• A deterioração política não se limita à crescente hostilidade no Congresso e das bases de apoio do governo, em consequência da insatisfação na distribuição das fatias do poder
- O Estado de S. Paulo
A situação econômica já vinha em franca deterioração. Agora se junta a ela a franca deterioração da situação política. Se não houver pronta reação do governo, o efeito pode ser devastador.
A presidente Dilma está isolada. Não conta com o apoio de importante fatia do PMDB, como se viu pela rebelião e pelas chantagens do presidente do Senado, Renan Calheiros, nem do restante da base aliada, que não se comporta como tal. Dilma tampouco conta com seu partido, o PT, que se omite e não se sente à vontade para defender a política fiscal. E, agora, enfrenta a baixa densidade política dos seus ministros mais próximos, que não conseguem ascendência nem sobre os demais ministros, nem sobre a base política, nem sobre os sindicatos, nem sobre a militância do PT.
Todos os dias, as estatísticas mostram que a atividade econômica soluça. Nesta quarta-feira, por exemplo, foi a vez da produção industrial que, no período de 12 meses terminado em janeiro, recuou 3,2% (veja o gráfico, no Confira). No dia 27, ficaremos sabendo em quantas ficou a retração do PIB em 2014. Os prognósticos também são ruins. O mercado trabalha com uma queda de 0,58% na renda nacional em 2015, como se pode aferir pela Pesquisa Focus, do Banco Central. A inflação salta para além dos 7,5% ao ano. E não sobra outra opção ao Banco Central senão a de puxar pelos juros.
Mais preocupante ainda é o comportamento das contas públicas. O ajuste fiscal montado para produzir um superávit primário de 1,2% neste ano está ameaçado. O risco de rebaixamento da qualidade da dívida do Brasil está cada vez maior.
Depois de ouvir, meses a fio, de Dilma e de seu governo, que a saúde da economia é excelente e que não passa de semeador de pessimismo quem clame por responsabilidade fiscal e por mais austeridade, ficou mais difícil de entender o novo discurso do sacrifício e da distribuição de contas, a começar pelo tarifaço de 50% no consumo de energia elétrica.
A deterioração política não se limita à crescente hostilidade no Congresso e das bases de apoio do governo, em consequência da insatisfação na distribuição das fatias do poder. Cresce agora diante da iminência da divulgação da lista dos políticos envolvidos em corrupção. Os mais visados vêm insistindo em que o governo não está fazendo o suficiente para protegê-los da linha de tiro. E que pretende usar as denúncias como forma de intimidação e de controle do poder.
Tudo isso acumula incertezas, instabilidade e erosão da confiança, que vão para os preços. Ontem, por exemplo, as cotações do dólar no câmbio interno ficaram por um triz abaixo dos R$ 3 (veja o gráfico ao lado). Não há administrador de fundo de investimento multimercado que não esteja apostando na alta do dólar. Empresa endividada em moeda estrangeira e dependente de fornecimentos externos de máquinas e insumos já vai trabalhando com outros patamares de custos.
A presidente Dilma programou um pronunciamento pela TV para angariar apoio para o que tem de ser feito. Para isso, ela tem de saber que inimigo enfrentar. Desta vez, pode estar bem mais perto dela do que das outras vezes.
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