livro "Um país chamado favela", de Renato Meirelles e Celso Athayde, e composta em maioria por jovens, a presidente já havia falado sobre a questão:

- Tem gente, inclusive, querendo reduzir ministérios. Um deles é o da Igualdade Racial, o outro é o que luta em defesa da mulher. O outro é de Direitos Humanos. E tem um ministério que eu criei e eles estão querendo acabar, que é o da Micro e Pequena Empresa .

Sem citar Marina, a presidente usou na entrevista uma expressão da candidata do PSB para criticá-la:

- Não acredito no governo dos bons. Acredito num governo com legitimidade do voto popular.

Dilma criticou Marina em outro momento da entrevista, ao comentar a declaração de Marina, de que o PT colocou o ex-diretor Paulo Roberto Costa para assaltar os cofres da Petrobras:

- Aquilo é uma fala que não é de muito alto nível. Lamento aquela fala. Em qualquer empresa você pode ter pessoas que fazem malfeitos. O que você tem que fazer é investigar.

Ao falar sobre reforma política, Dilma afirmou que só a fará com uma consulta popular:

- Não faremos reforma política sem plebiscito. Eu vi o Lula tentar três vezes, fiz um grande movimento depois das manifestações, conversei com STF e o Congresso, não consegui passar a reforma.

Acompanhada do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), a presidente visitou as instalações da Cufa, assistiu a uma apresentação de capoeira e dançou o "passinho". A assessoria de Dilma, informou que essa era uma agenda mista, em que ela participou como presidente, mas, ao final, deu entrevista como candidata. Apesar disso, cabos eleitorais balançavam bandeiras de Dilma e Pezão do lado de fora.

Marina é alvo em ato de apoio ao pré-sal

• Com presença de Lula e Stédile, evento organizado por PT e sindicatos serviu para atacar candidata do PSB

Cássio Bruno e Leticia Fernandes – O Globo

A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, foi alvo principal de ato organizado ontem por centrais sindicais ligadas ao PT, no Rio, que contou com a presença do ex-presidente Lula e do coordenador do MST, João Pedro Stédile. Cerca de mil de servidores de estaleiros fluminenses e militantes petistas andaram da Cinelândia, no Centro da cidade, à sede da Petrobras, para defender a empresa e a exploração de petróleo em camadas profundas.

Marina foi o alvo principal de Lula no discurso. O ex-presidente acusou a antiga companheira de partido e ministra do Meio Ambiente de seu governo de estar "terceirizando" o cargo de presidente.

- Se tem uma coisa que você não pode terceirizar é o cargo de presidente da República. Ou você assume ou não assume. Esse negócio de pedir para cada um falar um pedacinho das coisas que estão acontecendo neste país não dá certo. Afinal, este país não é uma colcha de retalhos que pode ser subdividida. Eu, se fosse a candidata que faz oposição a Dilma, proibiria seus economistas de falar, porque cada um fala mais bobagem que o outro. E o que pode acontecer é que o programa de governo pode ser feito a 500 mãos, menos as dela (de Marina) - afirmou Lula.

"Clube de amigos"
No momento mais duro da fala do petista contra a candidata, ele disse que escolheu Dilma como sua sucessora, e não um quadro petista historicamente ligado a ele, porque Presidência da República não é um "clube de amigos":

- Alguns devem pensar: mas por que o Lula foi escolher exatamente a Dilma e não alguém ligado a ele historicamente? Porque eu não via a Presidência da República como um clube de amigos, eu via como uma coisa muito séria. Para governar este país é preciso que a gente tenha pulso.

A ofensiva do PT contra Marina ocorreu depois que a ex-senadora apareceu como a maior rival de Dilma na disputa pela Presidência. Os petistas aproveitaram as declarações de Marina de que o petróleo é um "mal necessário" e de que daria mais importância, caso eleita, ao uso de fontes alternativas de energia.

O ex-presidente da Petrobras José Eduardo Dutra, que discursou antes de Lula, criticou a abordagem do programa de governo de Marina. Dutra evitou, no entanto, fazer ataques pessoais à ex-senadora:

- Fui colega por oito anos da senadora Marina Silva e nunca vou atacá-la pessoalmente, mas, em 242 páginas do programa de governo da candidata, o petróleo é tratado como um mal necessário, e não é citado nem uma vez o pré-sal.

MST ameaça protestos diários
Outros discursos do ato fizeram menções negativas a Marina, que foi atacada até em um adesivo distribuído no local, com os dizeres "Fora Marina e Leva o Itaú Junto", em referência à presença de Neca Setúbal, herdeira do banco, no comando da campanha da candidata do PSB. Membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile disse que a ex-senadora do PSB "não tem direito de julgar o pré-sal".

- Viemos aqui dizer para dona Marina que ela não tem direito nenhum de julgar o pré-sal, porque o pré-sal é do povo. E ela que invente de botar a mão na Petrobras que nós voltaremos aqui todos os dias.

O protagonismo do petróleo na eleição não é à toa. Levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) estima que, só no estado, 60% de todos os investimentos previstos até 2016 virão da receita do pré-sal. No total, serão R$ 143 bilhões. Esse montante engloba investimentos em toda a cadeia produtiva, como construções de navios e plataformas, máquinas e equipamentos e serviços especializados, com grande potencial de geração de empregos.

Para Marcus Dezemone, professor de História da Uerj, o debate acalorado em torno da estatal pode ser explicado porque a empresa sempre teve ativismo da população:

- A centralidade do debate estar na Petrobras já demonstra a importância da empresa. É uma estatal que teve a presença da população durante o seu desenvolvimento, desde sua criação, passando por episódios como a campanha do "Petróleo é nosso". O entendimento de que o pré-sal é uma riqueza que pode mudar o Brasil atrai diferentes segmentos sociais e está sendo usado por isso.

Dualidade política
Doutora em Ciência Política pela UnB, Maria Souto constata uma dualidade no uso político da estatal:

- Positivamente ou prejudicialmente, a Petrobras é usada em campanhas políticas. Ao mesmo tempo em que o governo sofre críticas por um suposto esquema de corrupção na estatal, ele a utiliza para enaltecer os benefícios que a empresa pode trazer. O pré-sal é a forma de o governo expressar que sua gestão é sólida frente ao que considera ser um risco.

Lula, vestindo um jaleco laranja semelhante ao da Petrobras, disse não ter vergonha de usar a camisa da estatal:

- Este ato é para comemorar o aniversário da Petrobras, que, no dia 3 de outubro, completará 63 anos. Estamos aqui em defesa da companhia que vem sofrendo diversos ataques.

Lula defendeu a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, e disse que quem errou tem que pagar.

- Os milhares de trabalhadores dessa empresa não podem ser confundidos com alguém que possa ter cometido um erro. Se alguém praticou erro, se roubou, tem mais é que ser investigado. Se for culpado, tem que ir para a cadeia. (Colaborou Raphael Kapa)

Dilma promete repassar recursos do petróleo também para a cultura

• Ato de apoio à candidata atrai cerca de 100 artistas e intelectuais do Rio

• Artistas como Chico Buarque, Marieta Severo e Paulo Betti não compareceram ao evento de apoio à candidata

Leandra Lima e Marco Grillo - O Globo

RIO — Com menor presença de nomes de peso em comparação com campanhas petistas do passado, o PT reuniu nesta segunda-feira cerca de 100 artistas e intelectuais em ato de apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff, na Zona Sul do Rio. Aos presentes, Dilma prometeu repassar parte do dinheiro dos recursos do pré-sal para a Cultura. O evento foi aberto ao público, que lotou os quase mil lugares do Teatro Oi Casa Grande.

— Tivemos (uma) parada na expansão dos pontos de cultura. Acredito que o dinheiro do pré-sal teria que ser destinado a pontos de cultura, (fomento) de start-ups e casas de cultura — defendeu a presidente, que depois comentou:

— Fiquem de olho (no pré-sal), porque tem muita gente poderosa de olho. Entrem no site do departamento de energia americano e vejam o que eles dizem sobre isso. Que o Brasil vai ser um dos maiores exportadores de petróleo. Não olhem para isso como se fosse uma coisa menor.

Apesar de ser um encontro voltado para a cultura, outros assuntos ganharam mais destaque, em especial a defesa dos programas sociais implementados durante o governo do PT e a redistribuição de renda. O ex-presidente Lula reconheceu que o setor cultural precisa de mais atenção do governo, e o cantor Chico César defendeu uma maior distribuição de recursos fora de Rio e São Paulo.

Ainda mantendo as artilharias no rumo de Marina Silva, Dilma defendeu a reforma política como forma de se esquivar do discurso “contra os partidos”.

— Reforma política é imprescindível para a gente não cair nesse discurso contra os partidos. Não acredito em reforma política sem participação popular. Por isso, os plebiscitos.

No encontro desta segunda-feira não compareceram, entre outros, artistas como Chico Buarque, Marieta Severo e Paulo Betti, que sempre estiveram em atos como este. Ainda assim, os quase cem artistas e intelectuais que ocuparam o palco do Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, fizeram muitos ataques à candidata Marina Silva (PSB). Em seu discurso, que durou uma hora, o ex-presidente Lula, em tom de ironia, fez duras críticas sem citar a adversária nominalmente. Ele criticou principalmente o fato de Marina ter abandonado o PT após ter se deparado com “defeitos” do partido.

Lula sugeriu que, caso sua ex-ministra do Meio Ambiente vença as eleições, seria criado no Brasil um ambiente para se ter um governo como o de Janio Quadros e Fernando Collor, no Brasil, e Silvio Berlusconi, na Itália.

Chico César, Leonardo Boff e Marilena Chauí também fizeram críticas indiretas a Marina:

— Não podemos ter o risco de uma aventura regressiva — disse Marilena Chauí.

Depois do discurso de Marilena, o público e alguns dos convidados que estavam no palco cantaram um refrão que dizia "Marina é só caô" e fizeram um gesto com a mão, como se a candidata do PSB falasse demais. Dilma riu e repetiu o gesto. Próximo a discursar, Boff, que apoiou a candidatura de Marina em 2010, não citou o nome da adversária de Dilma, mas usou uma metáfora:

— Há quem defenda projetos bonitos falando de borboletas, mas se esquece de plantar as flores para que as borboletas venham. As conquistas de doze anos correm riscos e devemos lutar para preservá-las — afirmou o teólogo, que em determinado momento cometeu um ato falho e chamou Dilma de "Presidenta Lula".

Ao citar Fernando Morais, presente entre os convidados, Lula disse que não aceitaria que se fosse escrita uma biografia sua em vida, porque “seria impossível se dizer as verdades”.

— Você acha que, se Bill Clinton fizesse uma biografia em vida, ele citaria o caso com a Monica Lewinski? Que se o Fernando Henrique tivesse feito, ele teria falado do caso dele? — perguntou.

Em seu discurso, Dilma voltou a defender a criminalização da homofobia, sem citar porém, o PL 122/06, que criminaliza a homofobia e que está parado no Senado:

— Temos que combater a discriminação de negros e homossexuais, criminalizando a homofobia.

Dilma também voltou a criticar, como fez pela tarde, o discurso dos opositores que defendem a redução do número de ministérios caso sejam eleitos.

— Querem acabar com ministérios. Não entendem que ministérios tem funções diferentes. Desconfio que querem acabar com o Ministério das Mulheres, dos Negros e dos Direitos Humanos — disse, enfatizando a presença da Ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros

A presidente também mandou um beijo para o autor de “Dilma Bolada”, personagem do Twitter, que estava na plateia.

Ao fim do encontro, que durou mais de três horas, Dilma desceu do palco para tirar fotos com admiradores. Bem-humorada, ela se dedicou à tarefa por cerca de quinze minutos.

— Isso se chama terceirizar selfie, não dá — brincou com um militante que entregou o celular para que outra pessoa registrasse o momento.

Juca Ferreira aplaudido e críticas à imprensa
Ex-ministro da Cultura e coordenador da área na campanha de Dilma à reeleição, Juca Ferreira foi bastante aplaudido e teve o nome gritado quando foi citado por Lula. Já a atual titular da pasta, Marta Suplicy, que também estava no palco, recebeu aplausos mais tímidos. Ao citá-la, Lula ressaltou que não sabe se Marta vai continuar no cargo em um eventual próximo governo de Dilma.

Lula usou uma parte do discurso para criticar a imprensa. O ex-presidente se referiu a mídia como um "partido de oposição" e ironizou o fato de jornais receberem publicidade estatal e publicarem reportagens críticas ao governo.´

— Aumentou a irresponsabilidade do papel do jornalista, que não é perguntar aquilo que ele quer saber, mas aquilo que interessa à candidata falar para o povo brasileiro, porque é ele (povo) que tem que ouvir — disse.

Em outro momento, Lula fez um mea culpa em relação a erros do PT. Atribuindo uma frase à economista Maria da Conceição Tavares, que estava no palco, o ex-presidente lembrou um episódio em que, para rebater uma crítica ao partido, a economista teria dito que "o PT é uma merda, mas é meu partido. Ele não presta, mas é meu".

— Eu estou nessa fase. Ele (PT) tem defeitos, mas é o meu partido — afirmou Lula, que defendeu uma proposta de reforma política com a participação popular e o fim do financiamento privado nas campanhas.

O candidato do PT ao governo do Rio, Lindbergh Farias, assistiu ao encontro da primeira fila da plateia. A ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social,Thomas Traumann, também estavam presentes No palco, além de artistas e intelectuais, havia também políticos, como o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia e o presidente do PT, Rui Falcão. Entre os nomes ligados á cultura que marcaram presença no palco do teatro estavam Beth Carvalho, Alcione, Yamandu Costa, Sergio Mamberti, Emir Sader, Elza Soares, Luiz Carlos Barreto, Chico Diaz, Antônio Pitanga, Ana Paula Lisboa, da Agência de Redes para a Juventude, e Pablo Capilé, da ONG Fora do Eixo. Outros representantes da classe artística, como Osmar Prado, Serguei e Sérgio Ricardo ficaram na plateia.

Em evento, Dilma ressalta 'riscos' de Marina

Wilson Tosta e Roberta Pennafort – 0 Estado de S. Paulo

O encontro da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) com artistas e intelectuais, ontem à noite, no Teatro Oi Casa Grande, no Leblon (zona sul do Rio de Janeiro), transformou-se em mais uma manifestação contra os supostos "riscos" que a candidata Marina Silva (PSB) representaria.

"Eu acredito de forma muito especial na democracia. Tem gente aqui que não conheceu a ditadura, mas pra mim a ditadura ainda está aqui na esquina. Nós superamos a ditadura e temos o compromisso de garantir que não se repita. O Brasil precisa com muita força apostar em duas coisas: educação e cultura. Temos a primeira geração de crianças que não passaram fome. Como garantir que não volte atrás? Adotarmos medidas na educação e na cultura. Só temos um jeito de termos recursos suficientes: sabermos de onde saem. Hoje sabemos: do pré-sal", afirmou Dilma. "Quando alguém levanta que o pré-sal não é prioridade, está desconhecendo a realidade. Nós temos que usar o dinheiro para o Brasil. Na Noruega usam pra os aposentados. Nós usamos para educação e saúde, e vai ter dinheiro para a cultura", discursou.

O PT tem afirmado que Marina não vai dar continuidade à exploração do petróleo no pré-sal, porque, em seu programa de governo, a candidata do PSB dedica pouco espaço ao tema.

Dilma criticou também a proposta, defendida por Marina, de tornar independente o Banco Central. "O Banco Central não pode ser independente porque no Brasil só é independente o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. É estarrecedor que se coloque a independência do Banco Central como objetivo de governo. Muito cuidado quando se começa a se criar órgãos tecnocratas de controle. Não é apenas a política monetária que é transferida para o Banco Central independente. Eu fico muito preocupada quando se quer acabar com os bancos públicos", afirmou.

Dilma também criticou a proposta de cortar subsídios, que, segundo ela, acabaria com o projeto "Minha Casa Minha Vida". "Óbvio que quem defende a independência do Banco Central é contra (subsídios)", alfinetou.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou Marina sem citar seu nome: "Não é possível fazer nova política sem dizer como, onde e com quem. Na política não se pode querer só borboleta, sem lagarta. Um dia o Brasil elegeu não um presidente, mas uma vassoura. Um dia elegeu um caçador de marajás, e deu no que deu. Não queremos votar em alguém que seja super do super. Queremos votar em alguém que seja igual a nós", afirmou, referindo-se a Jânio Quadros e Fernando Collor. "Não dá para dizer ''eu vou escolher o ''mió dos miós'', parece jogador de futebol. O melhor é o Congresso, é conversar com o PMDB. A política a gente só muda de dentro da política", discursou Lula, que repetiu várias vezes o termo "mió" numa referência a Marina, que afirma querer governar "com os melhores".

"Não nego a política. Porque em 1978 eu era tão ignorante. Pensava que era esperto. Achava que estava dando o meu ''mió''... Quando perguntavam: ''Lula, você gosta de política?'', eu dizia: ''Não gosto de política e não gosto de quem gosta de política''. E a imprensa falava: ''Que operário puro. Um operário que não gosta de política.'' Três meses depois eu estava fazendo campanha para o Fernando Henrique Cardoso para o Senado. Só se muda a política por dentro da política."

O ex-presidente também criticou a imprensa. "A imprensa começa a perder o respeito quando deixa de cumprir o papel de informar a verdade, seja contra ou a favor. O que não pode é todo santo dia inventar uma mentira contra essa mulher", disse, referindo-se a Dilma. "A imprensa escrita pode fazer o que bem entender, desde que não precise de dinheiro do governo para sobreviver. O que não é possível é as concessões do Estado (televisões e rádios) terem o comportamento que têm. Não sou de me queixar. Vocês nunca me viram lamentando. Mas não lembro de uma revista falar bem de mim", completou.

Lula também criticou a Rede Globo por não permitir mais que seus artistas participem de campanhas eleitorais. "Parece que só se não estiverem fazendo novela", disse. O auditório lotado explodiu, gritando em coro: "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". Outro coro do público foi "Ô ô ô, Marina é só caô, Marina é só caô".

