• Presidente opera reforma ministerial em zona de alto risco
- Valor Econômico
O ex-presidente Lula, o PT e a cúpula do PMDB ainda não desistiram de tirar o ministro Aloizio Mercadante do Palácio do Planalto. Para eles o nome da crise é Dilma Rousseff e seu coordenador o atual chefe da Casa Civil. Se dependesse de Lula, Dilma trocaria Mercadante por um nome como o de Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e José Eduardo Cardozo por Nelson Jobim no Ministério da Justiça. Não é de hoje que Lula desistiu de esperar por Dilma e tomou a dianteira do processo, seja na política, na costura que aproximou do governo o PMDB do Rio, seja no estreitamento das relações com Jobim, que cumpre em relação à Lava-Jato o papel de articulador que Cardozo nunca foi capaz de cumprir ou não quis compreender.
Numa recente reunião de oito líderes aliados, discutiu-se o futuro de Mercadante, Cardozo e Joaquim Levy (Fazenda). Ninguém defendeu Mercadante. Um emissário levaria o pedido do grupo para a demissão do ministro. Dilma ficou sabendo e matou a iniciativa no nascedouro. Lula e o PT desistiram de ficar pedindo a cabeça de Mercadante. Talvez assim Dilma, mais adiante, entenda que o ministro é o nó que não desata na relação política com o Congresso e os partidos aliados. No momento, estão mais preocupados com a operação de alto risco em que a presidente se meteu na reforma do ministério. Desde o início a ideia de Lula era empoderar o PMDB, oferecendo ministérios fortes ao partido e às bancadas, mas sem excluir do jogo o vice-presidente e presidente do PMDB, Michel Temer, como acabou acontecendo na primeira investida de Dilma.
Em termos congressuais, o impeachment de Dilma pode ser amanhã, quarta-feira, uma possibilidade mais remota que na primeira semana de agosto, quando uma articulação político-empresarial lançou a boia de salvação para a presidente da República. Bem ou mal as medidas do ajuste fiscal foram aprovadas no Congresso e o governo fechou uma proposta orçamentária para 2016. A presidente está novamente acuada na reforma ministerial. Se errar, pode jogar Michel Temer nos braços dos "carbonários" do PMDB, como Geddel Vieira Lima (BA) ou Jarbas Vasconcelos (PE), da tropa de choque do impeachment, no lugar de mais moderados como o ex-ministro Moreira Franco (RJ).
A presidente, pelo visto, se deixou levar pelas intrigas palacianas sobre supostas conspirações do vice para assumir o seu lugar. Por outro lado, o PMDB do Senado também informou Dilma que o vice não tinha nenhum voto na Casa. E a bancada do PMDB da Câmara reclamava por um representante, pois entendia que Temer levara para o ministério apenas os mais chegados, integrantes da turma mais assídua do Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente.
De saída, a oferta da presidente reduzia o número de ministérios em poder do PMDB de seis para cinco ou até quatro pastas, dependendo do desenho. Ela pediu para a Câmara nomes para os ministérios da Saúde e da Infraestrutura, pasta que seria criada com a fusão do ministérios da Aviação Civil e dos Portos - as duas em poder de aliados de Michel Temer. Demitidos em público, já nem se pode dizer que os ministros dessas duas pastas ainda são indicações de Temer, que desaconselhou a reforma e evitou falar em nomes.
Este é o impasse atual de uma reforma que teria chances de dar algum refresco para Dilma, mas que pode se transformar num problemão se a presidente não entender a geografia pemedebista. A tacada sobre o PMDB do Rio foi bem articulada e executada, num momento em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se embaralha nos desvãos da Operação Lava-Jato. O soneto carioca contou também com a participação de Sérgio Cabral, mas no PT de Lula cresceu o prestígio do governador Luiz Fernando Pezão, considerado mais ousado e eficiente na política que o antecessor. Pezão já tenta se articular com outros governadores do PMDB, como Paulo Hartung (ES) e Confúcio Moura (RO). Pressionado pela Lava-Jato, Cunha deve perder espaço para Picciani - só não está claro se há um entendimento entre os dois. Quem conhece bem Cunha conta que ele se considera "traído".
Lula não procurou o prefeito Eduardo Paes para conversar sobre os jogos olímpicos. Dilma opera, portanto, numa zona de alto risco. Se conseguir atender às bancadas do Senado, da Câmara e o vice Michel Temer, terá sido uma jogada de mestre. Do contrário, a crise pode se agravar e talvez voltar para onde estava antes do freio de arrumação tentado em agosto. Se conseguir estabilizar a política, o governo pode cuidar com mais tranquilidade da economia. Os antecedentes não recomendam otimismo.
Inconformado com a perspectiva de deixar o Palácio do Planalto, Miguel Rossetto articula para si a criação do Ministério da Cidadania, fruto da fusão das pastas da Igualdade Racial, Direitos Humanos e Mulheres, que Dilma não gostaria de acabar, mais os movimentos sociais abrigados na Secretaria Geral da Presidência. Ocorre que Ricardo Berzoini, atual ministro das Comunicações, só aceita trocar de cargo para voltar à articulação política do governo pela Secretaria Geral, se mantiver os movimentos sob sua área de influência. Rossetto é do sul e amigo da presidente, que gostaria de mantê-lo no governo, mas o PT tem dificuldades para assimilar a extinção de três pastas simbólicas para o partido. Se este for o fim inevitável, uma corrente forte prefere que seja nomeada para o posto a ministra Eleonora Menicucci (Política para Mulheres), mas sem os movimentos sociais. Berzoini não quer ser apenas mais um garçom, aquele que anota os pedidos dos deputados, como eram conhecidos antigos ministros da Secretaria de Relações Institucionais.
A última investida da presidente Dilma sobre o baixo clero do PMDB, como ela faz agora na reforma ministerial, deu em Pedro Novaes (MA) no Turismo. O ex-deputado não tinha as credenciais de um petrolão, mas acabou enrolado nos lençóis de uma cama de motel.
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