Para uma economia fraca, mais juros
• Decisão unânime do Copom de elevar a taxa Selic para 12,75% é criticada por economistas e entidades de classe que questionam a eficácia da alta dos juros no combate à inflação
André Boudon, Alessandra Taraborelli – Brasil Econômico
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central mais uma vez agiu conforme o previsto e elevou em meio ponto percentual a taxa referencial de juros, a Selic, para 12,75%. O que ainda gera dúvidas cada vez mais fortes é em relação à eficácia da política monetária restritiva sobre a inflação, que não para de subir, mesmo com o ciclo de aperto monetário que desde setembro passado elevou os juros em 1,75 ponto percentual. A decisão foi unânime, de acordo com o comunicado divulgado pela autoridade monetária. "Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 p.p., para 12,75% a.a., sem viés". Unânimes também foram as críticas das entidades ligadas ao setor produtivo.
Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a decisão de aumentar a taxa Selic pela quarta vez consecutiva é incompatível com o quadro de recessão da economia brasileira. No comunicado, a federação afirma que o ajuste fiscal "feito por meio de aumento da carga tributária e corte dos investimentos públicos não só é nocivo ao crescimento no longo prazo como também não parece ser viável na atual conjuntura econômica e política". O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Rogerio Amato, afirmou, também em comunicado, que a decisão do BC contribui para desacelerar ainda mais a economia. "Todos os indicadores de desempenho das empresas mostram que a economia está fraca e caminhando para a recessão. A combinação de aumento de impostos e tarifaço, de um lado, e juros elevados, de outro, deve agravar a tendência de desaceleração, com reflexo negativo sobre o emprego e a renda". Segundo a Força Sindical, a decisão do BC foi "desastrosa". "Os insensíveis tecnocratas do Banco Central perderam, novamente, uma ótima oportunidade de afrouxar um pouco a corda que está estrangulando o setor produtivo, que é quem gera emprego e renda.
Infelizmente, mais uma vez, o governo se curva diante dos especuladores. A decisão frustra a sociedade, que ansiava por uma queda na taxa básica de juros", criticou a entidade. O economista-chefe do Santander Brasil, Mauricio Molan, acredita que novas altas de juros seriam desnecessárias, já que a economia está em recessão. Porém, o Banco Central deve manter o ritmo de alta e subir a taxa em mais 0,50 ponto percentual na próxima reunião para segurar os efeitos da valorização do dólar sobre a inflação. Além disso, os efeitos do ajuste fiscal ainda são incertos. Por isso, o economista acredita que os juros altos agora não terão apenas a função de desaquecer a atividade mas de conter expectativas. "O país caminha para contração forte da demanda neste ano, o que vai segurar a inflação no ano que vem, sem necessidade de mais elevações de juros.
Mas há incertezas grandes no mercado, em função da capacidade do governo implantar o ajuste fiscal", disse. Para o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, o Banco Central está numa encruzilhada, com a inflação se deteriorando e a atividade econômica desacelerando. A alta de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic, para 12,75% ao ano não será suficiente para impedir que a inflação chegue próximo do patamar de 8% este ano, em razão da alta dos preços administrados, principalmente energia e combustível, e da desvalorização do real. "Energia e combustível são preços que entram na cadeia produtiva e o impacto é maior. Um aumento de cerca de 50% na energia entra no custo de toda a economia", diz, ressaltando ainda que a pressão na inflação pode se intensificar com o final da operação de swap cambial. De acordo com Weeks, se o BC decidir pelo fim da cota diária de swap cambial, o dólar poderia ultrapassar R$ 3,00 no final do ano o que levara a taxa Selic a situar-se em 14%em dezembro.
"No nosso cenário alternativo, com o BC parando de rolar e deixando o câmbio andar, a moeda chegaria no final do ano entre R$ 3,30 e R$ 3,50, o que significaria Selic entre 13,50% e 14% para que não tenha que revisar a inflação de 2016", pondera. "No curto prazo vai ser duro, mas no médio e longo prazo o que se vê é um crescimento mais sustentável", avalia. Ao contrário de uma grande fatia do mercado que apostava em mais uma alta de 0,25 ponto porcentual da Selic em abril, Weeks acredita que a autoridade monetária não terá espaço para reduzir o ritmo de alta. "Abril não vai ter espaço para reduzir a alta, vai ser o momento em que o inflação deve estar acima de 8%", diz. Para o diretor de gestão de recursos da Ativa Investimentos, Arnaldo Curvello, a política monetária tem eficácia pequena, é mais um fator psicológico. "A inflação está subindo, é mais medo. Brasil parou e sobe juro neste cenário? A inflação de tarifa já existia estava apenas sendo acobertada, agora ela apareceu", diz, se referindo aos preços administrados. "Não vejo eficácia. Se não sobe juro, dólar sobe. Está tudo desalinhado", diz, acrescentando ainda que o único "fio de esperança", é o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com medidas fiscais eficientes.
Curvello chama a atenção para o fato de o Senado ter sinalizado que não está disposto a ajudar o governo. "O cenário está bagunçado do ponto de vista político. A principal variável agora é a ingovernabilidade. O governo percebeu que não vai ser tão fácil aprovar as medidas necessárias. Esse é um problema que pode minar a credibilidade do governo e, principalmente, das medidas que estão sendo anunciadas", afirma. Para a economista do BI&P Indusval & Partners Natalia Cotarelli, o BC tem feito o seu papel de elevar o juro para conter a inflação. No entanto, ela concorda que os preços administrados e o dólar estão trazendo pressão adicional. "Não consigo ver a inflação em 4,5%em 2016, mas acredito que a convergência se dará para o intervalo da meta", estima. Sobre a ata da reunião que será divulgada na próxima quinta-feira, Natalia acredita que o colegiado do BC deve adotar um tom mais neutro, deixando espaço para mexer na Selic conforme for necessário.
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