De um lado, em reuniões para as quais tem convidado lideranças da iniciativa privada, o empenho de Lula para romper o isolamento da presidente/candidata Dilma Rousseff do conjunto do empresariado, por meio de promessas de mudanças na política econômica e na gestão do governo, já antes das eleições de outubro e num segundo mandato. E para, ao mesmo tempo, recompor sua in-fluência pessoal na área, tendo em vista, também, a possibilidade de ter de assumir, contra a vontade, sua própria candidatura. (Mas) De outro lado, um encontro dele com os blogueiros do PT, no qual apontou o controle da mídia como bandeira relevante do partido na disputa presidencial deste ano. Assim tratado pelo ex-presidente no encontro: “Perdemos um tempo precioso e não fizemos o marco regulatório da comunicação nesse país. Temos que retomar com muita força a questão da regulação dos meios de comunicação. O tratamento (da imprensa) à Dilma é de falta de respeito e de compromisso com a verdade”.
Ora, são essencialmente contraditórios a forte chancela dada à demanda da esquerda petista (e dos condenados do processo do Mensalão) para restrições à liberdade de imprensa e o empenho para recompor e adensar apoio empresarial. Ao avaliar as manifestações de Lula nas reuniões com dirigentes de grandes empresas – que incluíram o reconhecimento, explícito, de erros da política econômica – vários analistas previram possível lançamento de uma segunda “Carta aos Brasileiros” (articulada por Antonio Palocci na campanha de Lula de 2002), agora como peça da campanha reeleitoral de Dilma, para rever-são da desconfiança e do distanciamento do mercado em relação ao Palácio do Planalto e a candidatura dela. Já o encontro com o grupo dos blogueiros petistas (cabe lembrar, montado pelo ex-secretário de Comunicação do par-tido, o deputado André Vargas, que deve renunciar ao mandato sob pressão de Lula e do Planalto), este suscitou agudas reações críticas nos meios empresariais. Uma delas objeto de artigo da jornalista Cláudia Safatle, no Valor, do último dia 11, com o título “Registro de um retro-cesso”, do qual se seguem dois trechos: “O que mais impactou empresários que nutrem simpatias pelo ex-presidente Lula e compartilham o coro do “Volta Lula”, na entrevista que ele deu para um grupo de blogueiros, foi a forma dura e insistente com que defendeu o controle da imprensa”. “A perplexidade pôde ser conferida em uma reunião na sede da Fiesp, no dia seguinte à entrevista.
Segundo relato de um dos participantes, ‘a entrevista causou mal-estar’. Até então se imaginava que a discussão sobre instrumentos de controle da mídia fosse somente proposta de um ou dois assessores do ex-presidente. ‘Mas não, é do Lula’, disse o empresário”.
O financiamento da campanha e o radicalismo nos palanques – A quadratura do círculo da combinação por Lula de posturas tão contraditórias, como as que assume agora, foi testada pela primeira vez, com bons dividendos, na disputa reeleitoral de 2006. Sob efeitos do desencadeamento do Mensalão, ele retomou a agressiva retórica classista do PT – pobres contra ricos. Articulada a relações mutuamente proveitosas com crescente número de empresários de grande porte, facilitadas pelas oportunidades de negócios que a expansão da economia ensejava. Expansão apoiada na estabilidade legada pelo governo FHC (e mantida pela equipe do ex-ministro Palocci) e no começo do ciclo de valorização das commodities minerais e agrícolas. A mesma articulação entre retórica radical e apoio de grandes empresários foi aplicada, também com sucesso, em 2010. Na qual, um PIB de 7,5% - propiciado por ampla receita de commodities e pela exacerbação do consumismo -, com uma inflação na casa dos 3%, foram combinados com agressivos discursos estatizantes e populistas da candidata e do seu tutor.
Tudo isso com a disponibilidade de forte financiamento empresarial. Num cenário macro e microeconômico ainda favorável, oposto ao que temos hoje e à frente. De mais um pibinho (que poderá ficar abaixo de 1,5%); de uma inflação que ameaça cruzar o teto da meta (com a dos preços dos alimentos já além de 8%); de um rombo das contas públicas com o populismo tarifário; de déficit crescente nas transações comerciais do país; de explosão dos efeitos do intervencionismo estatal e do aparelhamento partidário na Eletrobras e na Petrobras. Concluo com uma pergunta: Será que neste contexto, tão diverso daquele das disputas presidenciais de 2006 e 2010, o pragmatismo do vale tudo eleitoral do lulismo conseguirá somar o respaldo de amplo financiamento empresarial, que está buscando, à mobilização do PT em torno do controle da mídia e da manipulação dos programas assistencialistas contra os adversários Aécio Neves e Eduardo Campos?
Jarbas de Holanda é jornalista
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