quinta-feira, 17 de abril de 2014

Ao contrário de Graça Foster, Cerveró afirma que compra de Pasadena não foi um mau negócio

Ex-diretor da área internacional da Petrobras também cita presença de Lula em negociações

Chico de Gois e Júnia Gama - O Globo

BRASÍLIA - Em depoimento nesta quarta-feira na Câmara do Deputados, em Brasília, sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró contradisse a presidente da estatal, Maria da Graça Foster. Na terça-feira, ela afirmou no Senado que a empresa fez um mau negócio. Segundo Cerveró, a aquisição por US$ 1,2 bilhão, em 2006, “estava perfeitamente enquadrada dentro do planejamento estratégico da Petrobras”.

- Não posso aceitar que seja utilizada, em repetidas vezes, essa expressão que foi uma malfadada operação. Essa operação não foi malfadada ou desastrosa. O projeto não foi completado como estava previsto e foi aprovado pela diretoria e pelo próprio conselho de administração. A rentabilidade se daria, quando se concluísse o projeto para o qual foi aprovado - afirmou, acrescentando. - Quando Gabirelli (presidente da Petrobras na época do negócio) diz que foi um bom projeto, foi um bom projeto na época. Estamos fazendo análise depois de uma série de eventos que modificaram o cenário.

Cerveró, embora não tenha citado o nome de Dilma, disse que é comum o conselho administrativo da Petrobras aprovar projetos baseados em resumos.

- Estamos falando de um resumo executivo de uma página e meia, o que é normal, com os pontos necessários. Não posso afirmar pelos outros. Os documentos são enviados para a diretoria e, uma vez aprovados, são encaminhados ao conselho. Projetos aprovados pela diretoria, quando demandam aprovação do conselho, são encaminhados normalmente para o conselho.

Nestor Cerveró ressaltou também que, em setembro de 2007, o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli levou o ex-presidente Lula para conversar com o CEO da Astra Oil durante uma visita à Escandinávia. Na ocasião, ficou definido que a Petrobras deveria comprar os 50% da refinaria ou vendê-la. Depois, Cerveró negou que Lula tenha participado da reunião e disse apenas que os diretores da estatal acompanharam Lula na viagem.

- Em setembro de 2007, aproveitando uma viagem do ex-presidente Lula à Escandinávia, a diretoria da Petrobras acompanhou o presidente, e convidamos o principal CEO da Astra para uma reunião. Nos reunimos em Copenhagen, onde ficou definido que a Astra não seguiria adiante e que negociaríamos os 50% - disse o ex-diretor.

Ao negar que tenha enganado a presidente Dilma Rousseff na compra de Pasadena, Cerveró afirmou que todas as decisões da estatal são tomadas de forma colegiada.

- A posição não é só minha, mas da diretoria que aprovou a compra. Não existem decisões individuais, nem na diretoria, nem no conselho. Foi tudo baseado em uma série de consultorias por mais de um ano - disse Cerveró.

O ex-diretor da Petrobras reafirmou que as cláusulas put option e marlim não teriam importância. Ontem, no Senado, Graça Foster sustentou fala de Dilma Rousseff de que o resumo executivo que recomendou a compra de Pasadena não apresentava as cláusulas.

- Essas cláusulas não têm representatividade no negócio. Não era importante do ponto de vista negocial nem uma cláusula nem outra - disse Cerveró.

'Não fui rebaixado', diz Ceveró sobre transferência
Nestor Cerveró também contestou versão apresentada ontem por Graça Foster de que teria sido rebaixado quando foi deslocado da diretoria internacional da Petrobras para a diretoria financeira da BR Distribuidora, há cerca de seis anos. Cerveró ressaltou ter recebido elogios na ata da reunião que definiu a mudança e disse que manteve uma posição de destaque, com um nível salarial similar.

- Não me senti rebaixado. Não fui rebaixado, fui substituído, que é um processo normal na Petrobras. Não existe emprego de diretor, é uma questão de conveniência, o conselho é quem decide. Não houve nenhuma punição, no relatório quando da minha saída consta uma série de elogios ao meu desempenho na área internacional - disse Cerveró.

- Eu fui ocupar uma posição de destaque, o salário é praticamente igual de diretor da Petrobras. A BR é a maior distribuidora de combustível do país, é a segunda maior empresa do país. Por que eu me sentiria desprestigiado ocupando a diretoria executiva de uma empresa de sucesso? Não estou desmentindo a Graça Foster, o diretor da Petrobras tem um nível hierárquico e salarial um pouco maior, mas não concordo com essa questão do rebaixado - pontuou.

Apresentação técnica
Cerveró optou, no início do depoimento na Câmara, em fazer uma apresentação técnica, observando que o plano de expansão da Petrobras no exterior, para refino, estava previsto no Plano Estratégico da empresa desde 2000.

- A compra da refinaria Pasadena estava perfeitamente enquadrada dentro do planejamento estratégico da Petrobras - afirmou.

Nestor Cerveró, mostrando dados técnicos em um power point, defendeu a compra da refinaria americana e disse que o negócio se deu também por uma questão estratégica, de acesso ao mercado americano.

- Pasadena tem sido muito questionada. As refinarias dos EUA todas são antigas. A mais nova é de 1976. A de Pasadena tinha licença e tinha terreno adquirido e espaço para ampliação. E estava na capital americana do petróleo, que é Houston. É uma refinaria estrategicamente muito bem colocada.

A Astra já estava no mercado americano há bastante temo. Compramos uma posição no mercado americano - disse, completando:

- A Astra tinha contratos de acesso aos principais oleodutos que dão escoamento desse refinado. O preço dos derivados na costa leste é muito melhor do que no restante dos EUA. Essa é a valorização da comercializadora. Havia vantagem competitiva. Isso é o que compõe o negócio. Não é apenas a refinaria. É também a posição estratégica.

No final de sua apresentação, de mais de uma hora, Cerveró voltou a citar o ex-presidente Lula. Ele disse que a internacionalização da petroleira tinha no ex-presidente um entusiasta. Embora a afirmação não tenha sido direcionada especificamente a Pasadena, o ex-diretor da área internacional quis deixar claro que havia uma determinação de Lula para que a Petrobras se expandisse no mercado internacional.

- Seguindo orientação do presidente Lula, que era entusiasta e ainda é - disse.

O ex-diretor foi responsabilizado por Graça Foster de ser o responsável pela elaboração de um laudo que teria levado o conselho de administração da empresa incorrer em erro na compra da usina de Pasadena, no Texas.

O presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, deputado Hugo Motta, informou aos membros da comissão que a assessoria da Petrobras, em informe nesta manhã, não confirmou a presença da presidente da Petrobras para prestar esclarecimento aos deputados na próxima quarta-feira, como havia sido combinado anteriormente.

Hugo Motta afirmou que, como presidente da comissão, vai aguardar até a próxima terça-feira à noite para que ela confirme ou não se irá comparecer. Caso não compareça, a comissão irá votar a convocação do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

Ao apontar o dedo para Cerveró, em seu depoimento ontem no Senado, Graça teve como objetivo poupar de embaraços a presidente Dilma Rousseff, que presidia o conselho na época em que a transação foi feita.

- A compra da refinaria não foi um bom negócio - sentenciou Graça Foster ontem aos senadores.

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