- Folha de S. Paulo
Num dos diálogos mais tensos da terceira temporada de "House of Cards", Frank Underwood diz a sua mulher, Claire: "Somos sobreviventes" (não é spoiler; a cena está no trailer do Netflix). A frase, com toda a sua carga dramática, poderia ter saído da boca de Renan Calheiros (PMDB-AL).
Prestes a completar 60 anos, o presidente do Senado começou sua carreira política nos anos 70, no antigo MDB. Foi deputado estadual e federal e está no Senado há 21 anos.
Líder de primeira hora da chamada República de Alagoas, sobreviveu ao impeachment de Fernando Collor porque teve a sorte de romper com ele ainda no fim de 1990.
Ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, não teve dificuldade de ser aceito como aliado pelo ex-presidente Lula, condição na qual chegou à presidência do Senado.
Acusado de contar com pagamentos da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão alimentícia à mãe de uma filha que teve fora do casamento, renunciou à presidência da Casa em 2007. Enfrentou mais de uma tentativa de cassação e escapou a todas.
Quando parecia carta fora do baralho, se reelegeu e conseguiu retornar ao comando do Senado.
Agora, volta a ser citado em irregularidades, ao integrar a chamada "lista do Janot", de políticos acusados de se beneficiar de esquema de pagamento de propina na Petrobras.
Se a reação da maioria seria se retrair, Renan partiu para a ofensiva e devolveu a Dilma Rousseff uma medida provisória crucial ao ajuste fiscal, levando caos ao mercado já apavorado com tantas más notícias.
Dotado de rara resiliência e frieza inabalável, o peemedebista espera suplantar mais esse revés. Espertamente, se aproxima da oposição, que rasgou elogios à sua "coragem". Com a caneta de presidente do Senado, pode causar mais danos a Dilma.
Quanto a seus problemas com a Justiça, sabe que se arrastarão por muito tempo, dando a ele a chance de reagir nas próximas temporadas.
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