quinta-feira, 17 de abril de 2014

Tereza Cruvinel: Ensaiando a reação

- Correio Braziliense

Enquanto aliados e adversários se engalfinham no Congresso em torno da CPI da Petrobras, restrita à estatal ou engordada por escândalos na seara do PSDB e do PSB, a presidente Dilma Rousseff ensaia a própria contraofensiva às adversidades e aos ataques que o governo enfrenta. O discurso de ontem, no Conselhão, para uma plateia composta por grandes empresários e luminares do sindicalismo, foi um verdadeiro balanço do governo dela, com as tintas fortes do otimismo, naturalmente. A reação começou depois do encontro que ela teve com ex-presidente Lula, no dia 4, quando foi acertada, e prossegue com uma agenda intensa de viagens nos próximos dias.

Afora os concorrentes e os partidos de oposição, entretanto, Dilma tem no mercado financeiro um adversário tinhoso e mais poderoso. Ontem, foi divulgada nova pesquisa Vox Populi, segundo a qual ela teria hoje 40% de preferência, vencendo no primeiro turno com 14 pontos percentuais a mais do que a soma dos adversários. As bolsas fecharam em alta por conta de boas notícias vindas da China, mas, no início da semana, a retração foi atribuída ao vazamento da pesquisa, alimentando o que já vem sendo chamado de "risco Dilma". Está em curso um movimento semelhante ao esboçado contra a eleição de Lula em 2002. Só falta inventarem o "dilmômetro", similar do "lulômetro" então lançado pelo especulador George Soros. Lula respondeu com a Carta ao Povo Brasileiro.

No encontro do dia 4, o ex-presidente recomendou a Dilma que partisse para a disputa política, enfrentando o debate e defendendo mais energicamente seu próprio governo, que, no dizer dele, "tem números muito bons que precisam ser melhor apresentados". Sugeriu também que ela (e os ministros) adotem um discurso mais vigoroso em defesa da Copa do Mundo no Brasil, mostrando à população a importância do legado e buscando envolvê-la nos preparativos, reverter o ceticismo e criar um clima mais positivo em relação ao evento que se aproxima. Dito e feito, no dia 7, em Belo Horizonte, Dilma referiu-se ao empenho dos adversários em desgastar o governo, avisando que não recuará nem " um milímetro na disputa política, quando ela aparecer". No dia seguinte, Lula fez parte dele, com a entrevista aos blogueiros, mas, se a intenção era dar um basta no "volta, Lula", acabou estimulando seus pregadores ao dizer que a economia poderia estar melhor, e que Dilma terá que dizer claramente o que fará para melhorá-la no segundo mandato. Foi o bastante para que muitos analistas enxergassem um sinal de fricção entre eles.

Na última segunda-feira, 14, enquanto o adversário Eduardo Campos lançava a chapa com Marina Silva em Brasília, com duros ataques ao governo, no Recife, Dilma vestia o macacão da Petrobras para defender a empresa e elevar o tom político. Foi quando disse que não iria "ouvir calada" ataques dos que, "por proveito político, ferem a imagem da empresa".

Ontem, aparentemente satisfeita com o depoimento da presidente da Petrobras ao Senado, embora não tenha sido suficiente para reverter a maré pró-CPI, Dilma fez um verdadeiro balanço de governo no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, repelindo com ênfase as críticas à condução da economia. Destacou o pacto com a base aliada para rejeitar agendas de alto impacto fiscal, a manutenção da inflação dentro da meta (embora roçando o teto) e a redução da relação dívida/PIB. Voltou a defender a reforma política por meio de consulta popular e a mobilização da sociedade para que ela aconteça e produza a necessária mudança nas práticas políticas. Gastou mais saliva falando dos investimentos em mobilidade, das concessões ao setor privado, do Mais Médicos, das UPAs (unidades de pronto-atendimento em saúde), das creches, dos royalties do petróleo para educação e do Pronatec, que será bandeira de campanha, agradecendo "a importante parceria com o Robson (Andrade, presidente da CNI)". Enalteceu a indústria naval, que vai de vento em popa, contrariando os que diziam que o Brasil não faria nem cascos de navio, e a produção nacional de sondas e plataformas para a Petrobras... Enfim, assuntos para vários programas eleitorais a partir de agosto.

E, no fim, seguindo o conselho de Lula, a defesa da Copa. "Quando a gente vai dar uma festa, limpa a casa, arruma direitinho. E tudo que a gente arrumar na casa fica depois para nós. É a mesma coisa com a Copa", disse, conclamando ao esforço para fazer a Copa das Copas. "Falei demais, mas eu tinha que falar", encerrou Dilma. Voltou a deitar falação, à tarde, na inauguração do Píer Sul do Aeroporto de Brasília, por ela concedido ao setor privado.

Depois da Páscoa, a liça continua. Ela vai a São Paulo na quarta-feira, para aquele evento internacional sobre a governança da internet; a Curitiba e a Cuiabá, para inaugurar a Arena Pantanal; e a Belém, onde verifica obras portuárias e construções navais. Segundo assessores, Dilma avalia que a pancadaria eleitoral está apenas começando, que a refrega será dura, mas diz-se pronta para o embate. Voltando aos conselhos de Lula, o governo dela tem mesmo números e realizações para mostrar, e é isso que fará na agenda pós-Páscoa. Mas há uma animosidade difusa contra ela, que pega até aliados. O desafio é convencer os eleitores — se não figurões, como os que estavam ontem no conselho — de que a continuidade com ela é melhor do que a mudança com um dos concorrentes.

Veta, Dilma!
Em tempo de tanta mobilização popular, os usuários de planos de saúde precisam fazer um coro para que a presidente Dilma vete o vergonhoso artigo 101, incluído pela Câmara na MP 627, que concede perdão milionário de multas sofridas pelas operadoras de planos de saúde por aquilo que todo mundo já experimentou um dia: violação das normas de contrato. Pior ainda é a limitação do poder punitivo da ANS.

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