Bolsonaro e Haddad precisam resistir aos grupos autoritários que existem em suas campanhas
Em meados de 2002, quando o PT refletia a imagem de radical de seu candidato, pela terceira vez, a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, o partido deu a tal guinada para o centro, coma edição da Carta ao Povo Brasileiro, em que Lulas e comprometia a cumprir contratos e ar espeitar os cânones da economia de mercado. Estava certo o diagnóstico de que o PT não ultrapassaria abarreira dos 30% de votos enquanto fosse uma ameaça à estabilidade econômica, com sua visão encharcada do nacionalismo e terceiro-mundismo da esquerda das décadas de 50 e 60. O resultado foi a vitória de Lula, para cumprir o primeiro de dois mandatos e ainda fincar o poste Dilma Rousseff mais à frente, até ela ser desligada por um processo legal de impeachment.
Agora, quando Lula, preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro, conseguiu com que o candidato petista a presidente, Fernando Haddad, fosse para o segundo turno disputar com Jair Bolsonaro, a nação precisava de um compromisso formal mais amplo dos dois candidatos: respeito à Constituição, à própria democracia, portanto. A necessidade de não se repetirem experimentos heterodoxos na economia, como fez o PT com Dilma, vem em decorrência.
Em vez de em carta à sociedade, o respeito ao regime de democracia representativa pelos dois foi declarado em entrevistas concedidas ao vivo à bancada do “Jornal Nacional", na noite de anteontem.
Foi com alívio que milhões de brasileiros — para dar uma ideia, metade de todas as TVs ligadas, em todo o país, estava sintonizada no JN —assistiram a Haddad retirar do seu programa de governo a obsessão petista em convocar uma Constituinte ilegal, nos moldes chavistas. Na prática, um desastroso cheque em branco para que, no limite, até mesmo o regime pudesse ser alterado. Ali que fação da Venezuela é o desfecho desta sandice.
As reformas que o candidato e o partido pretendem faze reque exijam mudanças na Carta seguirão o caminho de praxe das emendas constitucionais, com o quórum de no mínimo 60% e votações em dois turnos, na Câmara e no Senado. Qualquer atalho é inconstitucional. Golpe, portanto.
Também perguntado sobre os acenos golpistas do ex-ministro José Dirceu, Haddad tirou qualquer credencial dele para falar em nome da sua campanha. E ainda disse discordar.
Bolsonaro tomou a mesma direção, prestando reverência à Carta, como precisa ser, e reforçando desmentidos que já fizera sobre seu vice, general da reserva Hamilton Mourão —que confundiu com Augusto. “Ele é general, eu sou o capitão, mas sou o presidente", enquadrou. Desconsidere-se, então, como proposta de campanha, a ideia de Mourão de uma Constituinte de “notáveis” e o instrumento do “auto golpe”, tudo creditado pelo candidato à pouca convivência do general coma política. Mourão deu uma “canelada”, resumiu usando o jargão futebolístico.
A campanha do segundo turno e o próximo governo precisam ser balizados por estes parâmetros. Como deve ser sempre. Espera-se que sejam compromissos firmes. Que Bolsonaro se mantenha no campo democrático e resista a pressões de eventuais apoiadores com visão diferente, e Haddad contenha frações do PT que sempre sonharam com o autoritarismo, como ficou evidente nos 13 anos de poder do partido em Brasília.
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