- O Globo
O processo de impeachment chega a seu final hoje com o resultado da votação já definido, ficando a dúvida apenas sobre o voto do presidente do Senado, Renan Calheiros — que está entre explicitar seu apoio ao novo governo, ou jogar para a plateia —, exibindo uma pretensa neutralidade que poderá ser-lhe menos útil na formação de uma biografia futura do que o resultado dos processos a que responde no Supremo Tribunal Federal (STF).
Os discursos dos juízes não guardaram muitas surpresas, e os embates políticos de ambas as partes prosseguiram a todo vapor. Os aliados de Dilma, minoritários mas aguerridos, querem sair bem na fita e se esmeram em marcar posições, mesmo as mais esdrúxulas, como a da senadora Gleisi Hoffmann, que reclamou do tom excessivamente politizado para seu gosto dos advogados de acusação, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal.
Mas não achou estranho, e até mesmo se emocionou, quando o advogado José Eduardo Cardozo, a pretexto de defender a biografia da presidente afastada, comparou, de maneira absurda, o julgamento nos tribunais militares a que Dilma foi submetida com o de impeachment no Senado.
A comparação irresponsável foi repetida à noite pelo senador Lindbergh Farias, que voltou a dizer que o Senado não tem moral para julgar a presidente afastada. Finda a possibilidade de mudar os votos, partiu para o ataque mais violento, colocando a luta de classes como o motivo para a derrubada de Dilma Rousseff.
E Cardozo debulhou-se em lágrimas, atitude que já foi ridicularizada quando a advogada Janaina também emocionouse aos prantos em outras ocasiões.
Uma curiosidade foi ver Dilma Rousseff chamando-se de presidente por diversas vezes, enquanto o próprio presidente do STF a chamava sempre de “presidenta”, revelando uma cortesia que pode ser confundida com uma simpatia partidária.
O novo governo começa hoje mesmo, depois do resultado oficial ser anunciado, e Michel Temer poderá viajar para a China com plenos poderes para representar o Brasil na reunião do G-20.
Toda essa narrativa de golpe estará, então, começando a se desfazer, seja pelo reconhecimento internacional à mudança constitucional no país, como por declarações como a de José Miguel Vivanco, presidente da Human Rights Watch, uma das maiores ONGs sobre o assunto no mundo — que disse ontem que os brasileiros devem ficar orgulhosos de terem levado adiante um processo de impeachment dentro de processos legais indiscutíveis e com o país na normalidade democrática.
Vivanco, que já foi advogado para a Comissão de Direitos Humanos da OEA, a mesma a que os petistas recorreram para contestar o processo de impeachment, ainda informou que, pelo que conhece dos procedimentos daquele organismos internacional, não haverá repercussão dessa ação, pois não cabe uma intromissão nos assuntos internos do país.
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