“(A imprensa brasileira) é bastante oposicionista” Dilma Rousseff
- O Globo
Governo e oposição celebram desde a última sexta-feira os resultados da mais recente pesquisa Datafolha sobre intenção de votos para presidente da República.O governo, porque Dilma perdeu apenas um ponto percentual. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos. A oposição, porque Aécio Neves (PSDB) cresceu quatro pontos, e Eduardo Campos (PSB), um. A eleição deverá ser decidida no segundo turno.
O mais importante numa pesquisa eleitoral não é isoladamente o índice de intenção de votos de cada candidato ou aspirante a candidato. O confronto dos índices ocupa o espaço nobre do noticiário, anima a discussão entre eleitores politizados e serve de alerta para os habituais financiadores de campanha. Candidato na frente recebe mais doações em dinheiro do que candidato emperrado ou em queda. Compreensível...
O que de fato vale, porém, são as eventuais tendências que uma pesquisa eleitoral – ou que um conjunto delas - seja capaz de detectar. A ser assim, está acesa a luz amarela na sala de comando da candidatura à reeleição de Dilma. De fevereiro para cá, os principais institutos de pesquisa registraram variáveis que apontam na direção de uma possível derrota dela, impensável até o final do ano passado.
A eleição de outubro próximo se dará sob o signo da mudança, segundo o Datafolha, o Sensus e o Ibope.
Das 2.844 pessoas ouvidas pelo Datafolha em 174 municípios, 74% responderam que o futuro presidente deve governar diferente no todo ou em parte da maneira como o país vem sendo governado nos últimos quatro anos. Parece haver um sentimento generalizado de que basta! De que agora, chega! De mudança, já!
Quem reúne mais condições para operar a mudança? Lula, disparado, com 38% das preferências. Em segundo lugar, Aécio com 19%, seguido por Dilma com 15% e Eduardo com 10%. Dilma perdeu o segundo lugar nos últimos 30 dias. Eduardo é o mais desconhecido dos candidatos. É também aquele com maior potencial de crescimento, conforme a pesquisa Datafolha. Foi o que mais subiu entre jovens.
Terceira variável perversa para Dilma: o desejo do eleitorado do PT de trocá-la por Lula. O índice é acachapante: 75% dos eleitores que se identificam com o PT querem Lula como candidato. O índice é de quase 60% quando se leva em conta a opinião de todos os eleitores. O que seria mais cômodo para os candidatos dos partidos da base do governo? Concorrerem puxados por Lula ou por Dilma? Compreensível outra vez.
Em 2002, perto do fim do segundo governo Fernando Henrique Cardoso, 74% dos eleitores cobravam mudanças. Os candidatos a presidente se ofereciam como a melhor opção para mudar – entre eles, Lula, Ciro Gomes e Garotinho. Até José Serra, ex-ministro da Saúde de FH, só falava em mudanças. Quase não passou para o segundo turno. Pouco importava o que dissesse – era o candidato da continuidade. E ponto final.
Dilma é a continuidade. Sem essa de que pode encarnar a mudança. Seu maior desafio é reescrever a crônica de um desastre esboçado. Como? Vai que a maioria dos brasileiros desiste de exigir mudanças (improvável). Ou que Aécio e Eduardo não convençam no papel de agentes de mudanças (a conferir). Ou que a propaganda eleitoral no rádio e na televisão empurre Dilma para o alto. Um marketing bem feito ajuda. Mas não faz milagre.
Talvez ela acabe cedendo a vaga de candidata a Lula. Forçada, não o fará. Espontaneamente? O PT reza para que sim. Seus aliados também rezam.
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