Por Marcelo Ribeiro, Raphael Di Cunto e Vandson Lima | Valor Econômico
BRASÍLIA - O PSDB chega dividido ao dia da votação da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer. Cálculos internos indicam que pouco mais da metade dos parlamentares da legenda votarão para que a denúncia seja encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda que apenas 10 parlamentares declarem apoio a Temer, um grande contingente que se diz indeciso ou que mantém mistério sobre como votará também deve entrar na conta do governo.
O placar apertado refletirá a indefinição que existe dentro da legenda tucana sobre um eventual desembarque da base aliada de Temer. Segundo apurou o Valor, se confirmado, o quase empate deve dificultar as pretensões de alguns parlamentares para que o partido "saia do muro".
Um dos maiores incentivadores de uma eventual saída dos tucanos da base governista, o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Ricardo Tripoli (SP), acabou ontem com o mistério que vinha fazendo em relação ao seu voto. Em suas redes sociais, o tucano declarou ser a favor da admissibilidade da denúncia.
Consciente da divisão dos parlamentares tucanos, Tripoli liberará a votação da bancada. O acirramento da disputa entre os deputados favoráveis e os contrários a Temer é estimulado pelo silencio de quase um terço da bancada sobre como votarão a denúncia.
Dos 46 deputados do partido, o deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG) não deve comparecer à votação por questões familiares. O parlamentar mineiro votaria a favor da denúncia. Para embolar ainda mais o placar dentro do PSDB, o governo exonerará dois ministros para votarem a favor de Temer: Bruno Araújo, das Cidades, que entrará no lugar de outro tucano que já tinha anunciado voto a favor de Temer, e Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo, que ficará no lugar de um parlamentar do DEM.
A divisão dentro do PSDB em relação à denúncia da PGR contra Temer fomentou uma nova disputa que começou a ganhar força entre os membros da cúpula da legenda nos últimos dias do recesso parlamentar.
A retomada da presidência do PSDB pelo senador Aécio Neves (MG), licenciado desde o início do escândalo da delação da JBS, tornou-se mais um ponto na crise dentro do partido. Era esperada ontem uma reunião de Aécio com o presidente interino, senador Tasso Jereissati (CE), na lhe devolveria o cargo. Mas o encontro não aconteceu, apesar de ambos terem passado o dia no Congresso.
Segundo interlocutores, Tasso se sente tolhido, pois Aécio voltou a operar fortemente nas decisões partidárias antes mesmo de retornar à presidência, deixando o interino na situação constrangedora de estar no cargo, mas sem poder sobre o partido. Já Aécio passou a demonstrar não ter pressa de concluir a transição no partido, alegando que gostaria de esperar a votação da denúncia contra Temer, para dar os próximos passos. A bancada está dividida sobre quem deve suceder o senador, qual a forma que será adotada para a sucessão e quando ela se dará.
"Essa não é uma questão urgente, eu ainda não falei com ele [Tasso]. Mas é uma decisão que ele vai tomar. O partido está em ótimas mãos e é por isso que eu optei por indicá-lo nessa interinidade", afirmou Aécio, lembrando que ele foi responsável por colocar Tasso em seu lugar provisoriamente.
Por isso, mesmo o acordo antes feito para que Aécio voltasse à presidência momentaneamente e convocasse os tucanos a decidirem ainda este mês um novo presidente até maio, agora está sob ameaça. "Entregando [o cargo], ele é o presidente. Faz o que quer. Ele assume e toma as decisões", disse Tasso a jornalistas, demonstrando certa irritação. "Eu pretendo entregar a presidência a ele, mas preciso ter uma conversa antes".
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