Se alguém provoca lamentos e sentimentos sinceros de solidariedade no PT por
causa das condenações no Supremo Tribunal Federal, é José Genoino e ninguém
mais. Se algo é capaz de mobilizar os petistas na reação ao vigor das sentenças
do STF, é a preservação do nome do partido e nada mais.
É uma constatação que se faz desviando-se a atenção da cenografia radical do
presidente Rui Falcão para se ouvir o que se diz entre as várias correntes do
partido.
Fala-se com sincero pesar do destino de Genoino. "Não merecia" são
as duas palavras recorrentes. "Não tinha noção do real alcance de seus
atos oficiais" é a frase síntese da avaliação de que o então presidente do
PT entrou na história como Pilatos no Credo.
Já José Dirceu e Delúbio Soares, se não são aberta e nominalmente
criticados, tampouco contam com a mesma compreensão. Não chega a haver um ânimo
de defesa de punições internas, mas não há disposição de transformar os réus em
fatores de motivação do PT a entrar numa cruzada contra o Supremo.
Esse é o clima preponderante entre parlamentares, ministros, parte dos
dirigentes, prefeitos e governadores do partido. Daí a suspensão da divulgação
do manifesto de protesto à atuação do STF inicialmente prevista para logo
depois das eleições.
A ideia só não foi oficial e definitivamente arquivada porque o PT pode
ainda reagir de maneira mais forte caso ao fim do julgamento sinta que o nome
do partido corre o risco de "ir para o lixo".
Aí, sim, poderia haver apoio partidário a recursos a cortes internacionais,
manifestos e mobilização da militância para, na defesa dos
"mártires", organizar o que na realidade seria um desagravo
partidário para preservar o projeto coletivo de poder.
O resultado eleitoral de São Paulo serviu para conter as posições internas mais
belicosas e fazer prevalecer a posição mais moderada que prefere virar essa
página, seguir apostando na renovação de quadros e na construção de um novo
perfil para o PT.
Plano pragmático que Lula começou a pôr em prática em 2005, com a abertura
de espaço para novos personagens – Dilma Rousseff é um exemplo – distanciados
da lógica de atuação do comando do aparelho que resultou no escândalo do
mensalão.
O revés sofrido com o julgamento rigoroso gerou, no entendimento do PT, um
"ambiente de intolerância" que levou à defesa de uma causa perdida,
deu sobrevida à velha geração e, a depender de como venha a ser resolvida a
questão, atrasará o projeto do partido de se reinventar.
Modelagem. O PMDB segue firme,
embora não unânime, no apoio a Renan Calheiros para a presidência do Senado.
O partido sabe dos riscos da volta de Calheiros à ribalta depois de ter
renunciado ao mesmo cargo e quase perdido o mandato por ter permitido que um
lobista de empreiteira pagasse a pensão de uma filha e por ter mentido ao
plenário para se defender das suspeitas do uso de laranjas na compra de duas
rádios e um jornal em Alagoas.
Há entre peemedebistas o receio de que a exposição de Calheiros o ponha de
novo no foco de denúncias, exatamente como ocorreu com Jader Barbalho.
Insistiu em ser presidente do Senado em 2001, não obstante o passivo de
acusações de desvio de verbas do banco estadual quando governou o Pará,
irregularidades na gestão à frente do Ministério da Previdência e malversação
de recursos da Sudam.
Em pouco tempo as denúncias que até então estavam em banho-maria voltaram à
tona. Barbalho foi obrigado a deixar a presidência do Senado seis meses depois
de eleito e também a renunciar ao mandato.
Em 2007, Calheiros escapou da cassação por causa do voto secreto, cujo fim
foi aprovado em julho último pelo Senado e deve ser votado até o fim do ano na
Câmara.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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