Antes de Lula discursaram o teólogo Leonardo Boff, o cantor Chico César e a filósofa e professora Marilena Chauí. "Essas eleições estão polarizadas de uma maneira que de um lado é o rumo certeiro e de outro é uma aventura regressiva. Não é apenas uma regressão, mas a aventura que ela significa. O povo deve ser esclarecido. Que essa aventura não seja um tsunami a destruir anos de evolução política, econômica e cultural. O Lula tem que chegar ao povo e mostrar isso", disse Marilena.

"Estou aqui para apoiar as conquistas de 12 anos. Com Lula e Dilma se fez uma revolução pacífica e democrática que nunca houve no nosso país. Revolução é dar um novo rumo à vida do país. Ela não pode ser perdida e desfeita. Não houve simplesmente uma alternância de poder, mas de classe social", afirmou Boff.

"Nesses dez anos nós tivemos inclusão social e econômica através da cultura. Não podemos nos deixar levar por uma aventura, ou desventura. Sonhar não quer dizer não ter juízo. Os recursos para a cultura não podem estar nas mãos de 3% dos produtores do eixo Rio-São Paulo", discursou Chico César.

O ato foi acompanhado por mais de mil pessoas - o teatro, que estava lotado, tem 926 lugares, e havia muita gente em pé. Entre os presentes estavam os músicos Alcione, Beth Carvalho, Nelson Sargento, Monarco, Wagner Tiso, Rildo Hora, Elza Soares e Otto, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, os atores Chico Diaz, Sergio Mamberti, Luiz Carlos Vasconcelos e Benvindo Siqueira, a escritora e acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira, além da ministra da Cultura, Marta Suplicy, de Juca Ferreira (coordenador do programa de governo de Dilma para a cultura) e Emir Sader, organizador do encontro. Lula, Leonardo Boff, Marilena Chauí, Marta Suplicy e Chico César sentaram-se ao lado de Dilma.

Gabrielli diz que ‘razões e motivações’ para indicação na Petrobrás são do governo

• Em depoimento à Justiça Federal, ex-presidente da estatal afirma que Paulo Roberto Costa ‘era um técnico com tradição na companhia’

Fausto Macedo e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

O ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, declarou à Justiça Federal nesta segunda feira, 15, que “a decisão sobre a composição da diretoria (da estatal petrolífera) é feita no âmbito do governo”.

Gabrielli foi ouvido como testemunha em um dos processos contra o doleiro Alberto Youssef, alvo da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Indagado sobre a nomeação do engenheiro Paulo Roberto Costa para o cargo de diretor de Refino e Abastecimento da Petrobrás, Gabrielli afirmou. “O presidente da Petrobrás é comunicado, as razões e motivações são problemas internos ao governo.”

Paulo Roberto Costa é réu em duas ações criminais da Lava Jato, por lavagem de dinheiro desviado da Petrobrás, no âmbito das obras da Refinaria Abreu e Lima (PE).

A audiência de Gabrielli foi realizada por vídeo conferência em Salvador (BA) – atualmente, ele ocupa o cargo de secretário de Estado do Planejamento da Bahia.

Gabrielli foi arrolado como testemunha pela defesa do doleiro Alberto Youssef, réu em cinco ações penais da Lava Jato.

O ponto central do depoimento de Gabrielli foi a indicação de Paulo Roberto Costa para um das mais importantes cadeiras da estatal.

A PF sustenta que ele chegou ao posto por influência do ex-deputado José Janene (PP/PR), morto em 2010. Janene era sócio de Youssef.

Gabrielli disse que não tinha conhecimento que Paulo Roberto Costa foi nomeado por indicação de Janene. “Isso circulou na imprensa, mas eu não participei de nenhum processo desse tipo”, afirmou o ex-presidente da estatal.

O juiz Sérgio Fernando Moro, que trabalha em Curitiba (PR) e tomou o depoimento de Gabrielli, perguntou a Gabrielli se as nomeações não têm que passar pelo crivo do Conselho de Administração. “No Conselho de Administração é apresentado nome. O Paulo Roberto Costa era um técnico de carreira com uma tradição na companhia. Vinha da área de exploração e produção, não era da área de refino, foi apresentado pelo Conselho e foi aprovado pelo Conselho.”

Aécio aposta em artistas e atletas na reta final

• "As pessoas estão acreditando, não há clima de derrota nem de entrega dos pontos", diz candidato tucano

Maria Lima e Bruno Dalvi* - O Globo

BRASÍLIA e VITÓRIA - Ancorado no histórico de candidatos que viraram o jogo na reta final, o candidato do PSDB, Aécio Neves, ainda aposta em duas linhas de ação na sua campanha de TV para tentar virar o jogo e chegar ao segundo turno: a exibição de esportistas e artistas que o apoiam e a estratégia de carimbar a candidata Marina Silva como o "PT 2".

O clima no comando da campanha melhorou e os coordenadores se apegam à ideia de que essa será uma semana de agenda positiva, com o debate da CNBB hoje e o anúncio de apoios importantes como o de Ronaldinho Fenômeno.

Além de Ronaldinho, outros esportistas, como Zico e o técnico da seleção de vôlei Bernardinho deverão aparecer no programa de TV. Artistas que já vinham aparecendo, como o cantor Fagner, terão mais espaço para popularizar o nome de Aécio em estados onde ele é pouco conhecido. Ao vincular Marina ao PT nas inserções de TV, a campanha tucana busca reconquistar o voto do eleitor que quer derrotar o PT a qualquer custo, e acha que votando em Marina pode derrotar a presidente Dilma Rousseff.

- O eleitor que correu para Marina no impulso, achando que ela poderia derrotar Dilma, agora está tendo tempo de fazer uma reflexão mais ponderada e descobrindo que ela é o PT no poder, é o PT 2. Quando eu viajo, o clima tem sido muito positivo. As pessoas estão acreditando, não há clima de derrota nem de entrega dos pontos - disse Aécio.

Os coordenadores da campanha de Aécio lembram casos de candidatos que lideraram como franco favoritos, embalados por fatores alheios à política, e que na hora "H" se desmancharam. Citam o caso da deputada Cidinha Campos (PDT-RJ), que, em 1992, popular como apresentadora de programas de TV, despontava como franca favorita na disputa pela prefeitura do Rio, mas acabou ficando fora do segundo turno, disputado entre Cesar Maia e Benedita da Silva.

Outro caso é o do empresário Antônio Ermírio de Morais, que, em 1986, chegou a polarizar a disputa pelo governo paulista com Paulo Maluf. Orestes Quércia, que até a véspera da eleição mal aparecia nas pesquisas, bateu os dois.

- Os fatos estão levando a uma melhor reflexão dos eleitores. Estamos confiante na onda da razão - disse o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), candidato a vice na chapa de Aécio.

Para acabar com boatos de que estaria negociando apoio a Marina no 2º turno, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pretende se incorporar à campanha tucana. Ontem ele participou, com Aécio, de jantar organizado pelo empresário João Doria em apoio a Geraldo Alckmin.

Ontem, em visita ao Espírito Santo, Aécio voltou a criticar a política econômica do governo federal e disse que a recessão técnica já provoca impactos na geração de empregos no país. O tucano visitou fábricas de bebidas e móveis em Linhares, no norte do estado, e disse que as micro, pequenas e médias empresas são as que mais sofrem no país.

Aécio almoçou no restaurante de uma das fábricas, acompanhado do candidato do PMDB ao governo do estado, Paulo Hartung, e afirmou que o governo do PT não tem mais condições de retomar o crescimento e gerar novos empregos:

- Esse é o lado perverso da crise econômica que se abateu sobre o país pela absoluta incapacidade do atual governo de enfrentá-la. O governo do PT transformou o país em um Estado unitário, quase todos os municípios dependentes da boa vontade, do bom humor do governo federal e da presidente de plantão. O governo do PT demonizou durante 10 anos as parcerias com o setor privado e o tempo se foi. Os empregos estão fugindo pela perda de competitividade de quem produz no Brasil. A nossa proposta é oposição ao aparelhamento da máquina pública, ao descompromisso com a ética, à incapacidade de fazer o Brasil crescer. (* Especial para o GLOBO )

FHC diz que é possível se perder uma 'eleição ganha'

• Em jantar com empresários, ex-presidente lembra eleição de 1985 para a prefeitura de São Paulo, quando Jânio o venceu de virada, para dizer a Aécio, em terceiro na disputa presidencial, que é ainda é possível vencer

Sonia Racy e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

São Paulo - Principal articulador político da candidatura presidencial de Aécio Neves no PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso usou a derrota que sofreu para Jânio Quadros na disputa pela prefeitura de São Paulo em 1985 para estimular a campanha do aliado, que está estagnado em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. "Eu perdi uma eleição ganha no dia (da votação) para prefeito de São Paulo. Graças a Deus, porque cheguei à Presidência. Talvez não tivesse chegado", disse FHC, nessa segunda-feira, 15. Quis mostrar que, em se tratando de política, tudo pode mudar.

A declaração foi feita em um jantar fechado com empresários e dirigentes tucanos na casa do empresário João Dória, presidente do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) na capital paulista, em homenagem ao governador de São Paulo,Geraldo Alckmin. Na disputa pela prefeitura em 1985, FHC era o franco favorito, mas acabou derrotado por Jânio em uma virada na reta final. "Política não é matemática. Estamos aqui para apelar, e eu apelo mesmo. Essas não são palavras de desespero, mas de convicção. Sem esforço não se vence", disse o ex-presidente. Em sua fala, João Doria também recorreu à derrota de 1985."Que isso sirva de inspiração positiva ao reverso. O Fernando Henrique estava eleito, mas em 48 horas tudo mudou. Até a festa estava pronta. Nunca se chorou tanto em uma noite de festa".

