Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Por mais que ainda seja cedo para projetar uma polarização entre PT e PSDB na eleição presidencial de outubro, como bem fez questão de avisar Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, é exatamente para isso que aponta a pesquisa do instituto divulgada na sexta-feira. A cautela de Paulino é compreensível, mas a pesquisa acende um sinal amarelo na campanha do ex-governador Eduardo Campos (PSB), que é candidato a romper essa polarização.
O resultado do Datafolha de maio é uma ótima notícia para o candidato do PSDB, Aécio Neves, que cresceu quatro pontos em relação à ultima pesquisa (foi de 16% para 20%). À primeira vista, o voto de oposição, especialmente o voto anti-PT que se manifestou em todas as últimas eleições pode estar seguindo seu caminho natural, que é o PSDB. Desde 1994, na primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, a terceira via esteve presente em todas as eleições presidenciais. Em todas teve dificuldades para se viabilizar como alternativa.
PT e PSDB estiveram no segundo turno de cinco das seis eleições presidenciais até agora disputadas, desde a redemocratização e o restabelecimento das diretas para a Presidência da República. O desafio do PSB e de seu candidato é quebrar essa lógica.
O senador Aécio, aparentemente, tirou bom proveito da propaganda partidária gratuita do PSDB. E a pesquisa não é de todo má para a presidente Dilma Rousseff. Ela oscilou na margem de erro (de 38% em abril para 37% das intenções de voto, agora em maio), o que pode indicar que parou de cair. As próximas pesquisas dirão.
A melhor notícia para Dilma, no entanto, é a expectativa do eleitorado em relação ao custo de vida: pela primeira vez, desde 2012, melhorou o humor dos brasileiros em relação à inflação futura. Na pesquisa feita em abril, 65% dos entrevistados do Datafolha achavam que os preços iriam subir; um mês depois, essa taxa recua para 58%.
Avaliação feita no Palácio do Planalto atribui a reversão da expectativa em relação à carestia, ao discurso de 1º de Maio da presidente, no qual ela prometeu um combate sem tréguas à inflação. O custo de vida é o inimigo nº 1 da candidatura da presidente à reeleição, segundo diagnóstico feito em sua campanha. O ex-presidente Lula da Silva também não se cansa de advertir Dilma sobre a necessidade de uma vigilância estreita sobre os preços dos produtos.
Dilma deve manter e reforçar o discurso anti-inflacionário nas próximas semanas, sempre com a ressalva de que seu governo combate a inflação sem tirar direitos dos trabalhadores (Aécio, pelo menos por enquanto, não parece ter sido afetado por reconhecer publicamente que, se eleito, tomará as medidas duras necessárias para estabilizar a economia). A ligeira queda no IPCA divulgado na sexta-feira dá fôlego para a presidente da República atravessar ao menos o período da Copa do Mundo, onde outros perigos a espreitam.
A pior notícia da pesquisa Datafolha para a presidente é a confirmação de que a sombra de Lula não é apenas uma trama bem urdida entre empresários com interesses contrariados no governo e uma elite conspiradora, mas paira sobre toda a sociedade: 58% dos eleitores prefeririam que Lula fosse o candidato do PT. Entre os que dizem votar no partido, 75% gostariam de ver o nome e a foto de Lula na urna eletrônica. O fantasma do movimento "Lula 2014" continuará a rondar a presidente pelo menos até 21 de junho, data da convenção do PT para sagrar seu candidato à Presidência.
O ex-governador Eduardo Campos oscilou dentro da margem de erro da pesquisa, está com 11% da preferência do eleitorado, mas até agora não conseguiu se firmar como uma opção à polarização entre PT e PSDB. Nessa marcha, corre o risco de ser tragado na disputa. A pesquisa Datafolha traz indicadores sobre os quais o candidato do PSB precisa refletir. Aécio, por exemplo, parece ter despertado mais que Eduardo Campos a atenção dos eleitores que diziam não votar em nenhum dos candidatos.
Nessa batida, dificilmente Campos poderá encarnar o candidato da mudança. Talvez falte nitidez à terceira via, ainda envolta nas ambiguidades entre o PSB e o Rede Sustentabilidade de Marina Silva, para ela ser reconhecida pelo eleitorado. No limite, se Eduardo Campos for engolido no processo e a eleição ficar polarizada entre PT e PSDB, uma disputa que hoje caminha para o segundo turno pode ser abreviada e acabar na primeira rodada.
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