A senadora Ana Amélia (PP-RS) recebeu provocações em seu Twitter, depois da divulgação da foto do encontro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o deputado Paulo Maluf (PP-SP), na mansão do ex-prefeito. Com a ampla exploração da imagem desgastada de Maluf, seguidores da senadora queriam saber se ela não se sentia constrangida por ser do mesmo partido.
Em sua resposta, para tentar demarcar suas diferenças com Maluf, Ana Amélia compara a posição do deputado com a de petistas envolvidos no mensalão. "O PT/RS do Raul Pont é o mesmo PT/SP do José Dirceu, do Delúbio?", pergunta.
O fato mostra que o desconforto causado pela foto de Lula com Maluf, em torno do pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, extrapolou os limites da militância petista e do PSB de Luiza Erundina. No partido do ex-prefeito também houve constrangimento e irritação. A avaliação é que a exposição ostensiva do ex-prefeito trouxe à tona a marca do PP como "o partido do Maluf", da qual tentam se livrar - e alguns achavam ter conseguido.
Foto constrangeu correligionários do deputado paulista
Na eleição municipal de 2008, nenhum dos candidatos a prefeito de São Paulo queria fazer aliança com Maluf, procurado pela Interpol por suposto crime de lavagem de dinheiro. De lá para cá, os pepistas acham que a imagem do partido melhorou muito, principalmente por não ter se envolvido em escândalos de corrupção que abalaram outros partidos da base governista.
Maluf é a liderança do PP mais conhecida nacionalmente, mas o partido preferia que ele se mantivesse discreto, principalmente agora, quando o objetivo da cúpula é fazer do PP o partido com maior crescimento do país nas eleições municipais. Terceiro partido com maior número de filiados (cerca de 1,4 milhão), atrás de PMDB e PT, o PP tem, aproximadamente, 550 prefeitos e 5.130 vereadores. A meta é eleger de 800 a 900 prefeitos e oito mil vereadores.
Para isso, os diretórios municipais têm liberdade para fazer as alianças mais convenientes. "Se Maluf tivesse perguntado ao diretório nacional sobre a aliança com o PT - e ele não precisava fazê-lo-, ninguém diria para ele fazer aliança com A, B ou C. O diretório apenas diria que agisse com maior discrição, desse um caráter oficial e fizesse um documento com as razões da aliança", diz o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ). Maluf "apanhou pela sua indiscrição", diz.
Ainda que o ex-prefeito conserve alguma influência sobre o eleitorado mais conservador de São Paulo, o que o PT quer mesmo é o tempo de televisão do PP. Lula aposta tudo na propaganda eleitoral para melhorar o desempenho de Haddad. Por isso, submeteu-se ao encontro público com Maluf.
A aliança deve render quase um minuto e meio a mais de tempo na propaganda eleitoral de rádio e TV do candidato petista, que deverá ter, ao todo, 7 minutos e 51 segundos. Isso significa cerca de um minuto a mais em relação ao programa do tucano José Serra.
A exposição dos candidatos no programa eleitoral gratuito, especialmente da televisão, é considerada decisiva nas eleições majoritárias. A corrida das campanhas atrás de partidos para ampliar seu tempo no horário eleitoral gratuito no rádio e na TV acontece no país todo e torna-se mais intensa à medida em que cresce o número de legendas.
"O tempo de TV tornou-se balcão de negócios, mercado negro", afirma o presidente nacional do PMDB em exercício, senador Valdir Raupp (RO). Para ele, essas eleições municipais devem ser "a gota d"água" que levará a "grandes fusões partidárias" para enxugar o número de siglas existentes. E, também, a uma mudança nas regras de composição do tempo da propaganda eleitoral gratuita.
Um grupo de senadores discute a possibilidade de, após as eleições, retomar a tramitação de um projeto, rejeitado em primeira votação pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Trata-se de proposta do senador Álvaro Dias (PR), líder da bancada tucana, segundo a qual o espaço destinado à campanha de um candidato a prefeito, governador e presidente seria a soma dos tempos dos partidos do titular e do respectivo vice. Não seriam computados os tempos relativos aos demais partidos da coligação.
"As alianças eleitorais hoje resumem-se à soma dos tempos de televisão. De alianças políticas, estão se transformando em alianças publicitárias, absolutamente transitórias, que não garantem governabilidade, só para a campanha eleitoral. Isso leva à mercantilização da campanha, aumenta os gastos e compromete posições estratégicas no governo futuro. A situação vem se tornando mais grave à medida que os partidos se proliferam. Já tem 30 registrados no Brasil", diz o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
Quando o assunto é reforma política, ninguém leva a sério no Congresso. As propostas acabam sempre engavetadas, porque dificilmente há consenso. Mas nada como o agravamento dos problemas partidários para provocar a iniciativa dos parlamentares. A foto de Maluf com Lula é emblemática. "Voto, a gente não rejeita. O problema é a liturgia", define o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA). Ele também defende a mudança na regra para composição do tempo de TV.
No caso do PP, a irritação com Maluf não foi apenas com seu retorno à cena. O partido acha que foi prejudicado pela negociação feita por ele com o Palácio do Planalto para conseguir a nomeação de um indicado seu em uma secretaria do Ministério das Cidades, cujo titular é o pepista Aguinaldo Ribeiro. Para o afilhado de Maluf ser nomeado, um representante do PP nacional, elogiado por parlamentares da sigla, foi realocado para outro cargo.
Os pepistas esperam que Maluf se mantenha longe dos holofotes, para evitar novos constrangimentos. Quanto a eventuais prejuízos à imagem do PP, o experiente dirigente da legenda recomenda como agir. Ou melhor, como não agir.
"É fingir que nada aconteceu. Consertar, em política, só o tempo e as atitudes. E, às vezes, o silêncio", diz o senador Francisco Dornelles.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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