quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O direito de criticar

EDITORIAL
DEU NO ZERO HORA (RS)

Chamou a atenção do país a manifestação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura do Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas, na última terça-feira. Diante de uma plateia formada por cerca de 3,5 mil administradores municipais, ele criticou duramente a imprensa por ter classificado o conjunto de medidas de incentivo aos municípios como pacote de bondades para alavancar a candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República. As críticas presidenciais foram amplamente divulgadas pela maioria dos órgãos de imprensa do país ontem, muitos deles se sentindo injustiçados pela generalização.

O presidente tem o direito de criticar a imprensa e até mesmo de fazer críticas infundadas. É da democracia. Da mesma forma, porém, precisa entender que um homem público na sua posição tem que conviver diariamente com a vigilância da mídia. A liberdade de opinião é essencial para o processo democrático. Em sua defesa, até mesmo eventuais excessos têm que ser tolerados, com o evidente resguardo de direitos individuais e coletivos que a legislação brasileira assegura aos cidadãos, sejam eles autoridades ou pessoas comuns.

Dois aspectos do noticiário incomodaram particularmente o presidente, segundo revelou no pronunciamento. O primeiro deles foi o título e a conotação eleitoral dispensados ao conjunto de ações governamentais para reforçar a parceria com os municípios. O outro foi o fato de um jornal carioca (O Globo) ter publicado uma carta de leitor reclamando que o presidente estaria dando dinheiro público para prefeito “bandido”. Lula aproveitou-se deste detalhe para fazer média com os prefeitos presentes, com o claro propósito de conquistar simpatia para a sua crítica genérica à imprensa. A demagogia era perfeitamente dispensável.

A maior parte da mídia brasileira reconhece no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) uma ação válida do governo para tirar o país do atraso. Também são meritórias – tenham ou não injunções eleitorais – as parcerias propostas aos municípios no sentido de reduzir o analfabetismo e a mortalidade infantil. O próprio parcelamento das dívidas das prefeituras com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), ainda que beneficie maus pagadores, é uma medida elogiável por aliviar a pressão sobre municípios endividados. É um equívoco valorizar mais a visão crítica do que os efeitos deste conjunto de ações.

O momento do país exige mais tolerância. Não é hora de atrito, mas sim de muita responsabilidade – tanto por parte do governo quanto por parte da mídia – para que o país possa superar a crise econômica sem maiores sobressaltos. O pacote de benefícios aos municípios, seja lá que nome tenha, é bem-vindo. Mas deve continuar sendo fiscalizado atentamente pela população, por meio dos instrumentos de que ela dispõe para isso, entre os quais uma imprensa livre, independente e também sujeita às devidas críticas.

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