• Em entrevista, presidente discorda do diagnóstico do ministro Gilberto Carvalho sobre público no Itaquerão
- O Globo
BRASÍLIA — Em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, da Globonews, exibida na noite de ontem, a presidente Dilma Rousseff discordou do diagnóstico feito pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência da República) de que a insatisfação com o governo, expressa nos xingamentos dirigidos a ela na abertura da Copa, no Itaquerão, atingiu camadas mais pobres da população. A presidente afirmou que quem compareceu nos estádios foi predominantemente "a elite branca" que pôde pagar os preços cobrados pela Fifa.
— O ministro Gilberto (Carvalho) disse que essa questão da chamada elite branca, que não fomos nós que inventamos o nome, ela tinha vazado para alguns segmentos. É opinião dele. Não há porque falar que não, é um absurdo, mas quem compareceu aos estádios, não podemos deixar de considerar, foi predominantemente quem tinha poder aquisitivo para pagar o preço dos ingressos da Fifa, e aí predominantemente uma elite branca. Em alguns casos devia ter 90 (%), em outros 80 (%), 75 (%), mas era dominantemente elite branca — afirmou Dilma.
Em um bate-papo com blogueiros transmitido ao vivo, logo após Dilma ser hostilizada no Itaquerão, Gilberto afirmou que as denúncias feitas pela imprensa sobre aparelhamento do governo e a suposta leniência do PT com casos de corrupção tiveram impacto não só na elite, mas também nas classes mais baixas.
— Não fizemos o debate na mídia para valer. Passamos esse tempo todo com uma pancadaria diária que deu resultado. Essa pancadaria diária é o que resultou no palavrão para a presidente Dilma lá no Itaquerão. E me permitam pessoal! Lá no Itaquerão não tinha só elite branca não! Eu fui para o jogo, não no estádio, fiquei ali pertinho numa escola, para acompanhar os movimentos. Eu fui e voltei de metrô. Não tinha só elite no metrô não! Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha nada a ver com elite branca — afirmou o ministro.
Na entrevista, ao ser questionada se enfrenta dificuldade em combater a corrupção e de escolher aliados comprometidos com a honestidade, Dilma defendeu o PT, afirmando que seu partido não pode ser tratado como “o que criou a corrupção no Brasil”. A jornalista Renata Lo Prete citou o caso do deputado André Vargas (sem partido-PR), que deixou o PT após ser acusado de viajar em um jatinho pago pelo doleiro Alberto Youssef, investigado pela Polícia Federal. Vargas também é acusado de defender interesses de Youssef no Ministério da Saúde.
— É certo que nenhum partido está acima de qualquer suspeita. O PT contribuiu muito, com muito avanço, para a democracia no Brasil, para a questão da redução da desigualdade e para a redução da pobreza, o Bolsa Família e todas as obras que a gente fez. Agora o PT também tem, você citou um caso (André Vargas), temos que apurar, não podemos compactuar com isso. Isso é uma coisa, mas o que serve para o PT tem que servir par todos os partidos. O que não é possível é só tratar o PT como o que criou a corrupção no Brasil.
A presidente não quis comentar, no entanto, o julgamento do mensalão feita pelo Supremo Tribunal Federal (STF):
— Eu tenho uma situação específica: sou presidente da República. A base da democracia é o respeito entre os Poderes. Jamais irei me manifestar como presidente da República quanto a uma decisão do Judiciário. Como eu acato quando perco uma decisão no Congresso. Posso não gostar, é minha lei que não está sendo aprovada, mas eu não tenho que discutir isso. Como cidadã eu posso ter minha opinião, mas não posso, no exercício da presidência, divergia ou concordar com nenhum ato do Judiciário ou do Legislativo.
Ao defender a realização de uma reforma política, Dilma fez referência, de forma indireta, ao caso do ex-governador José Roberto Arruda (DF). Mesmo condenado em segunda instância, na última quarta-feira, por improbidade administrativa, ele tentará voltar ao governo local nas eleições deste ano. Isso porque a decisão da 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal ocorreu depois do registro da candidatura.
— Temos que avançar na ética, no controle do gasto, na responsabilização de pessoas. Não é possível uma situação que uma pessoa que tem ficha limpa ou ficha suja e um dia de diferença permite ou garante que a pessoa concorra.
Questionada se estava se referindo a Arruda, ela disse que esse não é o único caso:
— Eu me refiro a todos os casos de ficha limpa ou de ficha suja, porque o dele não é o único, temos isso em várias instâncias. Temos que mudar radicalmente as condições das práticas eleitorais.
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