Além de lembrar da inesperada derrota de 1985, FHC fez duras críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff. "Até que ponto vão abusar da nossa paciência? Estamos em uma situação calamitosa, que dá repulsa.

Estão arruinando moralmente o Brasil", afirmou o ex-presidente. Ele disse que ficou "golpeado" e sentiu "mal estar" ao voltar de Chicago no domingo, onde proferiu uma palestra, e ler as revistas semanais com as notícias sobre a delação premiada do ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. Aécio, que tem chamado do caso de "mensalão 2", aposta no episódio para desgastar Dilma e chegar ao segundo turno.

Em um rápido discurso, Aécio citou Guimarães Rosa. "Na vida o importante não é a chegada, nem a largada. Mas a caminhada". Alckmin por sua vez, fez um balanço de seu governo em São Paulo. Durante o jantar, Aécio e FHC dividiram a mesa com o governador paulista. João Doria, o empresário Jorge Gerdau, da Gerdau, Rubens Ometto, da Cosan, Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, e Marcelo Odebrecht, da Odebrecht. Em outra mesa sentou-se José Serra que chegou no meio do evento tendo sido acomodado em uma das mais de 14 mesas no salão, com cerca de 150 pessoas. Também presente, um quase estranho no ninho: o prefeito de Campinas, Jonas Donizetti, que é do PSB, partido de Marina Silva.

PT e PSB exibem seus artistas e intelectuais

Alessandra Saraiva, Guilherme Serodio e Cristiane Agostine – Valor Econômico

RIO e SÃO PAULO - Em busca de apoio e declaração de voto no meio cultural, as candidatas à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) marcaram para o mesmo dia eventos com artistas e intelectuais.

Na noite de ontem, Dilma reuniu-se com dezenas de artistas e intelectuais no Rio de Janeiro, no Teatro Casa Grande, no bairro do Leblon. Ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente dividiu o palco com Leonardo Boff, Alcione, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Elza Soares, Nelson Pereira dos Santos, entre outros. No evento, com ingressos vendidos pelo PT, estavam também João Pedro Stédile, Ivana Bentes, Samuel Pinheiro Guimarães e Maria da Conceição Tavares. Na eleição de 2010 houve evento similar.

Lula criticou o discurso de Marina e disse que não é possível falar em nova política sem dizer como, onde e com quem governar.

O ex-presidente defendeu um plebiscito para fazer a reforma política mas falou que "até lá, se formos eleitos, vamos governar com quem for eleito, com PT, PMDB". Lula se disse contrário à doações de campanhas por empresas e afirmou que o financiamento privado deveria ser crime inafiançável.

Antes do encontro, artistas e intelectuais divulgaram pela internet um manifesto pró-Dilma. Com o título "Primavera dos Direitos de Todos; Ganhar para Avançar", o manifesto é assinado por 68 nomes que vão desde o cantor Chico Buarque até intelectuais como os escritores Paulo Lins, Fernando Morais e Luis Fernando Verissimo.

O documento foi redigido com o apoio de diferentes grupos ligados à cultura e por intelectuais próximos ao PT como o sociólogo Emir Sader e o ex-ministro da Cultura do governo Lula Juca Ferreira. No manifesto, os intelectuais detalham que a corrida presidencial irá definir se o caminho que o país se encontra desde 2003, no começo da gestão do PT na Presidência, é positivo ou não. Na análise dos que assinaram o manifesto, "nunca o Brasil havia vivido um processo tão profundo e prolongado de mudança e de justiça social". No texto, a classe artística e intelectual admite que o país precisa de mudanças e cita as manifestações de rua. No entanto, a avaliação é que o país precisa "mudar avançando e não recuando".

A ensaísta e pesquisadora na área de comunicação e cultura Ivana Bentes, uma das signatárias do manifesto, afirma que o documento tem o objetivo de pressionar a candidatura do PT para se reaproximar do setor cultural. Para Ivana, Dilma é a candidata com mais possibilidade de dialogar e ser influenciada por pressão política pelo setor. "O projeto do PT não se esgotou, está aberto ainda e é capaz de ter vitórias públicas mais radicais", diz, citando o que classifica como conquistas recentes do setor, tais quais a aprovação da Lei Cultura Viva, do Marco Civil da Internet e a regulamentação das ONGs.

"São políticas públicas na área da cultura que efetivamente apontam para o rumo que o Minc [ministério da Cultura] estava tomando na gestão [Gilberto] Gil e Juca [Ferreira]", justifica.

Horas antes do evento de Dilma no Rio, Marina reuniu-se em São Paulo, na tarde de ontem, com representantes da classe artística e intelectual, em um evento com nomes menos conhecidos no plano nacional. No encontro na Casa das Caldeiras, estavam o cineasta Fernando Meirelles e o cantor Dinho Ouro Preto, além de representantes de 20 áreas da cultura, como literatura, artesanato, artes plásticas, música e cinema. O evento foi organizado por Gisela Moreau, uma das responsáveis pela parte cultural do programa de Marina.

Amanhã, a candidata do PSB também deve fazer um evento no Rio com artistas, que deverá ter mais nomes de peso no cenário cultural nacional. Ontem, Marina se encontrou com o cantor Gilberto Gil, que apoia a candidata. Em um telão, a campanha exibiu depoimentos de artistas como o ator Marcos Palmeira, o cineasta Silvio Tendler, o músico Arrigo Barnabé e os cantores Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto.

Pedro Ivo, um dos principais articuladores da campanha de Marina, minimizou o fato de a plateia, com cerca de 250 pessoas, não ter muitos artistas conhecidos nacionalmente. "O evento é para a discussão do programa de governo. Aqui estão pessoas que ajudaram a construir as propostas", disse.

Marina lembrou sua atuação no teatro e arrancou risos ao dizer que representou um cacto em "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Mello Neto, e a personagem Chita, em outra peça. Marina falou também que fez curso de corte e costura e de seu gosto pelo artesanato.

Em crítica a Dilma, Marina disse que tem muita gente fazendo arte na política, "mas naquele outro sentido". "A arte de acabar com a Petrobras", afirmou.

Marina disse ser vítima das mesmas acusações feitas contra Lula em campanhas passadas. "Ele [Lula] já tinha vivido uma experiência parecida com a que estou vivendo agora em que um caçador de marajás disse que Lula era um exterminador do futuro. E quem tivesse dois quartos na casa, o Lula ia botar uma família. E se você tivesse uma Bíblia nas igrejas, pode esconder em algum buraco porque o Lula vai tomar suas Bíblias", afirmou. Em seguida, a candidata disse que percorreu vários Estados defendendo Lula.

Marina desmentiu boatos de que, se eleita, acabará com programas federais. Disse que só seriam extintos se ela fosse o "exterminador do futuro". "Vocês acham que isso é um ser humano? Só se fosse exterminador do futuro. Estão subestimando a inteligência da sociedade brasileira", disse. "Chegou a vez de ganhar a Presidência da República não com base na mentira, na calúnia, na desconstrução, até porque essa já foi feita pelo Collor contra o Lula", disse.

O 'não' das ruas mede sua força nas urnas

• Protestos de 2013 cobram novos rumos aos políticos, mas falta saber se terão apoio do eleitorado

Roldão Arruda - O Estado de S. Paulo

Há quase duas décadas os dois principais partidos do País, PSDB e PT, se arvoram como autores de grandes mudanças no País. Nas campanhas eleitorais até disputam entre eles o título de campeão das transformações. Em junho do ano passado, porém, petistas e tucanos, assim como líderes de todos os outros partidos, do governo, das centrais sindicais, movimentos sociais, associações, sociólogos, institutos de pesquisa, enfim, tudo aquilo que tradicionalmente pensa representar ou entender o povo brasileiro, foi surpreendido com uma inesperada e descomunal manifestação pública. Por todo o País, centenas de milhares de pessoas foram às ruas manifestar seu descontentamento com o atual estado de coisas no País - do preço do bilhete do metrô à falta de representatividade dos políticos, numa pauta ciclópica que também incluía o desconforto com a corrupção e a falta de respeito a direitos civis.

De maneira geral, foi uma manifestação de profundo mal estar. Como se as ruas dissessem que o País mudou sim, mas não na amplitude nem na velocidade necessárias e desejadas.

De lá para cá se produziram centenas de estudos tentando explicar e entender o que houve. Agora, com a campanha eleitoral, procura-se avaliar que efeito as manifestações podem ter no resultado das eleições. Alguns candidatos estariam mais aptos que outros a galvanizar o voto das ruas?

Em entrevista ao Estado, o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho, que acaba de relançar o livro Cidadania no Brasil - O Longo Caminho, um clássico da sociologia brasileira, no qual incluiu um prefácio dedicado especialmente à análise do que ocorreu em 2013, observou que nunca na história do País se viu um movimento de massas como aquele, o que torna mais difícil sua análise. "Pelo menos cinco caraterísticas o tornaram inédito", disse ele. "Foram a imprevisibilidade, ausência de lideranças claras, multifocalidade, vinculação às redes sociais e postura totalmente anti-establishment."

