O PT, partido que em
tese mais se beneficiaria do programa federal, teve apenas 31% de suas vitórias
nas eleições municipais deste ano concentradas em cidades com alta cobertura do
Bolsa Família, mesmo percentual do DEM
Bolsa Família não
foi decisivo para o PT na eleição municipal
Partido teve apenas 31% das vitórias em cidades com alta cobertura
Juliana Dal Piva e Daniel Lima
Uma análise dos dados das eleições municipais deste ano mostra que o Bolsa
Família não teve impacto direto para o aumento do número de vitórias do PT nas
cidades atendidas pelo programa. O GLOBO comparou o desempenho dos partidos
nessas eleições com a cobertura do Bolsa Família pelo Censo 2010, e dividiu as
cidades em três categorias: as com baixa cobertura do programa, as com média
cobertura e as com alta cobertura. O resultado indicou que, dos partidos que
conquistaram ao menos cem prefeituras, foi o PSB que teve proporcionalmente
mais vitórias concentradas em cidades com alta cobertura do benefício: 59% do
total. O percentual do PT é de 31%, o mesmo do DEM. A maioria dessas cidades
está nas regiões Norte e Nordeste.
Embora o programa seja custeado com verba federal, as prefeituras são
responsáveis pelos cadastros dos beneficiários. Mas entender como essa dinâmica
influencia a eleição para prefeito não é tarefa simples.
Para o professor da PUC-SP Marcel Guedes Leite, que já estudou a influência
e analisou os dados, o Bolsa Família é diretamente ligado ao PT e, por isso,
pode auxiliar a reeleição de prefeitos de partidos coligados ao governo. O
professor diz que, quando pesquisou a reeleição de Lula, percebeu que, no caso
dos municípios, os prefeitos acabavam se beneficiando do Bolsa Família
independentemente do partido.
- Acho que o efeito do benefício é muito maior na eleição majoritária, até
para governador. Mas, nas eleições municipais, as lideranças locais acabam se
beneficiando, mesmo as da oposição - afirmou Leite.
O professor Maurício Canêdo Pinheiro, da Fundação Getulio Vargas, discorda e
é taxativo: as eleições municipais têm dinâmicas locais.
- Olhando só o Bolsa Família, fica difícil tirar uma conclusão, muitas
outras coisas influenciam. A eleição municipal é movida pela agenda local.
Canêdo acredita que o programa não impactou na eleição para o crescimento do
PT nem para o declínio do PSDB. Os números, segundo ele, indicam que partidos
maiores ganham nas cidades maiores, exceto o PMDB, o de maior capilaridade
entre os grandes legendas:
- Partidos grandes ganham cidades grandes, ou ainda, os partidos pequenos só
conseguem vencer em cidades pequenas. Nessas cidades pequenas, a cobertura do
Bolsa Família é maior. Então, não é nem o "efeito Bolsa Família". Em
termos de dividendos, PT ou PSDB não foram nem melhor nem pior por causa do
Bolsa Família.
Henrique de Castro, professor da UNB, concorda que o efeito na eleição
presidencial é mais evidente, mas ressalta que a influência do Bolsa Família
pode estar limitada. Ele acredita que a medida que a população entender que o
programa se "naturalizou" ele será menos decisivo na escolha do
candidato:
- Os programas ainda influenciam positivamente os candidatos ligados ao
partido do governo. Digo ainda porque tenho uma hipótese: a medida que essas
medidas se institucionalizam, passam a ser naturalizadas e não se dá mais o
benefício a quem as criou. Há a tendência de considerarem natural.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário