- Valor Econômico
O Centro Democrático levará novos nomes à disputa de 2018
O prefeito de Salvador, ACM Neto, herdou do avô, Antonio Carlos Magalhães, a "sigla" e o faro. Farejou há mais de dois meses que os ventos da política sopravam em outra direção. Identificou o vácuo gerado pela crise sem precedentes e a premência de ocupá-lo.
Seu partido, o DEM, despertou a atenção pela perspectiva de poder: o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ), tornou-se potencial chefe de governo, no momento de maior fragilidade de Michel Temer.
O provável arquivamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República adia a chegada do DEM ao Planalto. Mas essa perspectiva de poder, por si, desencadeou o processo de fortalecimento da sigla e atração de novos quadros.
Neto e Rodrigo Maia passaram a liderar o movimento de fundação de um novo partido, originário do DEM (Democratas) - que nasceu do PFL, que emergiu da dissidência do PDS, que veio da Arena.
As conversas com os interessados na adesão ao projeto ainda estão em curso e prosseguirão até o fim do mês. As discussões evoluem mais para a criação do novo partido, com o nome provisório de "Centro Democrático", que para uma "refundação" do DEM. A questão do nome ainda gera clamor interno.
Neste mês, a Executiva Nacional se reunirá para discutir e aprovar o manifesto relativo ao novo partido. No início de setembro, o documento será divulgado e as comportas estarão abertas para os novos filiados. Nesse período, o Congresso aprovará uma "janela", no âmbito da reforma política, que permitirá a mudança de partido sem a perda de mandato de deputados, senadores, governadores e prefeitos.
"Será um partido de centro com uma visão contemporânea de gestão pública, compromisso com a palavra e resultados concretos para o cidadão", define ACM Neto. "Será um partido livre, próspero e moderno, com rejeição ao populismo e resgate da autoestima democrática", emenda o vice-presidente do DEM, José Carlos Aleluia (BA), que acompanha as articulações.
Economistas estão sendo consultados, em São Paulo, por Rodrigo Maia para redação do programa econômico do novo partido. Os focos são estabilidade econômica, geração de empregos, combate à corrupção e segurança pública.
A meta é consolidar uma bancada com mais de 50 parlamentares para se impor como a terceira força da Câmara, atrás do PMDB (63) e do PT (58). Ambiciosa, porque o DEM conta com 29 deputados.
Nenhum dos caciques do DEM admitirá publicamente, mas há uma alegria inconfessável de passar à frente do PSDB se a meta de 50 parlamentares for alcançada. Hoje os tucanos somam 46 deputados. Um parlamentar que acompanha de perto as articulações afirma que o DEM "tem mágoa" dos tucanos, alega que recebe do PSDB o mesmo tratamento que o PT dava ao PMDB. As relações entre petistas e pemedebistas se esgarçaram tanto que o resultado foi o impeachment de Dilma Rousseff.
A eventual supremacia do novo partido colocará em xeque a histórica aliança com os tucanos, que vem sendo reeditada desde 1994, cabendo ao DEM, tradicionalmente, o lugar de vice. ACM Neto ressalta que o partido nascerá sem compromisso prévio de alianças, buscando construir um caminho novo. "Faremos alianças, mas dialogaremos com vários partidos. O compromisso é de que não há compromisso".
O novo partido apresentará aos brasileiros novas lideranças com vistas às eleições de 2018. De largada, Rodrigo Maia e ACM Neto, cacifado pela alta aprovação de sua gestão em Salvador, despontam como pré-candidatos ao Planalto. No caso de Neto, a eleição para o governo da Bahia são favas contadas.
Não deixa de ser, entretanto, um time herdeiro das raposas políticas. Maia é filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia. O prefeito de Salvador é neto do ex-presidente do Senado e ex-governador da Bahia Antonio Carlos Magalhães. O ex-senador Efraim Morais é pai do atual líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB).
Outra aposta no rastro das novas lideranças é o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, de 33 anos, que trocará o PSB pelo novo partido. O ministro é apontado no Planalto como a "revelação" do primeiro escalão de Temer.
O problema é a acomodação de forças em Pernambuco, onde o ministro da Educação, Mendonça Filho, controla o DEM.
Ainda ontem, Mendonça reuniu-se com o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), pai de Coelho Filho, para nova rodada de negociações. Uma equação delicada, porque Mendonça e Bezerra têm projetos majoritários e precisam se entender para dividir o palanque local.
Os líderes do movimento souberam identificar a insatisfação generalizada na Câmara, em que rodas de deputados se espalham pelo plenário em conversas monotemáticas: a votação da denúncia e o descontentamento interno nos partidos. O desgosto chegou ao ponto de grupos de deputados pedirem audiência com Temer "sem a presença do líder", entrega um parlamentar que está de malas prontas para a nova sigla.
O futuro "Centro Democrático" atrairá, de saída, entre 10 e 15 dissidentes do PSB, inclusive a líder da bancada, Tereza Cristina (MS). Outro nome em negociações avançadas é o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, hoje no PMDB de Temer.
Foi em meados dos anos 80 que o velho ACM farejou a mudança de direção dos ventos, que sopravam para a derrocada do regime militar. Até então apadrinhado dos militares, nomeado governador biônico da Bahia, ele pressentiu que era hora de se descolar dos generais e esquivou-se do apoio natural a Paulo Maluf para alinhar-se à nova Frente Liberal no Colégio Eleitoral de 1985. Como prometido por Tancredo Neves, tornou-se ministro das Comunicações do governo José Sarney. "Ele soube antever as mudanças de ares e adaptar-se aos novos tempos", registra ACM Neto.
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