Ao comentar a rejeição dos manifestantes a bandeiras de partidos, de qualquer coloração ideológica, o historiador disse tratar-se de um "sintoma de insatisfação generalizada com o funcionamento de nossa democracia representativa, de suas instituições e operadores". Mais especificamente sobre o impacto na eleição desse ano, afirmou que ele existe e está claro na rápida ascensão de Marina Silva, do PSB.

"É a candidata mais identificável, com ou sem razão, com a oposição 'a tudo isso que está aí'", assinalou "A queda simultânea das intenções de abstenção e voto nulo mostra que houve migração de desencantados para a candidatura dela."

Estorvo. Paralelamente, porém, Carvalho observou que Marina tem problemas para assimilar de maneira ampla o que foi dito nas ruas. Um exemplo seria a dificuldade dele com a defesa dos direitos de minorias sexuais, como gays e lésbicas. " São direitos novos que vão surgindo e adquirindo legitimidade. É um reforço da liberdade individual, valor básico da modernidade ocidental. Paradoxalmente, é também um estorvo para Marina e suas convicções evangélicas", afirmou.

O sociólogo e professor Wagner Iglecias, da Universidade de São Paulo (USP), tem opinião diferente. Na avaliação dele, as manifestações de junho de 2013 não estão tendo impacto na eleição deste ano. "Observando os resultados das pesquisas de intenção de voto para a Presidência e os governos estaduais, não vejo resultados residuais. A presidente Dilma Rousseff lidera a corrida para a Presidência, no Rio se destacam o Anthony Garotinho e o Pezão, que é o candidato do Sérgio Cabral, aquele mesmo que teve um acampamento dos manifestantes diante de sua casa. Em São Paulo aparece o Alckmin. São figuras tradicionais da política que vão se reeleger mais uma vez", disse. "Há um descasamento entre o que ocorreu nas ruas e o que a população manifesta nas pesquisas. 

Esperava-se uma renovação maior dos nomes nas urnas, mas, do que se viu até agora nas pesquisas, não vai haver o grande sopro de renovação, de oxigênio, que se esperava."

Marina Silva, na avaliação dele, captura parte da insatisfação manifestada naqueles protestos, mas não totalmente. "Ela também conta um voto evangélico, conservador, que provavelmente não estava protestando nas ruas em 2013."

Uma das hipóteses apontadas pelo sociólogo para essa falta de sintonia está nos políticos, segundo Iglecias:

"Tudo indica que nenhum político conseguiu ainda garrar as bandeiras das ruas, ninguém da classe política conseguiu vocalizar inteiramente o que os manifestantes queriam."

'Sentimento antipolítica está maior'

• Entrevista. Jairo Nicolau
Cientista político, professor da URFJ e especialista em sistemas eleitorais

Wilson Tosta – O Estado de S. Paulo

RIO - Com a possível adoção do financiamento público de campanhas eleitorais, o Brasil flerta perigosamente com a abertura de uma nova "avenida para a corrupção", diz o cientista político Jairo Marconi Nicolau. Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o pesquisador vê as atuais dificuldades de fiscalização da Justiça Eleitoral como advertência para os novos problemas que o País terá se fizer essa opção de custeio da política.

Nicolau também afirma que o Brasil pode estar passando por uma grande modificação na relação entre cidadãos e partidos, nítida nas manifestações de junho de 2013. A crise, porém, não é exclusividade brasileira, declara. Em todo o mundo, partidos perdem filiados e viram entidades profissionais. Por trás do fenômeno está o avanço das tecnologias digitais. Elas permitem a formação de grupos que se organizam online. "Por que vão sair de casa para uma reunião na sede do partido?", questiona Nicolau.

Vivemos uma crise de representação política no Brasil?

Este diagnóstico apareceu com força depois das manifestações de junho de 2013. Um sentimento antipolítica, de críticas ao Legislativo, se intensificou. Lembro que um dos bordões das manifestações era "partidos não". Será que os partidos brasileiros estão mesmo em crise? Temos 32 partidos com registro definitivo. Mas os partidos deixaram de ser os canais fundamentais de comunicação e socialização política que foram. Talvez estejamos passando por uma mudança mais profunda na relação dos cidadãos com os partidos.

Existe alguma democracia com tanta fragmentação partidária como o Brasil?

Existem muitos países que têm mais partidos do que o Brasil. Na Espanha, para dar um exemplo, existem dezenas de partidos, a maioria de âmbito estadual e local. O problema do Brasil não é que tenhamos partidos demais. É que os partidos têm acesso franqueado aos recursos do Fundo Partidário e ao horário eleitoral gratuito. O caso extremo é dos partidos criados nesta legislatura. Nem sequer participaram de uma eleição e já garantem recursos para a campanha. PSD, PROS e Solidariedade não podiam receber nada. Tinham de passar a primeira eleição a seco e, depois de mostrar um desempenho mínimo nas urnas, receberiam recursos.

Os partidos perderam a comunicação com a sociedade?

Sem dúvida. O partido é uma organização que se tornou cada vez menos atraente. Não só no Brasil. Esse fenômeno é mundial. Nas democracias tradicionais, o número de pessoas filiadas a partidos declina anualmente. Partido, como conhecemos, foi inventado no século 19, teve seu apogeu como organização de comunicação política no século passado. Estamos no século da interação online, as pessoas podem fazer um grupo nas redes sociais, blogs, e comunicam-se com centenas, às vezes milhares, de pessoas. Defendem causas, oferecem cursos, compartilham documentos, conversam entre si. Por que vão sair de casa uma vez por semana para uma reunião na sede do partido? A militância presencial, clássica, cultivada pela esquerda do século 19 e pelos partidos de massa, parece fadada a acabar.

O que poderia ser feito para tentar melhorar a qualidade da representação?

O principal desafio é aprovar uma nova forma de financiamento. O STF (Supremo Tribunal Federal) praticamente já decidiu pelo fim do financiamento por empresas. Infelizmente, estamos convergindo para uma proposta que me parece de alto risco, o financiamento público exclusivo. O tempo de televisão e o financiamento dos partidos já vêm do Estado. Agora, vamos estatizar as campanhas? O financiamento público tem dois riscos. Um primeiro é afastar os partidos ainda mais da sociedade. No Brasil eles estão se tornando organizações quase paraestatais. O segundo risco é que seja aberta mais uma avenida para a corrupção. Acho temerário o formato de dar dinheiro, milhões de reais, aos partidos, antes das eleições, em um modelo como o nosso, em que a Justiça Eleitoral não tem capacidade de fiscalizar as contas.

Mas aí cai-se na reforma do sistema de votação, não?

Justamente, a lista aberta é um sistema que dificulta o controle das contas. Como é que você vai prestar contas, em uma campanha com tantos candidatos? Podemos abrir novas portas para o financiamento ilegal. Por isso temos de fazer uma discussão séria e aprender com a reforma feita em outros países, tal como a França fez nos anos 1990, quando proibiu a doação de empresas. Mas não tenho dúvida de que a combinação de lista aberta com financiamento público é péssima. A decisão do STF sobre o financiamento, a crise de confiança nos partidos e os resultados desta eleição, em que prevejo um crescimento acentuado de brancos e nulos para o Legislativo, recolocam o debate da reforma política em outras bases.

De súdito a eleitor: o voto no Brasil

• A longa marcha de 500 anos pelo direito de votar

Wilson Tosta - O Estado de S. Paulo / Rio

Regime representativo e democracia viveram um percurso longo e acidentado até a consolidação das instituições políticas que hoje governam o Brasil. Desde que os portugueses aportaram no País, uma sucessão de formas de governo foi implantada e derrubada - ao longo desses 514 anos O País foi colônia portuguesa, depois monárquico, presidencialista, parlamentarista e, de novo, presidencialista - e o brasileiro passou de súdito e vassalo do reino a cidadão e eleitor. Viveu, já no século 20, duas ditaduras, sofreu golpes bem-sucedidos e quarteladas fracassadas. Viu períodos de turbulência e épocas de calmaria institucional. Do ponto de vista formal, ele vive hoje o mais amplo regime democrático de sua história, com regras estáveis e ampla participação eleitoral. Esse desenho institucional, no entanto, dá sinais de esgotamento, nítidos nas passeatas de junho de 2013.

Vota-se no Brasil desde o século 16. Mas voto e participação eleitoral ampla levariam cerca de 400 anos para se encontrar no País. Na Colônia, uma minoria de "homens bons" - nobres, senhores de engenho, militares de alta patente - eram os únicos aptos à eleição para os cargos nos "Senados das Câmara". Eram legislativos municipais, órgãos com atribuições locais.

A maioria da população, formada por índios e escravos negros, além de mulheres e jovens, ficava fora da política. Que era limitada: o território brasileiro era governado por mandatários (governadores-gerais, vice-reis) nomeados por Portugal. Nada mudou com a vinda de D. João, em 1808, e a elevação do Brasil a Reino Unido, em 1815.

Livre de Portugal em 1822, o País seguiu caminho diverso dos vizinhos. Não se tornou uma república. Manteve a monarquia, sob Pedro I. Ele fechou pelas armas a Assembleia Constituinte e outorgou uma Constituição em 1823. A primeira Carta tinha instituições que, mesmo impostas, eram novidade no País.

