Alta da divisa decorre, em boa parte, de fatores externos, mas gera custos
Com incertezas em torno do andamento da reforma da Previdência, somadas a novas tensões internacionais, a cotação do dólar no Brasil voltou a se aproximar do patamar de R$ 4, associado a momentos de crise nos últimos anos.
A taxa decerto carrega algum apelo psicológico, e o cenário de fato inspira cuidados. Entretanto existem elementos atenuantes que não devem ser desconsiderados.
O comportamento recente do real segue, em parte, uma tendência global. Com a economia dos Estados Unidos ainda se destacando de modo positivo em relação ao restante do mundo, a divisa americana continua a ganhar terreno diante das principais moedas.
Não se mostra favorável, por exemplo, a situação da Europa, cujo crescimento continua a decepcionar. Nos países emergentes, da mesma forma, há casos em que preocupações maiores se justificam.
A Argentina, em particular, passa por novo ciclo de incerteza política, com eleições presidenciais no final do ano. O fiasco da gestão de Mauricio Macri aumenta o risco do retorno do kirchnerismo. Não por acaso, o custo de proteção contra mais um calote argentino disparou, e o peso atingiu o recorde de baixa nesta semana.
Por outro lado, o mais usual determinante de crises globais —juros ascendentes nos EUA, a atrair recursos de volta ao país— não está presente como no ano passado. Justamente em razão das incertezas mundiais, o banco central americano se comprometeu a não aumentar suas taxas neste 2019.
Outro elemento positivo é a China, cuja economia parece superar a desaceleração de 2018 e pode ganhar força se for fechado um acordo de comércio com os EUA nos próximos meses. No contexto geral, não deve haver um quadro de recaída recessiva no mundo.
No caso brasileiro, o principal fator de instabilidade continua a dúvida quanto à solidez futura das contas do governo, cuja resolução depende do avanço de reformas e de outras medidas de ajuste. Por outro lado, o país conta com uma situação mais favorável nas transações com o exterior, além de inflação baixa e sob controle.
A demanda por moeda forte, no que ela tem de peculiar ao cenário doméstico, parece decorrer mais da busca por segurança, que pode se revelar temporária. É claro que há impactos, contudo. O dólar mais caro tende a pressionar certos preços e dificultar cortes adicionais de juros pelo Banco Central.
Cabe à instituição atuar neste momento com prudência na gestão dos riscos. Um aperto na política monetária, por exemplo, seria desastroso, dada a economia deprimida e o elevado nível de desemprego. Intervenções pontuais no mercado de câmbio, por sua vez, devem ser consideradas para coibir excessos especulativos.
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