Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA - Dirigentes nacionais do PSB e do movimento Rede Sustentabilidade já admitem, abertamente, que o presidenciável pessebista Eduardo Campos e sua candidata a vice, Marina Silva, estarão em palanques separados em alguns Estados. Nos últimos dias, entretanto, a indefinição em colégios estratégicos como São Paulo e Minas Gerais elevou a tensão entre os dois aliados.
Em São Paulo, a temperatura subiu após divulgação de manifesto, assinado por lideranças do diretório estadual do PSB, reivindicando a autonomia para firmarem alianças locais. Foi uma reação a declarações de lideranças locais do Rede, que rejeitam o nome do presidente do PSB-SP, deputado Márcio França, para a sucessão estadual.
Simultaneamente, em Minas Gerais, Marina intensificou a pressão sobre Campos para rever o acordo firmado com o senador Aécio Neves (MG), presidenciável do PSDB, pelo qual dividiriam o palanque no Estado. Em Alagoas, Pará, Paraná e Rio Grande do Norte, a separação entre PSB e Rede está praticamente consolidada.
Um interlocutor de Campos disse ao Valor, pedindo anonimato, que o PSB reconhece os complicadores da aliança com o Rede e admite que marcharão separados em alguns Estados. Mas ressalta os dividendos da união: "Preferimos uma vice que incomoda, mas traz votos, a um vice indiferente ao eleitor".
O manifesto do PSB paulista pelo direito de firmar coligações locais, independentemente da anuência do Rede, foi articulado pelo prefeito de Campinas, Jonas Donizette, vice-presidente estadual da sigla. O documento tem o aval de nomes expressivos do PSB paulista, como o prefeito Valdomiro Lopes, de São José do Rio Preto, e representantes da bancada federal.
Há meses, o diretório paulista do PSB, comandado por Márcio França, costurava uma aliança com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). França articulava a candidatura a vice na chapa de Alckmin, candidato à reeleição, mas Marina advertiu que não subiria nesse palanque, assim como não estará ao lado de candidatos do PSDB apoiados pelo PSB.
Nos bastidores, aliados de França ainda articulam seu ingresso na chapa de Alckmin. Do contrário, defendem a candidatura própria ao governo, com a chapa encabeçada por França. "A saída menos traumática seria o apoio a Alckmin, deixando o Rede seguir rumo próprio", diz um pessebista ligado a França. Os seguidores de Marina discutem o apoio a outros nomes, como o filósofo Vladimir Safatle (PSOL) ou Gilberto Natalini (PV).
Em Minas, Marina intensificou a pressão sobre Campos para lançar a candidatura própria do PSB ao governo. A ex-senadora defende o nome do médico sanitarista e ambientalista Apolo Heringer.
Em troca da prerrogativa de subir no palanque do tucano Pimenta da Veiga, Campos franqueou a Aécio o palanque de seu candidato em Pernambuco, Paulo Câmara (PSB).
Mas um aliado próximo de Campos contesta os argumentos de Marina, ponderando que a aliança entre PSB e PSDB em Minas é histórica - remonta a 1996, quando Célio de Castro (PSB) se elegeu prefeito de Belo Horizonte. "É absurdo forçar o rompimento com o PSDB em Minas", critica uma liderança nacional da sigla.
A subida de Aécio nas pesquisas, no entanto, deve alterar o cenário. Ao Valor, o deputado federal Júlio Delgado, presidente do PSB-MG, disse que o clima mudou e o PSB não deve mais seguir o pacto com o PSDB. O pessebista afirmou que seu partido deverá lançar um candidato a governador em Minas. O motivo? "Para que não se coloque o PSB como sublegenda do Aécio e nem que se coloque a candidatura do Eduardo como segunda opção à de Dilma Rousseff (PT) ou à de Aécio", disse Delgado.
Mas a candidatura a governador não deverá atender ao pedido de Marina pelo lançamento de Apolo Heringer. Seu preferido não teria o apoio de Campos. O mais cotado seria o próprio Júlio Delgado.
Em outros Estados, os caminhos opostos do Rede e do PSB estão traçados. Em Alagoas, o PSB apoiará o senador Benedito de Lira (PP) ao governo e lançará o deputado federal Alexandre Toledo ao Senado. Marina, contudo, tende a apoiar a vereadora Heloísa Helena (PSOL).
No Pará, Marina não subirá no palanque com Eduardo, se o PSB insistir em lançar ao Senado o deputado estadual Sidney Rosa, cuja família é proprietária de uma madeireira, autuada pelo Ibama.
No Paraná, o PSB marcha com o governador Beto Richa (PSDB) e o Rede apoiará a professora Sigrid Andersen (PV) ao Senado. E no Rio Grande do Norte, o Rede rejeita aderir à candidatura ao governo do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB). (Colaborou Marcos de Moura e Souza, de Belo Horizonte)
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