Os Estados Unidos vão às urnas hoje com o favoritismo do presidente Barack Obama,
mas o sistema eleitoral americano é complexo demais para ser previsto com
exatidão. O cenário mais provável é o presidente Obama ganhar mais um mandato e
o Partido Republicano preservar seu controle sobre a Câmara, o que manteria o
impasse na votação de medidas econômicas.
No Senado, a vantagem democrata deve continuar por estreita margem. Foi
exatamente essa conjuntura de conflito entre os dois poderes que impediu
avanços e elevou os riscos nos últimos anos.
A economia americana está melhor, mas ainda fraca. O desemprego continua
alto e decisões dramáticas na área fiscal estão contratadas para o fim do ano.
Obama não realizou os sonhos em nome dos quais foi eleito, e por isso a
campanha não teve a mesma energia e a mobilização que a de 2008. Mas houve
algumas vitórias importantes, pois ele evitou o pior na economia, aprovou a
reforma no sistema de saúde - o Obamacare - e incluiu 30 milhões de americanos
na rede de proteção social.
O tema do aquecimento global, que parecia tão efervescente na última eleição,
esteve quase ausente agora. Até que a supertempestade Sandy lembrou a todos a
emergência do assunto. A atitude serena e firme do presidente ajudou eleitores
indecisos, mas os estados que realmente serão decisivos, e que vão atrair a
atenção da mídia, são Flórida, Ohio, Virgínia, Wisconsin, Colorado, Iowa e New
Hampshire.
Os republicanos engrossam as fileiras dos céticos do clima e foram apanhados
pela tempestade numa casa sem telhado. O governador Romney havia cometido o
desatino de propor a privatização da Fema - a agência federal para emergências
- e do seu escritório de organização da resposta a desastres. Precisou sair de
fininho da proposta insensata.
O eleito hoje, qualquer que seja, herdará uma economia melhor do que a que
chegou às mãos de Obama em janeiro de 2009. Naquele ano, havia uma bomba
contratada para estourar, que estourou: o desemprego que estava em 6,5% em
outubro de 2008 foi a 10% um ano depois. Mas isso foi resultado da crise que
ocorreu no período Bush.
Em geral, o mercado financeiro prefere candidatos republicanos, mas desta
vez até eles temem a eleição de Romney. Ele criticou a política de afrouxamento
monetário do Fed, que apesar de criar distorções evitou a piora da recessão.
Como o mandato de Ben Bernanke vai até janeiro de 2014, o que se imagina é que
se Romney for eleito o novo presidente do Fed tentará mudar a atual política.
Outro ponto de instabilidade pode ser a aplicação na prática de uma política
contra a China, como prometeu na campanha. A simbiose entre as economias americana
e chinesa fará qualquer guerra comercial entre os dois países ter severas
consequências para o mundo. A relação bilateral é de meio trilhão de dólares
por ano. No ano passado, a corrente de comércio entre EUA e China cresceu10%.
Outra incerteza está no mercado de petróleo, que pode ficar ainda mais instável
se houver um aumento da retórica bélica americana.
Há muita incerteza sobre o desempenho da economia em 2013 porque tudo
depende de haver ou não o abismo fiscal. Esse é o nome que se dá ao fenômeno
dos cortes automáticos de despesa e aumento de impostos que ocorrerá caso
republicanos e democratas não cheguem a um acordo até o fim do ano sobre o
orçamento. Para se ter uma ideia, a Tendências Consultoria tem dois cenários
para o PIB dos EUA: em um, 2,3%; em outro, -0,3%. O maior risco continua sendo
o reflexo do impasse político no país que tem o maior PIB do mundo.
Fonte: O Globo
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