• Vaccari foi à sede da GFD semanas antes de Youssef ser preso na Lava Jato
• Petista diz que deixou o prédio após saber que o doleiro não estava, mas não esclareceu por que queria encontrá-lo
Fernanda Odilla, Bruno Boghossian – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Um mês antes de a Polícia Federal realizar prisões e buscas da Operação Lava Jato, o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, esteve na sede de uma das empresas usadas pelo Alberto Youssef num esquema bilionário de lavagem de dinheiro, segundo as investigações.
Questionado sobre sua presença na GFD Investimentos, em São Paulo, Vaccari admitiu conhecer Youssef e que foi ao local para encontrá-lo. Disse que foi embora ao saber que o doleiro não estava.
O petista afirmou "não ter relacionamento" com o doleiro, mas não explicou a razão pela qual foi procurá-lo.
O relatório de investigação da PF reproduz o registro de entrada e saída de Vaccari na sede da GFD na manhã do dia 11 de fevereiro deste ano. A Lava Jato foi deflagrada em 17 de março, quando cinco doleiros foram presos, entre eles Youssef.
"Conheço o sr. Alberto Youssef, mas não tenho nenhum relacionamento com ele. Na data citada estive no local, mas fui informado de que ele não se encontrava", disse Vaccari à Folha, que não detalhou o motivo da visita, mesmo após novo questionamento da reportagem. A PF diz que irá apurar o motivo da visita.
Vaccari passou pelas catracas do prédio como visitante às 10h27 e saiu quatro minutos depois, conforme tabela reproduzida pela PF no inquérito da Lava Jato. Ao deixar registrado seu RG na recepção, informou que visitaria a empresa de Youssef.
Homem de confiança do ex-presidente Lula e ligado ao ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais), Vaccari é responsável pelas contas do PT desde 2010.
Conhecido por ser discreto, é acusado pelo Ministério Público de participar de desvio de dinheiro na Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), em 2002. O petista diz que é perseguido por promotores.
Com sede no segundo andar de um prédio no bairro Itaim Bibi, a GFD Investimentos não tinha "atividades comerciais de fato", segundo depoimento da contadora Meire Poza, que prestava serviços à empresa e revelou à PF detalhes do esquema comandado por Youssef.
"A GFD recebia recursos de construtoras em contrapartida à emissão de notas fiscais, sem a respectiva prestação de serviços", disse Poza à PF. Ela falará nesta quarta (13) ao Conselho de Ética da Câmara, que apura ligações entre Youssef e o deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA).
Ela contou que foi para a GFD a convite de Enivaldo Quadrado, que se apresentava como diretor financeiro da empresa. Ele foi condenado no julgamento do mensalão por ter usado sua corretora para abastecer o esquema de compra de apoio parlamentar do primeiro governo Lula.
Quadrado trabalhava na sede da GFD até a PF desvendar o esquema de Youssef. Em seu relatório, a PF afirma também que Quadrado citou o nome de Vaccari num e-mail de fevereiro de 2012 que tratava do Petros, fundo de previdência da Petrobras.
Em razão dessa mensagem, a PF suspeita que o petista possa ter intermediado negócios entre o Petros e empresas de Youssef, como mostrou a Folha na última terça.
Nesta terça (12), Vaccari reafirmou que não conhece e nunca esteve com Quadrado. "Também não fiz qualquer tipo de intermediação entre a GFD e o Fundo Petros", disse por meio da assessoria do PT.
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