Sangue-frio tem marcado a ação dos dirigentes do Banco Central (BC) nas últimas deliberações sobre juros e condições de crédito, num ambiente de muita incerteza política, turbulências externas e fortes pressões cambiais. Essa qualidade foi exibida mais uma vez na manutenção da taxa básica de juros em 6,50% pelo Copom, o Comitê de Política Monetária da instituição. A decisão, anunciada na quarta-feira, é especialmente bem-vinda por mais de um motivo. Juros historicamente baixos são neste momento um dos principais - e raros - estímulos à atividade empresarial e ao consumo de bens duráveis. Mantêm alguma previsibilidade, embora limitada, num momento de muita insegurança em relação ao segundo semestre e aos propósitos do próximo governo. Enfim, retardam por algum tempo, e aparentemente sem grande risco, medidas eventualmente necessárias para conter novas pressões inflacionárias. Choques externos e frustração quanto ao prosseguimento de ajustes e reformas estão entre as causas mais prováveis, por enquanto, de uma alta geral de preços mais acelerada que a atual.
Ao novamente manter em 6,50% a taxa básica, a Selic, os membros do Copom mais uma vez afirmaram a separação entre problemas cambiais e política monetária. O controle da oferta de moeda, realizado principalmente por meio da política de juros, destina-se basicamente a orientar a inflação para a meta oficial, combinando esse objetivo, tanto quanto possível, com o apoio ao crescimento econômico no curto prazo. Se a depreciação do real for um fator de aceleração inflacionária, com risco de superação da meta, elevar juros poderá ser a resposta adequada.
Mais uma vez o teste foi feito. A alta de preços foi estimada com juros constantes de 6,50% ao ano e câmbio também constante a R$ 3,70 e as projeções apontaram inflação de 4,2% em 2018 e 4,1% em 2019, pouco abaixo, portanto, da meta anual de 4,5%.
Não se recomendaria, portanto, uma elevação da taxa Selic neste momento. Juros mais altos a partir de agora seriam mais uma trava à recuperação da economia, um custo injustificável do ponto de vista da política anti-inflacionária.
Os membros do Copom levaram em conta, segundo a nota distribuída pouco depois da reunião, os efeitos da paralisação do transporte rodoviário. A paralisação, ocorrida em maio, “dificulta a leitura da evolução recente da atividade econômica”, mas seus efeitos sobre os preços serão provavelmente passageiros, de acordo com a avaliação mencionada.
Divulgados no dia seguinte, quinta-feira, os dados do IPCA-15 de junho permitiram uma primeira visão dos danos causados pela crise no transporte de carga. Esse indicador, usado como prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mostra a variação dos preços entre o meio de um mês e o do mês seguinte. Os aumentos passaram de 0,14% em maio para 1,11% em junho, acumulando 2,53% no ano e 3,68% em 12 meses.
Foi um impacto considerável, mas passageiro, segundo analistas do mercado. Essa interpretação foi a mesma antecipada pelos membros do Copom na véspera da publicação do IPCA-15 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar do tom relativamente tranquilo da maior parte do comunicado, a nota do Copom deixa entrever uma atitude mais cautelosa em relação ao segundo semestre. Não há, nesse texto, indicação sobre o resultado provável da próxima reunião, programada para agosto. Uma indicação desse tipo havia aparecido no informe emitido depois da reunião anterior. Além disso, a recuperação da economia é agora avaliada como “mais gradual”. A novidade é a palavra “mais”.
O comunicado contém as advertências habituais. Uma frustração das expectativas quanto a reformas e ajustes poderá “afetar os prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação”. Além disso, a piora do cenário externo para os países emergentes, incluído o Brasil, poderá acentuar-se. A insegurança eleitoral, a paralisação do programa de reformas e novos problemas fiscais, como o subsídio ao diesel, certamente reforçam esses temores.
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