quinta-feira, 28 de junho de 2012

Cafunés :: Rogério Gentile

O acordo entre Lula e Paulo Maluf, com direito a um singelo cafuné do ex-prefeito de São Paulo em Fernando Haddad, criou embaraços e dificultou a largada do candidato do PT, como bem revelou o Datafolha ontem. Mas é extremamente improvável que vá afetar seu desempenho lá em outubro.

O eleitorado de São Paulo é basicamente dividido entre os que não engolem o PT e os que não aturam o PSDB, sobrando, de fato, muito pouco espaço para uma terceira via. Apenas 9% dos eleitores dizem que não votam em hipótese alguma nos dois partidos.

Por isso, com o passar dos meses, o efeito Maluf tende a se diluir na polarização entre petistas e tucanos e no longo tempo de campanha na TV de que Haddad irá dispor no horário eleitoral. Salvo surpresas maiores, quem não gostou da troca de afagos com o ex-prefeito acabará, pragmaticamente, tapando o nariz para tentar evitar o retorno de Serra ao governo municipal.

Até porque o próprio PSDB não poderá explorar com muita ênfase o episódio. Afinal, semanas antes, Serra esteve na residência de Maluf em busca do seu apoio. Tomou um café com o ex-prefeito, trocou mesuras e só não recebeu o tal cafuné na cabeça porque Maluf preferiu o candidato do PT.

Os tucanos também não podem apagar o fato de FHC, em 1998, ter permitido o uso de sua imagem em outdoors de Maluf na campanha pelo governo paulista. E olha que o adversário do ex-prefeito era, então, ninguém menos do que Mário Covas.

Na verdade, assim como FHC naquela ocasião, Lula causou mais danos à desgastada imagem da classe política do que propriamente à de Haddad. Cenas como a da semana passada apenas reforçam a impressão generalizada de que político no Brasil é tudo igual. De que vale tudo pelo poder, inclusive posar ao lado de alguém que está na lista de procurados da Interpol e que corre o risco de ser preso se tentar sair do país.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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