Com sinais mais positivos de crescimento da economia dos EUA, o Fed (banco central norte-americano) voltou a sugerir maior disposição para subir a taxa de juros antes do final do ano. A presidente da instituição, Janet Yellen, disse que o desempenho positivo do mercado de trabalho pode vir a justificar a necessidade de conter eventuais pressões inflacionárias.
As indicações de alta considerável, porém, têm sido frustradas desde 2014 por motivos variados: a valorização do dólar (o que enfraqueceria exportações norte-americanas) com a demanda ampliada por títulos denominados nessa moeda, a recessão em países emergentes causada pela perda de investimentos redirecionados aos EUA e, mais recentemente, o impacto mundial do voto no Reino Unido pela saída da União Europeia.
Apesar das repetidas promessas de aperto monetário por meio da alta nos juros de curto prazo, o Fed logrou fazê-lo numa única oportunidade recente, em dezembro passado. Mesmo assim, elevou-os apenas de 0,25% para 0,5%.
Outro fator para os adiamentos são os obstáculos estruturais ao crescimento americano e mundial, que permanece abaixo do padrão histórico desde a crise financeira de 2008. Produtividade mais fraca, menor crescimento demográfico e maior intenção de poupança de famílias e empresas comporiam a explicação estrutural para as taxas de juros mais baixas no mundo (com poucas e notáveis exceções, como o Brasil).
Prova de que os mercados esperam que a inflação continue baixa é o custo do dinheiro de longo prazo, que continua a cair. A taxa paga pelo governo americano para captar recursos por dez anos está em mero 1,6%, metade do patamar observado há dois anos.
As incertezas de médio e longo prazo justificam cautela; já a situação atual da economia parece recomendar alguma contenção pela via dos juros. O mercado de trabalho tem gerado quase 200 mil empregos por mês, a taxa de desocupação está abaixo de 5% e espera-se crescimento do PIB superior a 2% na segunda metade do ano.
Apesar das incertezas, é provável que o Fed volte a agir. Mas o restante do mundo parece mais bem preparado para absorver a alta dos juros, que deve ser gradual e não arrochará de imediato condições de financiamento para empresas.
Países emergentes, em especial, se encontram em melhor situação. Refluíram os riscos de recessão na China, e observa-se uma retomada nos preços de matérias-primas.
No momento em que o Brasil vê reabrir-se a perspectiva de crescimento, é crucial avançar logo no ajuste das contas públicas. A janela de juros globais baixos ainda estará aberta por algum tempo, mas talvez não muito.
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