- O Globo
A maior força da campanha de reeleição da presidente Dilma acaba de ser transformada em números pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que definiu o tempo de televisão e rádio na propaganda eleitoral de cada um dos candidatos, baseado nas alianças partidárias e no tamanho de cada bancada no Congresso.
Ela terá não apenas quase o dobro de tempo que a soma dos dois principais candidatos de oposição, Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, como, nas inserções de 30 segundos somadas, terá nada menos que 123 minutos espalhados pela programação de cada emissora de canal aberto do Brasil nos 45 dias da campanha eleitoral.
O volume de publicidade é equivalente, segundo especialistas, ao lançamento de um modelo novo de carro para consumo popular. Com o aumento da audiência das novas mídias e dos canais fechados de televisão que não passam a campanha eleitoral, os especialistas acreditam que a propaganda nos canais abertos de rádio e televisão tende a ter sua importância relativizada, embora continue exigindo um gasto importante.
O histórico recente mostra que a audiência desses programas é grande no início da campanha, depois decresce e volta a subir na reta final. Nesse ambiente novo, crescem de importância as inserções no meio da programação normal. Para o analista Jairo Nicolau, cientista político especialista em análises eleitorais, um
tempo de televisão básico entre 5 e 8 minutos é suficiente para uma boa campanha eleitoral, e se não for muito bem feito, um tempo excessivo como o da candidata Dilma Rousseff pode se transformar em uma
problema na campanha.
Ele cita o ocorrido com Ulysses Guimarães, que em 1989 tinha “um latifúndio” de tempo de televisão e teve uma votação pífia. Da mesma maneira, na última eleição presidencial a ex-ministra Marina Silva teve pouco mais de 1 minuto e chegou e terceiro lugar com cerca de 20 milhões de votos.
Nicolau considera que o mais prejudicado será o candidato Campos, da Coligação “Unidos pelo Brasil”, que terá apenas 1 minuto e 49 segundos, quase o mesmo tempo que a então candidata do PV à Presidência e hoje sua vice Marina Silva teve em 2010: 1 minuto e 26 segundos. Ela, ressalta Jairo Nicolau, era conhecida do eleitorado, o que não acontece com Campos.
Aécio terá 50 minutos de inserções e Campos terá 22 minutos. Com a divulgação do tempo que corresponderá a cada um dos candidatos à Presidência da República este ano, ficou patenteada, pois, a enorme vantagem que a presidente Dilma terá nos 45 dias de propaganda oficial de rádio e televisão que começam em meados de agosto.
A coligação “Com A Força do Povo”, formada por 8 partidos, terá 11 minutos e 48 segundos, poucos segundos a mais do que teve em 2010, devido à adesão do PSD, terceira maior bancada da Câmara, que contrabalançou com sobras a dissidência do PSB e do PTB que compunham a aliança original.
Já a chapa “Muda Brasil”, de Aécio, ficou com 4 minutos e 31 segundos, bem menos em relação à campanha presidencial de 2010, quando José Serra teve com sete minutos e 18 segundos. Aécio terá também menos inserções do que tiveram Serra e Geraldo Alckmin quando candidatos.
A coligação que apoia o candidato do PSDB perdeu o PPS, que se bandeou para Campos, e sofreu com a redução de suas bancadas, especialmente do DEM, que foi desidratada com a criação do PSD.
O candidato do PSC, Pastor Everaldo, que aparece com 4% nas pesquisas, terá 1 minuto e 8 segundos, o que pode representar, paradoxalmente, um reforço à sua candidatura, já que ele é inteiramente desconhecido do eleitorado fora do círculo da Assembleia de Deus e pode ampliar sua penetração. O cálculo de seus coordenadores é de que ele tem fôlego para chegar a 10% dos votos, o que o tornaria uma peça fundamental para a disputa do segundo turno.
Nessa parte decisiva da campanha eleitoral, portanto, a presidente Dilma sai em vantagem, até ampliando
seu tempo de propaganda eleitoral, enquanto seus adversários têm problemas, notadamente o candidato tucano Aécio, que viu reduzido seu tempo de rádio e televisão, mas, sobretudo, o das inserções publicitárias.
Resta a ele acreditar que as dissidências nos partidos da base aliada compensarão na propaganda paralela a vantagem que a presidente Dilma tem na propaganda oficial.
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