domingo, 24 de junho de 2018

Bruno Boghossian: Disputando no escuro

- Folha de S. Paulo

Presidenciável quer evitar debates na TV e expõe divergências com seu economista

Jair Bolsonaro (PSL) não quer participar de debates no primeiro turno. O presidenciável também se recusa a discutir sua proposta de reforma tributária e diz que não vai mostrar o pacote de medidas econômicas preparado por sua equipe, “para não levar pancada por aí”.

Faltam 105 dias para a eleição, e o candidato que lidera boa parte das pesquisas ainda é um enigma. Bolsonaro ganhou o selo do livre mercado sem esforço, graças a sua aliança com economistas liberais, mas seu comportamento na corrida indica que ele esconde algumas surpresas.

Dissonâncias entre o candidato e seu guru Paulo Guedes se tornaram mais evidentes nos últimos meses. Em abril, o economista indicou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que Bolsonaro resistia a defender uma reforma da Previdência mais dura durante a campanha.

“Pô, Paulo, você faz o que quiser depois, mas se eu fizer isso, nem chego lá. O Lula está falando que vai mexer na Previdência? O Alckmin?”, disse Bolsonaro, segundo Guedes.

Apontado como possível ministro da Fazenda do presidenciável, o economista acrescentou que vai insistir em uma agenda de corte de despesas e privatizações. “Se ele quiser, aprova. Se não aprovar, não vou.”
Dividido entre um discurso amigável ao mercado e uma plataforma mais suave para conquistar votos, Bolsonaro agora prefere o silêncio. Repete que seus planos serão apresentados “em momento oportuno” e sonega informações para não assustar nem eleitores nem investidores.

O presidenciável do PSL age assim porque atingiu um potencial de votos que poderá levá-lo ao segundo turno sem muita exposição a riscos. Ao fugir de confrontos, ele omite também eventuais falhas e contradições em sua plataforma.

Nenhum candidato tem um plano de governo completo a esta altura, mas a intenção de Bolsonaro de evitar os debates na TV e de esconder o que planeja para o país é uma manobra proposital. Assim, ele confunde o eleitor e o mantém no escuro enquanto for possível.

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