O “impeachment” do presidente do Paraguai, o bispo católico Fernando Lugo demonstra com requintes de realismo a obsolescência e o atraso institucional do presidencialismo como forma de governo. Além de ser um regime essencialmente fundado no papel da personalidade, do carisma e da retórica de um único dirigente, padece com a inexistência de mecanismos regulares de substituição do governo de forma não traumática e não passional.
Não é a toa que o presidencialismo prevalece nos países de origem ibérica e de passado colonial, talvez por sempre terem ficado sujeitos ao governo de capitães-mores, donatários de capitanias e sesmarias, governadores gerais e vice-reis e, após seus processos de independência, ao mando de imperadores e reis e por fim, ao instalar em suas Repúblicas, governadas por marechais, generais e juntas, muitos deles galgando os mandatos por força de golpes de estado.
Tal história e cultura política, intimamente ligada à concentração da riqueza e ao déficit educacional e de escolaridade da maioria do povo, faz com que muitas vezes se mescle nas figuras dos governantes e lideranças as imagens de políticos, administradores, guias, santos e milagreiros.
Bolívar, Getúlio, Perón, Evita e Isabelita, Fidel, Zapata, Martí, Pancho Vila, Tancredo, dentre outros, e mais recentemente, Lula, Chaves e Zelaia são personagens que espelham essa dramaticidade noveleira e milongeira, embalada em ritmo de tango e de breganejo, da vida política da América Latina.
A esperança é que, com o avanço da democracia e do nível educacional da população e com o aumento da experiência coletiva na condução dos mecanismos de convivência e construção dos consensos e decisões majoritárias, formas mais racionais, organizadas e compartilhadas do exercício do poder venham se estabelecer entre nós.
Não só nas instâncias governamentais, mas também e principalmente, nas instâncias da sociedade civil, tão ou mais personalistas e presidencialistas que os partidos e governos. Ainda é o costume se buscar um ungido, um condutor, um salvador, como se ao escolhê-lo os problemas poderiam ser resolvidos a revelia da participação de cada um, e depois, ao se descobrir que o milagre não foi realizado maldizer sua escolha, ficar decepcionado, reclamar e atribuir a desgraça a outros, em geral a uma categoria genérica dos políticos.
O grave disso tudo é que se costuma esquecer, que no regime democrático que felizmente estamos vivendo a duras custas, todos os políticos estão onde estão através do voto de alguém, geralmente da maioria.
Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com
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