- O Globo
Houve um tempo em que o fake foi admirado como arte nos melhores museus e coleções privadas do mundo, onde muitas dessas obras dos grandes mestres estão até hoje. Todos pintados pelo húngaro Elmyr de Hory, o maior falsário de arte de todos os tempos, tão talentoso que pode ser considerado um grande artista. Talvez o maior artista conceitual do século 20, pelo terremoto que provocou.
Elmyr reproduziu centenas de desenhos, aquarelas e óleos de mestres com estilos tão diferentes como Picasso, Modigliani, Matisse, Renoir, Gauguin, Monet, Braque, Degas, Vlaminck, Chagall, Toulouse-Lautrec, alguns reconhecidos pelos próprios autores originais. Falsificar com sucesso só um deles já seria uma façanha. E Elmyr enganou o mundo com sua arte, embora fosse um pintor medíocre e sem originalidade.
Como se possuído pelos espíritos dos pintores, ou um scanner humano, Elmyr era dotado de uma genialidade única, e teve sua vida e obra contadas por Clifford Irving em “Fake” e depois filmada por Orson Welles no documentário “F For Fake”, em que discute a questão da originalidade artística e são reveladas a ganância e a falta de escrúpulos do alto mercado internacional de arte, em que marchands, galerias e museus fazem fortunas com o trabalho de artistas que morreram pobres, como Modigliani. E Elmyr de Hory, que enganou todos eles agenciado por dois escroques, o egípcio Fernand Legros e o canadense Réal Lessard, que exploraram seu talento por dez anos e ficaram milionários, até serem presos e confessarem a farsa.
Mágico amador, e também profissional, pela magia do seu cinema, Welles se diverte em enganar o espectador, dizer que o engana, e mostrar como a mágica foi feita.
Elmyr nunca se sentiu culpado, um criminoso ou um falsário mercenário, estudava exaustivamente o estilo do pintor, seus temas e cenários, até produzir o que considerava uma obra de arte. De verdade, não original, mas obra de arte. E muitas continuam sendo, afinal seus fakes ainda deslumbra-me emocionam como os originais.
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