- O Estado de S. Paulo
Em 2 de fevereiro celebra-se, em Punxsutawney, Pensilvânia, Estados Unidos, o Dia da Marmota. É quando as autoridades locais, vestidas de fraque e cartola, esperam que a marmota saia da toca. Conforme a sombra projetada, os entendidos têm uma indicação da duração do inverno.
O Banco Central do Brasil também tem sua marmota. Leva nome e sobrenome de Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). É o indicador que todos os meses antecipa a evolução do PIB, aparentemente com mais rigor do que a obtida pela avaliação da sombra projetada por um bicho simpático.
O IBC-Br ontem divulgado, apenas dez dias depois do Dia da Marmota, mostrou que, em dezembro, a renda nacional recuou 0,55%, submetidos os números aos devidos descontos sazonais. Isso aponta para uma queda do PIB, em 2014, de 0,15%.
O IBC-Br é um cálculo que simplifica a complexa metodologia das Contas Nacionais. Mas, com uma antecedência de mais de 30 dias (o PIB de 2014 só será divulgado no dia 27 de março), dá uma ideia do ritmo da atividade econômica.
Não será surpresa se os dados definitivos mostrarem uma variação negativa do PIB em 2014. O comportamento da economia aponta boa probabilidade de que isso aconteça. E os primeiros números de janeiro a vêm confirmando. É fator que define um arrasto também negativo para este ano. Assim, precisará de mais energia para uma arrancada para o positivo.
É pura mistificação a explicação repetida pelo governo Dilma para esse mau desempenho. Não é a crise externa ou a seca que o vem provocando. A área do euro, que vem sendo mais duramente castigada pela crise, deverá ter crescido pelo menos 0,8% em 2014, conforme apontam as projeções da revista The Economist. O PIB vai mal em consequência das escolhas equivocadas de política econômica feitas nos últimos quatro anos, como esta Coluna apontou tantas vezes.
E se a seca tivesse sido obstáculo relevante, o setor mais vulnerável à estiagem, como não pode deixar de ser a agricultura, estaria prostrado. No entanto, em volume, a produção de grãos em 2014 cresceu 2,5%, como mostram as estatísticas do IBGE. E as perspectivas da próxima safra, que deveria estar sendo ainda mais duramente atingida, são promissoras. O IBGE projeta uma produção 4,4% mais alta e a Conab, outro organismo que monitora os resultados, trabalha com 3,4% . Isso não significa que o PIB da agricultura vá aumentar na mesma proporção porque esse indicador depende dos preços. Já é fato sabido que as cotações internacionais das commodities estão em queda firme.
O ajuste fiscal colocado em prática pela equipe do Ministério da Fazenda não é o único fator que tende a inibir a atividade econômica ao longo de 2015. Há o baixo nível de confiança que adia não apenas o consumo, mas, também, projetos de investimento.
Mas a maior incerteza, capaz de derrubar a produção e a renda, é a que cerca os suprimentos de energia elétrica e de água tratada. Em caso de racionamento, cada vez mais provável, o setor produtivo poderá enfrentar retração de até 1,5%, dependendo de sua intensidade e de quando começará.
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