"Com a Independência, o País vai deixando de ser absolutista e vai entrando no regime representativo liberal", diz o professor Marco Morel, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). O voto, contudo, distanciava o "povo" de quem deveria representá-lo. Era em dois graus (votantes escolhiam eleitores, que votavam para os cargos eletivos). Somente no fim do Império a votação passou a ser em apenas um nível. Também era censitário: só podia votar quem tinha certa renda mínima. Riqueza também limitava acesso aos cargos.

‘Facções políticas’. Mesmo com tantos controles, o sistema não estava isento de conflitos. Facções políticas usavam capangas - alguns eram capoeiras, das maltas que percorriam as ruas do Rio, por exemplo - para atacar adversários, intimidar eleitores e fraudar eleições. Líderes dessas ações, entre eles oficiais da Guarda Nacional, dominavam a máquina pública, a polícia, o Judiciário. O voto não era secreto, a fraude era aberta. Quanto acontecia a "viradeira", mudança de partido no governo, milhares perdiam e milhares ganhavam emprego público, em todo o País.

Em 1847, já no Segundo Reinado, sob Pedro II, o País passou a ter um presidente para o Conselho de Ministros, indicado pelo imperador, o chefe do Poder Executivo. Na forma, o regime tornou-se parlamentarista. Mas as peculiaridades eram muitas. Uma era a existência de um Poder Moderador, acima dos Três Poderes, exercido pelo monarca, para evitar conflitos. "O Poder Moderador era uma teoria do pensador francês Benjamin Constant", diz Morel. "Mas, na prática, acabou sendo um reforço ao Executivo." O imperador podia dissolver o parlamento, convocar novas eleições, demitir o primeiro-ministro. Províncias não eram autônomas; o governo nomeava e demitia seus presidentes.

República. A Guerra da Tríplice Aliança, com o Paraguai, em 1870, acelerou o desgaste do regime imperial. Em 15 de novembro de 1889, militares do Exército, com a participação de jovens oficiais positivistas, proclamaram a República. A Constituição de 1891 aboliu o voto censitário. Proibiu o analfabeto de votar. O modelo era inspirado nos Estados Unidos, com presidente forte, eleito pelo voto direto, e parlamento bicameral.

As províncias viraram Estados autônomos, com governadores (presidentes, como eram chamados) eleitos por voto direto. Os ex-oficiais da extinta Guarda Nacional mantiveram o poder nas localidades, em um sistema de troca favores que chegava aos governos estaduais e, destes, à Presidência.

A Revolução de 1930, que impediu a posse do presidente eleito, Júlio Prestes, encerrou o período. Após a Revolução Paulista de 1932, uma Constituinte promulgou a Constituição de 1934. Não vingou: ela morreu em 1937, abatida pela ditadura do Estado Novo, com Getúlio Vargas.

O fim desse autoritarismo, em 1945, gerou uma república democrática populista. Tinha presidente eleito pelo voto direto e direitos sociais remanescentes da ditadura getulista anterior. A proibição do voto dos analfabetos, porém, manteve a maior parte dos brasileiros longe das urnas.

Em um período crítico da Guerra Fria, a agitação do período, capitaneada pela UDN (União Democrática Nacional) e com participação de militares conservadores, gerou ações golpistas. Uma das mais graves ocorreu em 1961, com a renúncia do presidente Jânio Quadros. Com o vice, João Goulart, com fama de esquerdista, no exterior, amplo setor das Forças Armadas amotinou-se contra a posse.

Golpe. A solução para evitar um conflito mais grave foi o parlamentarismo. Nele, Jango foi empossado, mas sem poderes. Um plebiscito em 1963 trouxe de volta o presidencialismo. Militares e grupos conservadores reagiram com o golpe de 31 de março de 1964.

Foram 21 anos de ditadura - e a volta dos civis ao poder, em 1985, levou à adoção de nova Constituição em 1988, que conduziu o País a um ciclo institucional estável, democrático e com ampla participação eleitoral (hoje, votam 142 milhões dos 202 milhões de brasileiros). O alcance real dessa democracia, porém, é questionado: parte da população indaga quem se beneficia das instituições. Assim como os protestos de junho de 2013 perguntavam "Copa para Quem?", outra questão, "Democracia para quem?", parece assombrar a democracia brasileira.

A onda da razão: ITV

• Um país na condição em que o Brasil está não comporta amadorismos, nem aceita que o modelo baseado na pilhagem e na truculência persista. É chegado o momento da razão

A campanha presidencial deste ano está presa em uma mistura de mistificações e empulhações. Faltando 20 dias para a votação que definirá o futuro do país pelos próximos quatro anos, está na hora de o debate espelhar a gravidade da situação que o Brasil enfrenta. É chegado o momento da razão.

Líder nas pesquisas, Dilma Rousseff protagoniza uma das campanhas mais sórdidas já vistas na história do país. Suas peças publicitárias são apelativas e o Brasil que sua propaganda no rádio e na TV veicula é uma mentira sem qualquer ligação com a realidade.

A candidata-presidente não parece nem um pouco preocupada com isso. Em suas declarações públicas, reforça o tom enganoso que os marqueteiros petistas imprimiram a suas criações carentes de escrúpulos. Ontem, por exemplo, disse que um Banco Central autônomo "tira comida e perspectiva da vida das pessoas". O grau de obscurantismo da campanha petista não tem limites.

Por outro lado, Marina Silva não demonstra capacidade de garantir que um eventual governo seu teria pulso para levar o país de volta ao prumo. Suas convicções não resistem a contestações e as visões internas de seu gruo político são fragmentadas, contraditórias.

Um exemplo é o tratamento a ser dado à inflação. Um de seus principais assessores econômicos defendeu o aumento da meta de inflação do próximo ano, num momento em que o país se vê prejudicado pela leniência da gestão atual, que deixou o custo de vida escapar de controle e namorar perigosamente o teto da meta.

Ontem, Marina desautorizou a posição defendida por Alexandre Rands, que foi obrigado, inclusive, a divulgar nota à imprensa explicando-se. Foi mais um lance do estica-e-puxa que marca a candidatura do Partido Socialista, acossado por suas contradições e incongruências.

A difícil situação em que o país se encontra não admite experimentos arriscados, nem tampouco permite que perseveremos na direção equivocada em que a gestão petista nos enfiou. Para o bem dos brasileiros, a importante decisão a ser tomada em 5 de outubro próximo deve se guiar pela razão.

Um país na condição em que o Brasil está não comporta amadorismos, nem aceita que o modelo baseado na pilhagem e na truculência persista. Uma nação com a importância do Brasil não pode ficar à mercê da inexperiência de Marina Silva, nem continuar refém da incapacidade de Dilma Rousseff.

É hora de a onda da razão levar o país de volta a um bom caminho, à mudança segura, à transformação qualificada. É hora de os brasileiros caminharem juntos, unidos, para eleger Aécio Neves e reconquistar a confiança num futuro melhor que todos querem e a nossa gente merece.

Merval Pereira: A mais difícil

- O Globo

A 19 dias do primeiro turno, tudo indica que o PT ter á a eleição mais difícil desde 2006, quando surpreendentemente o candidato do PSDB Geraldo Alckmin teve uma votação não prevista pelas diversas pesquisas. Recebeu no primeiro turno 41,5% dos votos válidos, contra 48,5% de Lula. Pesquisa Datafolha previa uma situação próxima do empate técnico no início do segundo turno: Lula tinha 49%, contra 44% de Alckmin.

Depois de uma campanha desastrosa no segundo turno, quando caiu na armadilha petista sobre privatizações e fantasiou-se com os logos das estatais para mostrar quão estatizante era, Alckmin foi menos votado do que no primeiro turno e terminou a eleição com 39% dos votos. Desta vez, a vantagem de Dilma no primeiro turno é semelhante à daquele ano, mas no segundo turno é Marina, que está na frente até o momento, embora em situação de empate técnico mais clara ainda. Hoje sai mais uma pesquisa Ibope, que pode trazer novidades. Os truques petistas estão sendo repetidos eleição após eleição: os adversários acabarão com o Bolsa Família, privatizarão todas as estatais .

Está um pouco mais difícil obter eficácia desta vez, seja pelo desgaste do truque, seja porque é mais complicado colocar um rótulo de exploradora insaciável em uma ex-companheira petista, negra e de origem humilde. Por isso a "elite branca" está identificada na pessoa de Neca Setubal, que o PT chamava de educadora quando participou de um debate para montar a proposta de governo de Fernando Haddad na prefeitura de São Paulo, e agora chama de banqueira por ela estar coordenando o programa de Marina. O PT assume o papel de protetor dos pobres e oprimidos nas campanhas eleitorais e, no governo, coloca um banqueiro internacional oriundo do PSDB, Henrique Meirelles, para tomar conta do Banco Central. Na propaganda do PT , os banqueiros são seres asquerosos que só querem roubar a comida das criancinhas.

Na sabatina com a presidente Dilma, estranhei que ela tenha acusado sua adversária Marina de ser "sustentada" por banqueiros, e ela respondeu que se baseava no que era noticiado, que Neca Setubal havia sustentado a criação do instituto de Marina. Seria a mesma coisa que dizer que o ex-presidente Lula é sustentado por empreiteiras, que pagam a maioria de suas palestras no exterior e ajudaram a financiar seu instituto. O que o PT faz é tentar manipular o eleitorado, criando fantasmas, como ontem na fracassada demonstração diante do prédio da Petrobras a favor do pré-sal.

