Angela Bittencourt
SÃO PAULO - Em mais uma tentativa de estimular o crescimento econômico, o governo Dilma Rousseff anunciou uma lista de compras governamentais para o segundo semestre. As compras, que vão de retroescavadeiras a ambulâncias e blindados, passando por materiais escolares, estão agrupadas no PAC Compras Governamentais e totalizam R$ 8,43 bilhões.
Para a economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora da Casa das Garças e da Galanto Consultoria, esses gastos implicam redução da meta de superávit primário, a menos que o governo compense essas despesas adicionais. Monica entende que as compras são necessárias para o andamento do PAC. Nesse sentido, devem contribuir para que o investimento público avance, e alguns setores também, como o automotivo, que fornece parte dos equipamentos.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ainda a redução da TJLP, de 6% para 5,5%, "perdendo grande oportunidade" de extinguir a taxa, na avaliação da economista. Leia os principais pontos da entrevista ao blog "Casa das Caldeiras", do site do Valor.
Valor: O que significa o pacote anunciado pelo governo?
Monica de Bolle: O pacote anunciado pelo governo é uma tentativa de acelerar a retomada da economia brasileira neste início do segundo semestre. Se a aceleração não vier em breve, a capacidade de conseguir alcançar um crescimento entre 2,5% e 3% este ano, ou seja, algo parecido com o resultado do ano passado, ficará seriamente comprometida. Chama a atenção o fato de o pacote incluir compras governamentais adicionais - gastos que não estavam previstos no Orçamento - de R$ 6,6 bilhões. Isso implica uma redução da meta de superávit primário, de R$ 108,5 bilhões para R$ 101,9 bilhões, ou seja, de 3,1% do PIB para 2,9%, tudo mais constante. Levando em conta a possibilidade de a arrecadação no ano não ser tão forte quanto a que o governo projeta, existe uma chance razoável de o superávit no ano cair para algo em torno de 2,5% a 2,7% do PIB.
Valor: As medidas são novamente pontuais ou setoriais?
Monica: As medidas tentam impulsionar os programas de investimento do governo, portanto são de natureza diferente das reduções pontuais de IPI, por exemplo.
Valor: Com mais este pacote a economia vai andar? Vai produzir resultado menos pífio neste ano? É possível dizer que a herança para o crescimento de 2013 será respeitável?
Monica: Imagino que essas medidas, somadas às já tomadas, aumentam as chances de resultado um pouco melhor neste ano. Volto ao meu ponto inicial: o fundamental é reaquecer a economia logo no início deste semestre, pois se fossem esperar para ver o efeito do que já foi feito, o risco de não alcançar a "meta de crescimento" seria bem maior. Não é à toa que anunciaram as medidas agora. Se conseguirem gerar expansão ao redor de 2,5%, 3%, as perspectivas para 2013 são melhores sim.
Valor: A aceleração de compras pelo governo pode ser vista como "sacrifício fiscal"? Ou esse tipo de sacrifício só acontece quando o governo formalmente avisa que não cumprirá a meta de superávit primário?
Monica: É sacrifício "de facto", que é o que interessa. "De jure" vai ficar para depois, quando tiverem de revelar, no fim do ano, que a meta ficou aquém do planejado.
Valor: E o governo confirmou o corte da TJLP...
Monica: O governo cortou a taxa de longo prazo, mas perdeu grande oportunidade de extinguir essa taxa e acabar com uma anomalia do sistema financeiro brasileiro. Se o governo acredita que o juro está indo para um patamar menor, e parece que acredita, a providência que deveria ser tomada é o fim da TJLP. Sobretudo se os rumos da Selic caminhassem em direção ao nível dessa taxa.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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