É grande a probabilidade de que os Estados Unidos saiam rachados das
eleições presidenciais de desta terça-feira.
As pesquisas indicam empate técnico na preferência popular e ainda é preciso
ver como se dividirão os votos que indicarão os delegados que, afinal, serão os
que elegerão o novo presidente.
Seja quem for o escolhido, a divisão continuará no Congresso. O Senado terá
maioria democrata e a Câmara dos Representantes persistirá controlada pelos
republicanos.
O presidente Barack Obama até recentemente tentou ser o presidente de todos.
Ao longo da administração, e no início da campanha, chegou a fazer um discurso
conciliador. Mas há algumas semanas entendeu que a proposta da unidade não tem
viabilidade eleitoral. No último debate, sua proposta derradeira mudou. Deixou
claro que ambos os candidatos têm visões de mundo distintas e que caberia ao
eleitor escolher a que mais lhe convém.
Obama avisou que, uma vez reeleito, seguirá fortalecendo o setor público
como a principal alavanca de saída da crise. Fará questão de manter elevadas as
despesas orçamentárias cujo financiamento será feito com o aumento de impostos
sobre os mais ricos.
Mitt Romney pretende derrubar fortemente as despesas públicas e reduzir
impostos, para que o consumo e o emprego se recuperem com o mínimo de
intervenção do governo. Também disse que não gosta da política monetária, que
considera excessivamente expansionista, conduzida por Ben Bernanke
(paradoxalmente, um republicano). Isso sugere que não o reconduziria à
presidência do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) em
2014.
Por motivos diferentes, suas críticas à atuação do Fed convergem com as da
presidente Dilma (do tsunami monetário) e do ministro da Fazenda, Guido Mantega
(da guerra cambial). Entende que, além de não tirarem os Estados Unidos do
sufoco, as excessivas emissões de dólares não ajudam o setor privado a reagir
contra a paradeira da economia.
Mas muito dificilmente haverá a escolha definitiva de uma saída como a pretendida
por Obama. A população americana está dividida, seguirá dividida e tão cedo não
superará sua divisão.
Quem tomar posse enfrentará um país dividido também em relação ao maior
desafio imediato: o abismo fiscal (fiscal cliff). O atual acordo, arrancado
arduamente dos republicanos, impôs severa redução de despesas e aumento de
impostos a partir do ano que vem, cujo resultado será o aumento da recessão e
do desemprego.
Obama não conseguiu se apresentar como um grande negociador. Não tem a mesma
capacidade mostrada pelo democrata Bill Clinton, de distribuir afagos também a
seus opositores e deles obter concessões. Romney é mais ambíguo e parece muito
frágil em suas convicções. Mas tem mais cintura política do que Obama. Mostrou
isso na condição de governador do Estado de Massachusetts, quando obteve a
aprovação dos democratas, especialmente do patriarca Ted Kennedy, para seu
projeto de extensão dos planos de seguro-saúde para toda a população.
No brasão nacional dos Estados Unidos está escrito, em latim: "E
pluribus unum" ("de muitos, um"). Desta vez, não há unidade. O
país está implacavelmente rachado.
Como se sabia... O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu nesta
segunda-feira que o governo Dilma não cumprirá a meta cheia do superávit
primário (sobra de arrecadação de 3,1% do PIB, para pagamento da dívida). Meta
cheia é aquela que não recorre à criatividade conceitual e estatística para ser
cumprida. Antes assim. Melhor assumir e expor sinceramente e pagar o preço
político do problema do que cumprir o prometido às custas de contorcionismos
administrativos.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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