Foi-se o tempo em que o povo aderia aos seus chamados. O que se via mais ontem eram sindicalistas guiados pelas centrais sindicais que o governo sustenta, aí, sim, com verbas generosas, e pode acionar a qualquer momento para suas demonstrações de força. O "abraçaço" na Petrobras não mobilizou a população, porque as acusações de corrupção petista na estatal estão bem divulgadas e documentadas, impedindo que se alastrem as acusações distorcidas com relação ao pré-sal. Mas a disputa assimétrica do momento só ser á equilibrada no segundo turno , se Marina chegar lá e obtiver re cursos para os 20 dias de campanha com o tempo igual de propaganda oficial ao da sua adversária .

A presidente Dilma tem a vantagem de ter sua imagem já incorporada à liturgia do cargo, apesar de sua fala não conter um mínimo de coerência com essa mesma liturgia. Mas sua presença é permanente, e Marina terá que mostrar que sua figura franzina esconde uma liderança carismática. Suas conexões com os principais líderes internacionais devem servir para mostrar, especialmente para o eleitorado menos esclarecido, que ela não é uma "pobre coitadinha" despreparada, que não aguenta os percalços de uma campanha presidencial, como insiste em dizer a presidente Dilma. O debate frente a frente também será esclarecedor para a definição do eleitorado.

Eliane Cantanhêde: Me engana que eu gosto

- Folha de S. Paulo

Marketing é coisa de gênio e nós, meros mortais, não somos gênios. Mas também não precisam tratar os 145 milhões de eleitores do país como idiotas.

Querer vender Marina como "elite branca", quem sabe como "elite branca de olhos azuis", quem sabe até como "elite branca de olhos azuis do capitalismo paulista", vai colar?

Depois do sociólogo, do migrante nordestino e da primeira mulher, faz sentido uma mulher negra, saída dos cafundós do Acre e alfabetizada a duras penas aos 16 anos. Um "Lula de saias". Daí o pânico da campanha de Dilma. O poder da imagem de Marina, a força da sua simbiose com a maioria do povo brasileiro.

E lá vem Dilma e sua propaganda deformando a cor, a cara, a imagem, a história e as intenções de Marina, adulterada como representante de banqueiros e um perigo para o prato de comida dos pobres. E lá vem João Pedro Stedile, do MST, ameaçando invadir tudo, todo dia, se ela vencer. É a implosão da Marina real e a construção da Marina "de direita".

Será que os eleitores brasileiros somos tão imbecis, caímos como patinhos em qualquer lorota? Ou será que só cai quem é manipulável e quem está pendurado nas boquinhas e verbonas, na promiscuidade entre o público e o privado? Para cair no engodo, na "genialidade" da propaganda, só por ignorância ou por má-fé, pura e simples.

Se Lula saiu de um casebre do interior de Pernambuco, Marina emergiu de um seringal do Acre. Se Lula fez curso de torneiro mecânico, Marina teve de lavar chão para formar-se em história. Se Lula se tornou o grande líder sindical no Sul Maravilha, Marina impõe-se na órbita do ambientalista Chico Mendes.

A diferença é que Lula se rendeu aos lucros estratosféricos do setor financeiro, aos jatinhos das empreiteiras, às vantagens camaradas para filhos e noras e aos convescotes das oligarquias políticas mais atrasadas. Logo, o candidato dos sonhos dos banqueiros não é Marina. É Lula.

Luiz Carlos Azedo: Mergulho em águas profundas

• O furor nacionalista de Lula e Dilma contra Aécio e Marina tem por objetivo lançar uma cortina de fumaça em relação aos descalabros ocorridos na Petrobras, cujas ações nunca estiveram tão desvalorizadas

Correio Braziliense

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comandou ontem uma manifestação de sindicatos, organizações estudantis e do MST em defesa da exploração da camada pré-sal e da Petrobras, na mítica Cinelândia, palco de protestos dos cariocas. Desde a histórica campanha “O petróleo é nosso”, desencadeada por militares nacionalistas e militantes comunistas na década de 1950, mas que acabou tendo o apoio da UDN, a Petrobras é um símbolo do patriotismo dos brasileiros.

Já na semana passada, Lula assacara contra os adversários acusações de que são contra a Petrobras e o pré-sal. No caso do senador Aécio Neves, candidato do PSDB, o PT exuma a falsa acusação de que os tucanos sempre pretenderam privatizar a empresa, o que serviu para derrotar Geraldo Alckmin em 2006. No caso de Marina Silva, Lula acusa a candidata do PSB de pretender abandonar a exploração do pré-sal por ser a favor de fontes de energia limpa. Empolgado, Lula chegou a dizer que mergulharia no fundo do mar para explorar o pré-sal.

A manifestação de ontem, que começou na porta da empresa, porém, nem de longe lembra as da campanha nacionalista que levou o presidente Getúlio Vargas, pouco antes de seu suicídio, a criar a empresa. Com militantes mobilizados por sindicatos de petroleiros e de metalúrgicos filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e estudantes arregimentados pela União Nacional dos Estudantes (UNE), que teriam recebido R$ 100 de ajuda de custo e foram levados em ônibus fretados, foi um ato cenográfico. Sob medida para ser exibido no programa eleitoral de Dilma Rousseff, como se o povo estivesse nas ruas defendendo o pré-sal.

Se isso fosse realmente necessário, em circunstâncias normais, não seria preciso mobilizar ativistas da Baixada Santista e do ABC para engrossar a manifestação. Cariocas e fluminenses lotariam a Avenida Rio Branco, da Candelária à Cinelândcia, para defender a Petrobras. O esforço de logística ocorreu porque o Rio de Janeiro não é o melhor lugar para o ex-presidente Lula e a presidente Dilma falarem do pré-sal. Simplesmente porque o estado foi tungado pela União nos royalties de petróleo, durante o governo Lula, com a participação entusiasmada de Dilma.

Cortina de fumaça
A mudança do regime de concessão para o de partilha, responsável pela redistribuição dos royalties de petróleo, foi o maior responsável pelo atraso na exploração do pré-sal em camadas profundas. Os poços do pré-sal em exploração atualmente estão a profundidades mais ou menos equivalentes aos poços do pós-sal. Não exigiram um esforço extraordinário de investimento e tecnológico da Petrobras.

O único leilão realizado para explorar petróleo do pré-sal em águas profundas ocorreu no ano passado, e por pouco não foi um fracasso. Patrocinado pela presidente Dilma, sob protestos do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro, o certame foi realizado na Barra da Tijuca, bem longe da Cinelândia, sob forte esquema de segurança, que mobilizou tropas do Exército, embarcações e helicópteros da Marinha para conter os protestos dos funcionários da empresa.

O leilão do Campo de Libra correu sério risco de virar o maior fracasso. Foi um jogo de cartas marcadas. O consórcio vencedor, formado pela Petrobras (que ficou com 40% do negócio) e sócios chineses, holandeses, franceses e ingleses, foi articulado pelo Palácio do Planalto. Sem a presença dos chineses, com duas estatais, seria um mergulho sem volta nas profundezas do Atlântico. Tanto assim que nenhum outro leilão foi realizado até agora, embora ontem, coincidentemente, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) tenha anunciado que um novo leilão será realizado em 2015. Não dá para a pôr a culpa na oposição pelo atraso da exploração do pré-sal.

O furor nacionalista de Lula e Dilma contra Aécio e Marina tem por objetivo lançar uma cortina de fumaça em relação aos descalabros ocorridos na Petrobras, cujas ações nunca estiveram tão desvalorizadas, a ponto de estarem muito abaixo do valor do patrimônio da empresa. É que o “petroduto” da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, assombra o PT, seja por causa da compra de Pasadena, no Texas, seja devido às obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, ambas superfaturadas, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU).

Ainda mais agora, que a Justiça Federal liberou para depor na CPI Mista da Petrobras o ex-diretor da estatal Paulo Roberto da Costa, o homem-bomba que pode fazer um strike na política nacional por causa do envolvimento de muitos políticos com ele e o doleiro Alberto Youssef, que estão presos em Curitiba.

Raymundo Costa: Todas as fichas no segundo turno

• Trincheira de Marina não é uma cidadela inexpugnável

- Valor Econômico

Assediada em cada flanco pela campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, a trincheira de Marina Silva aposta numa disputa em igualdade de condições no segundo turno. De acordo com dirigentes da campanha do PSB, o tom da candidata já mudou nos últimos três dias, ficou mais agressivo. Mal deu para notar. Sob fogo cruzado, a cidadela marinista mostrou que não é inexpugnável. A candidata já esteve em posição bem mais confortável nas pesquisas de opinião pública, mas tem abusado do direito de errar. Agora mesmo seus correligionários parecem divididos sobre qual deve ser o tom adequado para enfrentar os ataques encaixados pela bem articulada ofensiva da campanha presidencial. E já não há mais tempo para erros.

