- O Globo
Tornado réu pela terceira vez pelo juiz Sergio Moro, Lula já pode pedir música no Fantástico, diz o povo. Além do tríplex no Guarujá e do sítio de Atibaia, o outro processo a que Lula responde é sobre o terreno que teria sido oferecido pela Odebrecht ao Instituto Lula e o aluguel de um apartamento em São Bernardo, vizinho ao do ex-presidente, que teria sido pago pela empreiteira para uso de assessores do ex-presidente.
Condenado a nove anos e meio por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo tríplex, Lula caminha para outra condenação no caso do sítio, com a ajuda decisiva de seu advogado, Cristiano Zanin.
No interrogatório de Léo Pinheiro, da OAS, o advogado do ex-presidente, a certa altura, perguntou se Lula havia deixado algum objeto pessoal no tríplex. Uma resposta evidentemente negativa, pois o apartamento ainda estava em obras, o que demonstraria, a seu ver, que Lula não seria o dono.
Mas ele esqueceu que também defende Lula no processo do sítio de Atibaia, onde há objetos pessoais de sobra da família de Lula, o que, no seu modo de ver, prova a propriedade.
O juiz Moro se convenceu de que Lula é o verdadeiro dono do tríplex do Guarujá, e o condenou por esconder essa propriedade através de artifícios que caracterizam lavagem de dinheiro. Quanto ao sítio de Atibaia, Moro diz no seu despacho que a aceitação da denúncia do Ministério Público Federal não significa que a acusação esteja comprovada, o que acontecerá ou não depois de ouvidos os acusados.
O relatório da Polícia Federal sobre o sítio de Atibaia é formidável em provas documentais da presença da família de Lula em todas as dependências do sítio. O documento não traz nenhuma prova da presença dos donos teóricos do imóvel. Dos objetos pessoais a uma adega bem equipada, até fotos de Lula bebendo uma cachacinha com o engenheiro da Odebrecht que coordenou a obra, está tudo lá. Além do mais, os depoimentos dos funcionários da OAS e da Odebrecht confirmam o que se vê por todos os lados: obras feitas a pedido de Lula e de dona Marisa, uma cozinha da mesma marca da instalada no tríplex do Guarujá, compradas na mesma ocasião, a mando da OAS.
O segredo de Polichinelo, como já chamei aqui, chegou ao fim com os depoimentos do ex-presidente da empreiteira OAS Léo Pinheiro e as delações dos executivos da Odebrecht. Em seu depoimento, Léo Pinheiro disse que tratou diretamente com o ex-presidente Lula de reformas no sítio de Atibaia e que descontou o dinheiro gasto nas reformas do tríplex do Guarujá e do sítio da conta de propina do PT.
As obras não agradaram à dona Marisa, que pediu ao diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar que mandasse seus homens completarem as reformas necessárias. O patriarca da Odebrecht, Emilio, ainda contou uma passagem quase cômica sobre o sítio de Atibaia em sua delação. Disse que a família queria que as obras ficassem prontas logo que Lula deixasse a Presidência, em 2010, para que ele já pudesse aproveitar o lugar de que tanto gostava.
Emílio então deu a boa-nova para Lula num encontro no Palácio do Planalto, anunciando que as obras estariam prontas a tempo. Lula não fez comentário algum, e Emílio viu que havia estragado a surpresa.
Assim como Léo Pinheiro, da OAS, teve dificuldades para regularizar a propriedade do tríplex do Guarujá, também Alexandrino Alencar, da Odebrecht, não tinha como explicar o gasto de quase R$ 1 milhão no sítio de Atibaia. Amigo de Lula, Roberto Teixeira, sogro do advogado Cristiano Zanin, que também consta do rol dos acusados pelo Ministério Público, combinou de fazerem notas frias para regularizar as despesas.
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