A principal bomba da crise política ontem – a homologação pelo juiz Teori Zavascki da delação do senador Delcídio Amaral, com revelações de envolvimento pessoal de Dilma Rousseff e que ampliam o do seu antecessor, e incluindo o áudio de diálogo entre um auxiliar do senador e o ministro Aloizio Mercadante com declarações comprometedoras dele e também da presidente – essa bomba retardou, e complicou, a nomeação de Lula para o Ministério. Num contexto em que isso constitui, ou constituirá, de fato a transferência do comando do Executivo federal dela para seu padrinho e mentor. Ao qual caberá, primeiro, liderar a tentativa de reversão do processo de impeachment que se tornou quase irresistível após o “aviso prévio” de desembarque do PMDB da base parlamentar governista, dado no sábado, e o forte impacto no Congresso das enormes manifestações de rua em todo o país realizadas no domingo. E empenhar-se no enfrentamento do outro desafio ou aposta de caráter especificamente político-partidário: a contenção do derretimento do petismo e da erosão do mito Lula. Esta segunda aposta independente da duração e do resultado da primeira, por meio de uma guinada na condução da política econômica, preparatória de uma agressiva contraposição populista ao governo que substitua o que resta da administração atual. Seja o encabeçado pelo vice Michel Temer, no caso da aprovação do impeachment no Legislativo (alternativa mais rápida) ou de uma renúncia de Dilma; seja o resultante de novas eleições decididas pelo Judiciário (solução mais legítima, porém mais demorada). Contraposição que tentará reduzir a dimensão ética, moral, daquele derretimento com o retorno ao radicalismo classista do petismo original, apoiado na frente Brasil Popular em formação.
O adiamento de ontem para hoje da nomeação de Lula como superministro, presidente de fato, decerto deveu-se sobretudo ao impacto das revelação da delação de Delcídio Amaral. Que exigiu esforço maior na avaliação das ameaças, para o Planalto, para à própria Dilma e para seu tutor, representadas pelos passos já dados na operação Lava-Jato e nas demais frentes das investigações contra a corrupção e por novos desdobramentos delas. Entre estes o de preparo da delação da mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura, na qual o alvo central dos investigadores é o financiamento das campanhas eleitorais do lulopetismo, inclusive a presidencial de 2014. Mas esse adiamento pode ser decorrido também de alguma resistência de Dilma ao controle por Lula também de condução da política econômica que, posto em prática, representará a rendição completa dela ao tutor.
É, ou será, com tal controle que Lula poderá promover a ampla virada, o chamado “cavalo de pau” nessa condução. Cujo objetivo básico, a recuperação político-eleitoral do lulopetismo, subordina o de salvação do atual governo, que o próprio Lula já deve estar considerando inviável. Essa virada se baseará no “programa de emergência anticrise”, lançado recentemente pela direção do PT com o respaldo do chefe. Programa que começa propondo o abandono do projeto de reforma da Previdência e centra-se numa reanimação da economia propiciado pelo financiamento dos bancos públicos que viabilizaria a reversão do desemprego e o revigoramento do consumo com a retomada de obras de infraestrutura e de programas assistencialistas. Com que dinheiro? Ora, com o uso das reservas cambiais do Banco Central. Avaliado como desastroso para o país, interna e externamente, por nove entre dez economistas (exceto os mais vinculados ao petismo e os de ultraesquerda).
O que – nas negociações da transferência do comando efetivo do poder no Palácio do Planalto encerradas no final desta manhã – evidencia-se como perfeito consenso entre um Lula que precisa de foro privilegiado para escapar da Lava-Jato e demais investigações e uma Dilma, já ameaçada de abertura de processo pela Procuradoria Geral da República, é o desencadeamento de uma verdadeira guerra do Executivo contra todas essas investigações. Por meio de atos articulados e decididos que serão tentados contra as comandadas pelo juiz Sérgio Moro e as promovidas pelo Ministério Público, vários órgãos do Poder Judiciário e também a Receita Federal, bem como pelas autoridades da Polícia Federal (que passarão a ser fortemente pressionadas). “Inimigos” aos quais se juntam os diversos veículos da mídia – jornais, revistas, estações de TV e de rádio – a serem tratados por uma combinação, bolivariana, de ataques às instituições de Justiça e à liberdade de imprensa.
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