Marina errou ao deixar prosperar a ideia de que não considerava o projeto de exploração do pré-sal, carro-chefe do programa (prometido mas nunca divulgado) de Dilma, uma prioridade em seu eventual governo. Uma das peças mais fortes da propaganda do PT, tanto no rádio quanto na televisão, é a fala em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que "quem é contra a riqueza do pré-sal é contra o futuro do Brasil". É inimaginável acreditar que Marina possa ser contrária a aplicação de alguns trilhões na educação, como Lula faz crer, mas bom senso é algo que não se deve esperar do ex-presidente solto no palanque eleitoral.

Marina nunca disse que é contra a exploração do pré-sal, no entanto, a visão que ela tem do futuro do petróleo, um combustível fóssil, certamente não será a mesma de Lula e Dilma. Talvez por isso o engôdo feito pela campanha presidencial tenha alcançado resultados, como mostraram as pesquisas da última semana: Dilma parou de cair e até recuperou pontos perdidos para Marina Silva.

Outro erro da candidata do PSB foi a negligência com que tratou da independência do Banco Central (BC), proposta que herdou de Eduardo Campos, o candidato morto em acidente aéreo em 13 de agosto. A própria candidata não tem certezas definitivas sobre os modelos de independência em estudo em seu comitê. No pior momento, até agora, da disputa eleitoral de 2014, a campanha de Dilma aproveitou-se para relacionar a independência do BC com a ganância dos banqueiros e a falta de comida à mesa dos mais pobres. Deu "aderência" e fez uma mistificação passar por verdade. Colou.

Os irmãos Cid e Ciro Gomes (Pros-CE) entraram no debate no melhor estilo brucutu da dupla, chamando a candidata do PSB de "reacionária" e de "canoa furada". Marina reagiu como a velha Marina: "Em nome da memória de Eduardo, que inclusive foi companheiro de Ciro Gomes, no mesmo partido, nesse dia eu quero oferecer a outra face. A face do diálogo, a face do respeito, a face de quem acredita na democracia".

Gente do ramo, como líderes partidários e publicitários experimentados de outras campanhas eleitorais, duvidam da eficácia do discurso "Marina magoada, Marina sentida". Talvez fosse o momento para a candidata do PSB exalar indignação e ser tão agressiva quanto as abordagens que foram feitas contra ela. Com o discurso da "outra face", Marina Silva pode dar margem às acusações de que se faz de vítima "coitadinha", na falta de melhor resposta às críticas feitas não a ela, mas a seu programa de governo.

Dilma nunca foi tão Dilma quanto na declaração de que "coitadinha" não pode ser presidente. "Ser presidente é aguentar críticas e pressão todos os dias. Tem que ter coluna vertebral. Quem leva críticas para o lado pessoal não vai ser boa presidenta". Falou a Dilma durona do primeiro mandato, a gerentona inflexível com o malfeito com a coisa pública. Antes, Marina havia chorado ao comentar críticas que recebera de Lula: "Eu não posso controlar o que Lula pode fazer contra mim, mas posso controlar que não quero fazer nada contra ele".

Há no entorno da candidata do PSB quem defenda um contra-ataque mais firme a cada investida da presidente da República. O argumento é que a disputa verdadeira é entre governo e oposição. O candidato do PSDB, Aécio Neves, teria se perdido nessa indefinição, pois em vez de atacar o governo, perdeu tempo desejando boas-vindas aos eleitores. O discurso certo seria o que faz Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB e candidato ao Senado pelo Ceará, quando adverte para a gravidade das denúncias de corrupção na Petrobras, que certamente estarão na ordem do dia do Congresso na virada do ano de 2014 para 2015.

A campanha de Marina tem reunião hoje para avaliar o momento da disputa eleitoral. As pesquisas internas apontam para uma disputa entre Marina e Dilma no segundo turno. Uma situação "congelada", o que permite aos aliados da candidata do PSB julgar que Marina perdeu bem menos do que poderia, diante da envergadura do ataque. Além disso, talvez não seja apropriado afirmar que Marina procura se passar por uma "coitadinha". Ela já disse, por exemplo, que está sendo perseguida por ser "filha de pobre, preta e evangélica". Houve época em que se diziam coisas parecidas sobre Lula.

O PSB aposta no "congelamento" das posições até a eleição, o que não deixa de ser arriscado, numa eleição tão volátil. Basta observar que, no Rio Grande do Sul, o candidato a presidente atualmente no terceiro lugar, segundo as pesquisas, ganha no segundo turno da candidata hoje na primeira posição. Mas é certo que depois de 5 de outubro haverá condição de igualdade entre os adversários, cada candidata terá direito a dez minutos de tempo de rádio e televisão na propaganda eleitoral gratuita. Com 2 minutos contra 11, atualmente Marina ou defende ou ataca, sem margem de manobra para fazer as duas coisas. A campanha de Dilma antecipou a disputa de segundo turno, porque precisa virar com uma vantagem maior que a atual; Marina espera por ele, quando espera por apoios e pela migração dos votos de Aécio. Serão 20 dias de angústia.

A modulagem no tom da campanha do PSB pode ser observada hoje à noite, no debate patrocinado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com sinal aberto e transmissão de uma rede de emissoras católicas de televisão.

Míriam Leitão: Presidência e palanque

- O Globo

A presidente Dilma Rousseff deu poucas entrevistas em seu mandato, além das curtas do dia a dia. Agora, abre as portas da confortável sala da biblioteca do Alvorada todo domingo porque isso a leva ao noticiário. Nas sabatinas dos jornais e nas entrevistas de TV, ela precisa apenas descer um andar. Os outros precisam viajar, enfrentar o trânsito para encontrar os jornalistas.

Os empresários começaram a receber um comunicado do comitê financeiro do PT pedindo, em nome da presidente da República, contribuição para a campanha. O que faz um empresário que pode ter um pedido de empréstimo subsidiado no BNDES ou ter como sócio o BNDESPar ou precisar da aprovação de alguma alteração normativa para fechar um negócio?

É difícil separar as duas funções de um candidato no exercício do cargo. Na sabatina do GLOBO, optei por chamá-la de "candidata Dilma" durante a entrevista porque considerei que naquele momento ela estava fazendo o papel de candidata. Isso não a faz menos presidencial, foi apenas um detalhe formal, já que a diferença é que os outros candidatos enfrentaram na semana passada um trânsito infernal no Rio, que consumia de uma hora e meia a duas horas para quem saía da Zona Sul. Já chegavam em cima da hora, pedindo água, ou chá, no caso de Marina.

Dilma desceu lépida apenas um andar e chegou dez minutos antes de começar a conversa, podendo quebrar o gelo. A água era servida pelos funcionários da Presidência. Como chegamos mais cedo para montar tudo, pudemos andar pela ampla sala com um valioso quadro de Di Cavalcanti, belos tapetes persas e livros de capa dura que embelezam a estante que cobre toda a parede. Tudo lembra um ambiente de leitura e reflexão. Essa estante seria o fundo a ser visto durante as duas horas da entrevista. Um dos livros que vi estava escrito na lombada: Lincoln. Todo o ambiente é presidencial.

Não foi o PT que aprovou a reeleição. Quem a inventou foi o PSDB, mas o candidato Aécio Neves disse na entrevista que a reeleição é uma "covardia", pelos recursos oferecidos ao governante. Ele se reelegeu governador, sabe a desproporção de forças. O uso da máquina não acaba se não houver reeleição porque o ocupante do cargo terá sempre um candidato, mas pode ser menor. Num país que ainda não amadureceu os limites institucionais, a reeleição é inconveniente. Uma experiência que não deu certo.

Órgãos de governo atrasam dados desagradáveis e antecipam os bons. Assim, o Inpe deveria ter divulgado em maio o dado definitivo do Prodes, o sistema que consolida as informações de desmatamento. Só foi divulgado por pressão de ambientalistas. Confirmou-se que o desmatamento, em queda desde 2004, subiu 29% em 2013. Este ano, apesar da recessão, os primeiros dados do Deter mostram que continua subindo.

A Aneel adiou para novembro o envio da carta a seis milhões de consumidores que podem perder a tarifa social de energia. O governo decidiu jogar para 2015 o sistema de "bandeiras tarifárias" que seria implantado este ano e que elevaria o preço da energia quando se usasse mais térmicas. É uma forma de sinal amarelo para o consumidor, que poderia poupar água nos minguados reservatórios. O Ministério da Educação atrasou a divulgação dos dados sobre o baixo desempenho educacional do Brasil. Mas o que impediu a postergação foi a pressão dos estados que sabiam que colheriam bons números e a insistência da imprensa que hoje, felizmente, aguarda os indicadores de educação como antes só eram esperados os da economia. O quase ex-ministro da Fazenda falou que a gasolina vai subir, mas já foi desautorizado, o que na situação dele é o mínimo. O secretario do Tesouro disse e desdisse no mesmo dia que a meta fiscal será reduzida.

Acabou a sabatina, e a presidente ficou mais um tempo conversando amenidades, enquanto o helicóptero a aguardava para levá-la à base onde iria para o Rio fazer campanha. Conversa agradável sobre netos, livros, dados a mais, e detalhes curiosos do seu cotidiano.

No Rio, os outros candidatos saíram correndo, por um lado, e os jornalistas, por outro. Era necessário sair rapidamente para os compromissos da agenda de campanha a que tanto Marina quanto Aécio estão dedicados. A soma dos pequenos detalhes cria uma situação desigual em tudo.