• Youssef liga ex-ministro condenado no mensalão a esquema de corrupção
• Delator diz que petista e ex-ministro Palocci tinham ligação com empresário que admitiu ter pago propina
Aguirre Talento, Flavio Ferreira, Gabriel Mascarenhas, Mario Cesar Carvalho e Rubens Valente – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA, SÃO PAULO, CURITIBA -O doleiro Alberto Youssef afirmou que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que cumpre pena por participação no escândalo do mensalão, sabia que o PT recebia recursos de empreiteiras que pagaram propina para fazer negócios com a Petrobras.
De acordo com Youssef, Dirceu e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci tinham "ligações" com um dos empresários que admitiram ter pago suborno a diretores da estatal.
O depoimento de Youssef foi prestado aos procuradores da Operação Lava Jato em caráter sigiloso em 10 de outubro e tornado público pela Justiça Federal nesta quinta (12).
Youssef, que decidiu colaborar com a Justiça em troca da redução de pena, disse que Dirceu era "amigo" do empresário Julio Camargo, que também fez acordo de delação premiada. Camargo não citou Dirceu em seus depoimentos.
Dirceu repudiou as declarações de Youssef. A assessoria de Palocci disse que ele não comentaria o depoimento.
O doleiro disse que recebeu recursos de Camargo no exterior e distribuiu valores equivalentes para escritórios do empresário no Rio e em São Paulo, destinados ao PT.
Antes do repasse ao partido, Youssef descontou a sua parte do surborno e de outros funcionários da Petrobras.
"O dinheiro entregue pelo declarante [Youssef] em São Paulo servia para pagamento da [empreiteira] Camargo Corrêa e da Mitsui Toyo ao PT, sendo que as pessoas indicadas para efetivar os recebimentos à época eram João Vaccari e José Dirceu", disse o doleiro, referindo-se também ao tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto.
Youssef afirmou ainda ter visto, em poder de um operador de Camargo, uma planilha de pagamentos de propina e caixa dois com diversos apelidos e valores. Dirceu, segundo o doleiro, era identificado como "Bob", apelido de um ex-assessor de Dirceu.
Em relação ao papel do ex-ministro, o doleiro não apresentou à PF provas documentais de suas afirmações nem explicou como teria conhecimento da eventual participação de Dirceu no esquema.
As autoridades já haviam descoberto que Dirceu recebeu, por meio de sua consultoria, R$ 4,6 milhões das empreiteiras UTC, Camargo Corrêa, Galvão Engenharia e OAS. Executivos dessas empresas estão presos desde novembro sob acusação de envolvimento no esquema.
Segundo Youssef, Dirceu usou "em diversas oportunidades", depois que deixou o governo Lula, em 2005, um jatinho modelo Citation Excel pertencente a Camargo e que ficava no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
O doleiro disse não saber quantas vezes o avião foi utilizado nem a razão dos voos.
Youssef também relatou que entregou R$ 800 mil a Vaccari e à sua cunhada, Marice Corrêa Lima, a mando da Toshiba Infra-Estrutura, que faz parte do grupo japonês. A empresa foi contratada para fazer subestações de energia elétrica no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) por R$ 117 milhões.
Em outro depoimento, Youssef afirmou que a Odebrecht e a UTC pagaram propina de R$ 20 milhões ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ao ex-deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010, e a João Cláudio Genu, assessor do partido que foi absolvido no julgamento do mensalão.
O doleiro citou mais dois congressistas do PP. Ele afirmou que um deputado federal chamado "Luis Fernando" influenciou a contratação de uma empresa pela Petrobras. O depoimento não cita o sobrenome do congressista.
Youssef confirmou ainda que o ex-deputado federal Luiz Argôlo, hoje no Solidariedade, era um dos parlamentares que recebiam propina do esquema de corrupção na Petrobras, com "repasses mensais a partir dos contratos da Diretoria de Abastecimento". Argôlo deixou o PP em setembro de 2013.
O ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, que também colabora com as autoridades, disse que ouviu de um lobista que o ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) teria recebido R$ 400 mil de uma empresa. Vaccarezza disse que a acusação vaga equivale a uma absolvição.
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