• Para ex-presidente tucano, há uma fadiga de material no governo federal e o longo tempo do PT no poder fez sigla perder a 'capacidade de renovar'
O Estado de S. Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse em entrevista veiculada ontem que o PT corre o risco de perder a eleição presidencial mesmo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja o candidato no lugar da presidente Dilma Rousseff.
"Não sei se o Lula vai ou não ser candidato, mas é arriscado porque ele também pode perder", disse Fernando Henrique em entrevista ao jornalista Roberto D'Avila, transmitida pelo canal Globo News.
Na abertura do 14.º Encontro Nacional do PT, realizado no dia 2 de maio, em São Paulo, Lula descartou de forma enfática a possibilidade de substituir Dilma na corrida presidencial, embora lidere com folga todas as pesquisas de opinião.
Segundo Fernando Henrique, existe uma fadiga de material do PT no governo federal. "Quando você fica muito tempo no poder os compromissos são muitos. Mesmo querendo mexer na máquina você não consegue. Veja a presidenta Dilma. Ela começou tentando, mas não consegue. Com o tempo, você perde a capacidade de renovar", disse ele.
Questionado sobre a longa permanência do PSDB no governo de São Paulo, desde 1995, o ex-presidente admitiu que o conceito também se aplica ao Estado, mas que até hoje não apareceu ninguém "confiável" para substituir os tucanos.
Fernando Henrique também admitiu a existência de um cartel e corrupção no sistema metroferroviário paulista sob a gestão do PSDB mas, ao contrário do mensalão federal, não existem provas de que tucanos tenham se beneficiado do esquema.
"Até agora não há provas de que o partido tenha se beneficiado. Houve corrupção, sim, deve ter havido. Houve o cartel e algumas pessoas receberam. Não é a mesma coisa que o mensalão. É outra coisa, mas é errado do mesmo jeito", disse o ex-presidente.
Serra. Questionado se havia a possibilidade de o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) ser candidato a vice-presidente na chapa do senador Aécio Neves, o ex-presidente afirmou: "Não sei se ele (Serra) quer e se o Aécio vai topar, o tema não chegou às minhas mãos".
Fernando Henrique fez uma forte defesa da reforma política e revelou ter conversado com Lula, Dilma e José Sarney durante a viagem à África do Sul para o funeral de Nelson Mandela, em dezembro do ano passado, sobre a necessidade de um pacto para a mudança do sistema eleitoral. Segundo ele, a conversa não prosperou. "Todo mundo está vendo que este sistema não está funcionando. O que eu tenho medo é de um aventureiro, porque quando o sistema vai mal alguém que venha apelar ao povo diretamente com medidas autoritárias pode encontrar eco", afirmou.
O ex-presidente também disse ser favorável à realização da Copa do Mundo no Brasil e lembrou que tentou trazer o torneio para o Brasil.
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