• Aguinhas de fevereiro e confiança na sorte, na recessão e no tarifaço esfriam conversa de racionamento
- Folha de S. Paulo
O apagão de janeiro e as chuvas frustrantes desse mês passado causaram um rebuliço de conversas sobre racionamento de eletricidade. Bastaram alguns milímetros d'água em fevereiro para esfriar a agitação, no governo inclusive; a atenção do público, de resto, não dura muito para quase qualquer assunto. Por ora, a intenção é empurrar o assunto com a barriga e não tratar de racionamento até o final de março.
Oficialmente, vai haver uma reunião de revisão do estado de pré-calamidade no fim de fevereiro, mas o pessoal mais político do governo está animado com a "hidrologia favorável" até o final de março.
Pode ser. É contar com o azar. No final de dezembro, estimava-se que a água que entraria nas represas do Sudeste em janeiro seria equivalente a 100% da média histórica. Entrou um terço, por aí.
Assim, o governo federal decidiu seguir o caminho suave, digamos. Em parte, deixa estar para ver como ficam os reservatórios, se possível esticando a corda até o final das águas no centro-sul do país, em março, tal como o fez o governo FHC em 2001. Em parte, adota "medidas de racionalização".
Por exemplo, o governo tenta um jeito de fazer com que as empresas se virem a fim de arrumar energia, seja recorrendo aos geradores delas ou por meio de um racionamento na conversa ("poupem aí, tá?"). Confia ainda em que o aumento de preços, o tarifaço da eletricidade, reduza o consumo, o que é uma crença razoável, embora esteja difícil de estimar de quanto será o desestímulo do uso de energia.
Pergunte-se, de passagem: se o governo acredita nisso agora, no efeito do preço no consumo, porque não o fez quando os reservatórios baixavam rapidinho em 2014? Por cabeça dura, demagogia, irresponsabilidade e incompetência.
O consumo tem de fato caído. Na estimativa preliminar da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica para os primeiros dez dias de fevereiro, o consumo teria caído mais de 6% em relação ao mesmo período do ano passado. A economia está cada vez mais lerda, a conta da eletricidade está cada vez mais cara e o calor diminuiu. Ou seja, "só está bom porque está ruim". Ainda assim, a geração de energia nas hidrelétricas caiu mais de 10% em relação ao início de fevereiro de 2014.
É preciso ressaltar que o governo deixa como está para ver como é que fica com base em estimativas otimistas: de que mesmo chovendo menos que a média histórica em fevereiro e março vai haver água bastante para produzir energia durante todo o período seco no centro-sul (de abril a novembro).
"Otimistas" em relação ao que estimam empresas, consultores e economistas do setor privado. Pode ser que o pessoal do setor privado esteja alarmado além da conta, como foi um pouco o caso em 2013 e no início de 2014. Desta vez, no entanto, parecem mais ponderados que o governo quase inerte.
Muita gente entendida do assunto diz que não haverá como evitar racionamento se não chover pelo menos a média histórica em fevereiro e março. Mesmo neste início de fevereiro menos seco, chove menos que a média registrada desde 1931. No entanto, a gota d'água animou os políticos (mas não os técnicos) do governo federal e Geraldo "Não Vai Faltar Água" Alckmin.
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