Por Vandson Lima - Valor Econômico
BRASÍLIA - Em meio a gritaria e troca de acusações no plenário, senadores de oposição pediram a renúncia imediata da presidente Dilma Rousseff e avisaram que ingressarão com ações contra a presidente por obstrução de Justiça.
O fato ocorreu após a revelação de grampos telefônicos nos quais Dilma supostamente teria agido para blindar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, encaminhando a ele um "termo de posse" de ministro para ser usado em "caso de necessidade" - o foi interpretado como uma tentativa de impedir o juiz federal Sergio Moro de pedir a prisão do ex-presidente antes de sua posse na Casa Civil.
"As ruas vão se incendiar. As denúncias são gravíssimas", avaliou o líder da oposição, senador Agripino Maia (DEM-RN). "É de extrema gravidade, ela precisa renunciar. O telefonema revela clara obstrução da Justiça", disse o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB).
Para o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG) "é a falência definitiva de um governo que ultrapassou todos os limites éticos e morais para defender os seus aliados. A presidente Dilma não tem mais condições de governar o Brasil".
Cobrado pela oposição, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) se negou a levar a Casa a assumir imediatamente uma posição. "É prudente aguardarmos o conhecimento detalhado dos fatos para que possamos posicionar o Congresso Nacional". Renan, com seis inquéritos e um novo pedido de investigação no âmbito da Operação Lava-Jato, fez severas críticas à atuação do juiz Sérgio Moro, a quem chamou de "juiz de exceção". "Um juiz de exceção não pode substituir, por mais que queira, o Supremo Tribunal Federal (STF). E aí, por conta dessa polarização, o entendimento de que ser julgado pelo Supremo não é ser julgado pela Justiça nessa excepcionalidade que vivemos. Até parece que um juiz de exceção pode simbolizar o sistema judicial como um todo. Não", atacou Renan.
Líder do governo no Congresso Nacional, o senador José Pimentel (PT-CE) chamou o juiz Sérgio Moro de "ditador", em meio às discussões. "Hoje, por achar que é preciso fazer uma atalho para chegar à Presidência da República, resolvem apoiar um ditador que não respeita a legislação brasileira, que é o que é o Juiz Federal Sérgio Moro", atacou. "Não estamos aqui defendendo apenas a presidenta Dilma, estamos aqui defendendo a Constituição brasileira. Este país não pode ser vítima da vontade de alguns em detrimento da legislação brasileira. No dia em que fizermos isso vamos voltar a 1964 e, aqui, grande parte dos nossos pares, todos foram para as ruas para combater o estado de exceção, para combater a ditadura militar", continuou em referência ao período da ditadura militar.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) também alegou que a gravação pode ter sido feita e vazada de maneira ilegal: "a única coisa que é extremamente grave neste episódio é a Polícia Federal vazar uma conversa da presidenta Dilma com o ex-presidente Lula. Esta conversa aconteceu pouco mais de 11h da manhã de hoje [ontem]. Esse é o escândalo, sr. Presidente! É um vazamento despropositado de uma conversa privada da Presidenta da República. Isso, sim, nós temos que apurar e investigar".
A sessão do Senado foi encerrada mais cedo por Renan, sem votações mais importantes.
Os caciques do PMDB devem se reunir para definir a posição da sigla diante dos novos fatos. Anteontem, entrou pela madrugada um encontro em que estavam presentes Renan Calheiros, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), o senador Romero Jucá (RR) e o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga. Ministro da Defesa, Aldo Rebelo (PCdoB) também participou, segundo relatos. Na conversa, os pemedebistas se mostraram incomodados por estarem à parte das negociações da entrada de Lula no governo e se mantinham céticos quanto à mudança conseguir debelar a crise.
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