Cresceram as dúvidas sobre os próximos passos da política monetária
Correta, a decisão do Banco Central de manter os juros básicos em 6,5% ao ano deve contribuir para serenar um pouco o tumultuado ambiente financeiro nacional.
Nas últimas semanas cresceram as dúvidas sobre os próximos passos da política monetária. De um lado, a paralisação dos caminhoneiros comprometeu a frágil retomada da economia —as projeções para o crescimento neste ano caíram abaixo de 2% e já há quem preveja estagnação, o que recomendaria novos cortes da taxa Selic, do BC.
De outro, a conjuntura global conturbada e o aumento da incerteza política doméstica contribuíram para significativa desvalorização do real. A cotação do dólar beirou R$ 4 e só recuou com as intervenções do BC no mercado.
A debilidade do real tem consequências inflacionárias, pelo encarecimento dos produtos importados. No curto prazo existe também o efeito do desabastecimento causado pelo movimento paredista, sobretudo no setor de alimentos.
De fato, o indicador mais recente de preços, o IPCA-15 de junho, teve alta de 1,11%, a maior para o mês desde 1995. Da mesma forma, as estimativas do BC para o IPCA deste ano passaram de 3,6% para 4,2% em poucas semanas.
Em meio a tal complexidade de leitura do cenário, o órgão optou por reforçar em sua comunicação os alicerces do regime de metas de inflação —entre eles, o de que não há ligação automática entre o dólar e a política monetária.
Em outras palavras, o BC não tem um objetivo para o câmbio e não pretende reagir ao impacto direto das cotações da moeda no IPCA.
O foco de atuação deve se dar apenas nos chamados efeitos secundários, quando a desvalorização chega ao ponto de contaminar a formação de preços na economia de forma mais ampla.
O país ainda está distante desse ponto. Segundo as projeções oficiais, mesmo com a taxa de câmbio em R$ 3,70 e juros estáveis em 6,5%, a inflação esperada em 2019 ficaria em 4,1%, ainda abaixo da meta —que no próximo ano cairá de 4,5% para 4,25%.
Também cabe considerar outra válvula de escape existente no regime brasileiro. Há uma banda de 1,5 ponto percentual ao redor da meta, que deve ser usada para acomodar choques como o atual.
Por fim, em que pese o quadro de incerteza, a ampla ociosidade na indústria, com desemprego ainda próximo de 13%, e a baixa inflação nos setores normalmente mais resistentes, como os serviços, recomendam juros baixos.
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