Para ex-presidente do BC, mudanças na Previdência vão depender de 2018
Rennan Setti e Daiane Costa / O Globo
O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga acredita que a reforma da Previdência só ocorrerá depois das eleições. O economista participou ontem do seminário “E agora, Brasil?”, sobre a retomada da economia no país, promovido pelo GLOBO, com patrocínio da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e apoio do Banco Modal, na Maison de France, no Centro do Rio.
— (A reforma da Previdência) Deve ficar para depois das eleições. Eu falo isso sem querer desmerecer o que tem sido feito. Considero quase um milagre o Brasil ter conseguido aprovar tantas reformas. Foi um bom trabalho da equipe econômica, embora também tenha tido influência do “Brasil velho”. O Brasil ganhou tempo, estabilizou o paciente que estava indo em uma direção muito perigosa — observou o sócio da Gávea Investimentos.
Para o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP que debateu com Arminio no evento, uma reforma “de fato” da Previdência não vai ocorrer agora, mas representaria um avanço.
— Dadas as condições de governabilidade que se tem, qualquer avanço na Previdência trará o benefício de tornar mais natural uma reforma mais estrutural que virá à frente, necessariamente — afirmou o sócio da consultoria AC Lacerda. — A realpolitik nos leva a fazer o que é possível.
Na opinião do especialista, “é inegável que o quadro atual é insustentável”, e uma reforma real precisa tratar a fundo algumas questões polêmicas “por mais árido que seja, politicamente, enfrentar o problema”:
— Ela deve envolver maior transparência nas contas, como o tratamento de privilégios em várias categorias profissionais. É preciso ainda tratar a questão da inadimplência, que é muito grande na Previdência.
RISCO POLÍTICO
Segundo Arminio, o clima do debate eleitoral será crucial para determinar a viabilidade da reforma da Previdência.
— Vai depender de como serão as eleições, se o clima do debate vai ser realista, e não populista, para que se possa construir a legitimidade para consertar as coisas aqui — disse, acrescentando que o risco político é maior que o econômico. — É preciso zelar para que a campanha ocorra com qualidade.
Arminio afirmou estar otimista com a recuperação econômica, mas a considera uma “vitória parcial”, que ainda depende da retomada dos investimentos:
— Estou otimista porque o pior passou, mas fico preocupado pelo que vem pela frente. É uma sensação de alívio, porque parecia que o país ia para uma crise ainda maior. Tivemos espaço para respirar, há sinais de recuperação na economia, e a taxa baixa de juros está ajudando. (...) Mas isso ainda é uma vitória parcial. É preciso construir as condições para que o país invista muito mais, em educação, em infraestrutura etc.
O economista considera que o teto de gastos públicos, já aprovado, não se sustenta sem a aprovação da reforma da Previdência:
— O teto de gasto é uma resposta dura a uma situação emergencial. As finanças públicas estão em situação muito precária, e o gasto vem crescendo desde o fim da década de 1980. Mas ele, sem aprovação de outras reformas, principalmente a da Previdência, não vai aguentar.
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