- Folha de S. Paulo
Absolvição de Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo cria um mal-estar retórico
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e seu marido, Paulo Bernardo, foram absolvidos das acusações de corrupção e lavagem de dinheiroque lhes haviam sido imputadas pela Procuradoria-Geral da República no âmbito da Lava Jato.
Não há o que questionar na decisão da 2ª Turma do STF. A peça acusatória não ia além de empilhar declarações de réus que aderiram à delação premiada, o que é insuficiente para condenar alguém. A absolvição, porém, cria um mal-estar retórico para alguns petistas que, desde o início da Lava Jato, vêm insistindo que a operação e a própria Justiça brasileira têm um viés contra o partido.
Ora, se tudo não passa mesmo de uma conspiração das elites para frustrar a redistribuição de renda iniciada no governo Lula, como explicar que a presidente nacional do partido tenha escapado?
A nova decisão do STF não representou, evidentemente, o primeiro buraco na teoria conspiratória. O discurso de perseguição já se vira em dificuldades antes, com condenações e prisões de gente graúda de outros partidos, como Sérgio Cabral e Eduardo Cunha, do MDB, Eduardo Azeredo, do PSDB, e Paulo Maluf, do PP —os dois últimos por casos anteriores à Lava Jato. A Procuradoria também não tem dado folga a Michel Temer e seu entorno.
Quando confrontados com as evidências de que as condenações são mais ecumênicas do que supunham, alguns desses petistas afirmam, não sem uma ponta de paranoia, que é tudo parte do plano. A Justiça faz isso para manter a aparência de imparcialidade e, assim, tentar dar credibilidade à condenação de Lula.
É um discurso tão autorreferente que se torna difícil contestá-lo com argumentos. Como atitude, porém, essa cepa de militantes me lembra os criacionistas da Terra jovem que, depois de apresentados a uma miríade de fósseis muito mais velhos do que a idade que atribuem ao planeta, dizem que Deus plantou esses materiais no mundo só para confundir os homens.
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