‘É bom que você fale, porque amanhã vai ser abandonado pelo PT’, diz deputado ao ex-diretor
Maria Lima, Chico de Gois e Danilo Fariello - O Globo
BRASÍLIA - Numa sessão tensa, com muito bate-boca entre os deputados petistas e da oposição, o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, depôs na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara nesta quarta-feira. Ao final, ele também mostrou certa impaciência. Com os ânimos acirrados logo no início da inquirição, presidente da CFC, o novato deputado Hugo Mota (PMDB-PB) avisou: "Não vou deixar isso aqui virar baderna e privar o povo brasileiro de saber o que se passou nesse caso".
Com o cronômetro quebrado, deu a palavra primeiro aos autores da convocação. O deputado delegado Fernando Francischini (SDD-PR) começou a ler um relatório do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) e trocou o nome do procurador Marinus Marsico para "Marisco". No final de sua fala, se dirigindo a Cerveró, pediu que ele falasse o que sabia.
— É bom que você fale, porque amanhã vai ser abandonado pelo PT — disse Francischini, provocando a ira dos petistas.
— Olha aqui seu delegado, tenha respeito! Vossa Excelência não está numa delegacia não — gritou o deputado Edson Santos (PT-RJ).
Ao começar sua inquirição, outro autor do convite, o deputado Stephan Nercessian (PPS-RJ) disse, com ironia, que vivia entre a fantasia e a realidade, e que, pela exposição convincente feita em defesa do bom negócio de Pasadena, ia contratar Cerveró para gerenciar seus negócios. E elogiou o fato de ter enganado tanta gente poderosa.
— O senhor vai ganhar o Prêmio Nobel, entrar para o Guinness (livro dos recordes). Como que um diretor sozinho conseguiu enganar um universo de tantos gerentes e diretores experientes como os da Petrobras? Existem o gênio do bem e o gênio do mal. Porque só agora descobriram que o senhor é o gênio do mal? Isso é impressionate! — criticou Nercessian.
Os deputados Domingos Savio (PSDB-MG), líder da minoria, Edson Santos, que atuou como o pitbull do PT, também bateram boca. Quando o deputado Lucio Vieira Lima (PMDB-BA) questionou quem foi o padrinho de Cerveró, o deputado Fernando Ferro (PT-PE) cobrou:
— Até porque padrinho por padrinho, o Geddel ocupou a vice-presidência da Caixa — alfinetou o petista, referindo-se ao ex-diretor da Caixa Econômica, Geddel Vieira Lima, irmão de Lúcio.
— O padrinho do Geddel eu sei. Quero saber quem foi o dele — devolveu Lucio.
O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), chegou a recomendar que Fernando Ferro tomasse um "Lexotan" para relaxar. Ele questionou o colega se ele estaria nervoso, ao que Ferro rebateu afirmando que a oposição não teria conseguido o que queria com a audiência.
Pouco antes do intervalo promovido pelo presidente da comissão, após mais de cinco horas de sessão, Cerveró disse que não estava habituado a tanto tempo de inquerimentos e, quando questionado pelo deputado Domingos Sávio mais uma vez sobre as cláusulas do contrato, rebateu em tom irônico
— Talvez o senhor tenha esquecido, já faz tempo que fiz a apresentação — disse Cerveró.
Insatisfeito com as respostas recebidas, Sávio deixou o plenário afirmando que queria “respostas, e não um teatro”. Durante o intervalo, Cerveró aproximou-se foi cumprimentar no plenário deputados da base aliada, como Ferro e Amauri Teixeira (PT-BA).
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