Acerto de contas tucano ameaça reduzir partido a linha auxiliar de Bolsonaro
O PSDB desmoronou no dia 13 de março de 2016. Naquele domingo, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e outros tucanos chegaram ao ato pró-impeachment na avenida Paulista sob vaias e gritos de “bundões” e “oportunistas”. O senador mineiro tentou cumprimentar um manifestante e foi chamado de “ladrão”. A delação da JBS ainda nem existia.
Os caciques do partido ficaram menos de 30 minutos no protesto, até perceberem que era melhor ir embora. Depois, a sigla divulgou uma nota dizendo que os tucanos haviam ficado “extremamente satisfeitos com a recepção da população”.
Cada um dos 938 dias seguintes foi um domingo na Paulista para o PSDB. O tucanato acumulou hostilidades e continuou barrado do novo ciclo político que estava em gestação.
O partido emergiu nesta terça (9) dos escombros da eleição em clima de acerto de contas. Em um bate-boca na reunião de cúpula da legenda, um ressentido Geraldo Alckmin se referiu a João Doria como traidor.
Além de simbolizar o momento ruinoso do PSDB, o episódio é sinal de que o partido que protagonizou décadas da vida do país tentará se reerguer da pior forma possível.
Alckmin ajudou a inventar Doria na política ao lançá-lo à Prefeitura de São Paulo em 2016. Depois, viu sua criatura trabalhar para ser candidato a presidente em seu lugar e fazer uma campanha casada com Jair Bolsonaro (PSL) ainda no primeiro turno da corrida ao Planalto.
Horas depois do fracasso do padrinho na disputa, Doria ensaiou um golpe ao expulsar desafetos do PSDB e autorizar aliados a defenderem a derrubada de Alckmin da presidência do partido. Agora, quer pegar carona na popularidade de Bolsonaro para ganhar o governo paulista. Se conseguir, poderá se tornar o tucano mais poderoso do país e terá peso para assumir a sigla.
Não se sabe qual PSDB sobrará desse processo. Varrido pelas urnas, o partido já deixou de ser referência em seu campo político. Pode ainda ser reduzido à irrelevância caso se torne linha auxiliar do bolsonarismo.
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