quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Alívio na renda do trabalhador

Com inflação menor e recuo do desemprego, graças sobretudo à criação de vagas informais, os ganhos dos trabalhadores cresceram 3,9% em setembro, a maior alta desde 2014, disse o IBGE. Foi um acréscimo de R$ 7 bilhões na economia.

Alívio nos rendimentos

Total de ganhos dos trabalhadores cresce 3,9%, com queda da inflação e aumento de vagas informais

Marcello Corrêa / O Globo

O país tem 13 milhões de desempregados, a retomada do mercado de trabalho ainda não chegou de vez no emprego formal e é comum ouvir, nas ruas, a queixa de que sobra mês no fim do salário. Mas dados divulgados ontem pelo IBGE mostram um alento nas estatísticas que, aos poucos, começará a ser sentido no dia a dia do brasileiro: o poder de compra da população aumentou. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, a soma dos ganhos dos trabalhadores voltou a crescer em ritmo próximo ao do período anterior à recessão.

No terceiro trimestre, encerrado em setembro, a chamada massa de rendimentos cresceu 3,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior, para R$ 188,1 bilhões. É a maior alta desde maio de 2014, antes do início da recessão, quando o crescimento foi de 4,7%. Isso representa um acréscimo de R$ 7 bilhões circulando na economia, o que pode ajudar a impulsionar o consumo nos próximos meses. Os dados foram divulgados ontem pelo IBGE, que informou ainda que a taxa de desemprego recuou para 12,4% em setembro, frente aos 12,6% de agosto.

A massa de rendimento é a soma dos ganhos de todos os trabalhadores com qualquer tipo de ocupação. Portanto, cresce quando há aumento na renda média e na quantidade de pessoas na ativa. Foram justamente esses dois fatores que influenciaram o aumento registrado em setembro. A chamada população ocupada cresceu em 1,5 milhão (1,6%) em relação ao mesmo período do ano passado. Em relação ao segundo trimestre, o aumento foi de 1,1 milhão de pessoas, ou 1,2%. Ao mesmo tempo, o rendimento médio ficou praticamente estável, em R$ 2.115, influenciado pela inflação baixa, que preserva o poder de compra das famílias. Ou seja, com mais gente trabalhando e ganhando praticamente o que se ganhava há um ano, o saldo é de mais dinheiro circulando na economia.

REVERSÃO NO EMPREGO FORMAL
Para especialistas, esses números mostram que existe uma recuperação gradual do mercado de trabalho. O cenário não é melhor porque a retomada continua sendo puxada pelo mercado informal. No terceiro trimestre, o número de empregados com carteira assinada, que havia ensaiado uma recuperação no trimestre encerrado em agosto, voltou a ficar praticamente estagnado em 33,3 milhões de pessoas, leve queda trimestral de 0,1%. Já a quantidade de funcionários sem a proteção da CLT aumentou em 288 mil pessoas (alta de 2,7%), para 10,8 milhões. O contingente dos que trabalham por conta própria cresceu em 402 mil pessoas, para 22,9 milhões, alta de 1,8 milhão. Resumindo, esses dois grupos responderam por 65% do aumento no número de empregados no terceiro trimestre.

— Essa movimentação (do mercado de trabalho) não pode ser avaliada nem como favorável, nem como não favorável. Tem pontos favoráveis, como o aumento da população ocupada e a alta da massa de rendimento. Isso coloca o mercado de trabalho num posicionamento virtuoso. O lado negativo é que temos a informalidade crescendo e não vemos movimentação alguma do indicador de carteira de trabalho assinada — resume Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento.

O economista Bruno Ottoni, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), destacou que o comportamento do emprego com carteira decepcionou. Em agosto, o número de trabalhadores formais havia crescido em 153 mil pessoas (ou 0,5%). Apesar do perfil ainda frágil do mercado, ele considera que, na média, os dados são positivos. Ele espera que a massa de rendimento continuará a subir nos próximos anos, a taxas próximas de 3%:

— O elemento positivo é que continua havendo queda lenta e gradual da taxa de desemprego. Com certeza, a massa salarial ajuda no consumo e também na recuperação da atividade. Esperava-se muito que a recuperação viria pelo investimento e está vindo pelo consumo. Mais para frente, isso pode continuar ajudando, se nossas projeções estiverem corretas.

Em comunicado, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) afirma que a melhora do rendimento deve permitir “dias melhores” para a indústria e para os serviços: “O fato novo neste último trimestre é que a expansão da massa tem sido possível não apenas devido ao aumento dos rendimentos reais, como vinha ocorrendo, mas também pela evolução da ocupação.” A expectativa de analistas é que a taxa de desemprego continue a cair nos próximos meses.

— Houve uma melhora no mercado de trabalho antes do esperado devido a esse aumento no mercado informal. Por mais que a gente fale que a informalidade não é tão boa, é melhor alguma renda do que nenhuma — afirma Artur Passos, economista do Itaú Unibanco.

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