O governo do presidente Jair Bolsonaro conseguiu uma vitória relevante no Congresso Nacional: aprovou, por 48 votos a 18, o projeto de reforma da Previdência Social. É apenas o primeiro passo de um longo caminho a percorrer, mas representa um avanço que, em governos normais, estaria sendo devidamente celebrado. No caso do governo de Bolsonaro, em vez de a conquista ser festejada, as atenções acabaram concentradas na crise da hora — agora envolvendo ninguém menos que o vice¬-presidente, o general Hamilton Mourão.
Bolsonaro, incendiado pelo filho Carlos, o Zero Dois, está convencido de que Mourão tem feito movimentos conspiratórios contra o seu governo. Em reportagem produzida pela sucursal de VEJA em Brasília, publicada na página 38, o leitor tomará conhecimento dos bastidores — às vezes ininteligíveis, outras vezes inacreditáveis — dessa crise que, novamente, foi forjada na inclinação incontrolável deste governo à autossabotagem. É como se um fiscal do bolsonarismo, ao vagar entre ministérios e palácios, se orientasse por um lema de subversão mosqueteira: se está ficando bom para todos, alguém precisa estragar algo. É uma fábrica de crises sem capacidade ociosa.
O combustível da autossabotagem do governo é o caldeirão ideológico em que ele está mergulhado, no qual múltiplas correntes de direita se engalfinham por hegemonia e pelo controle da administração federal, ou setores dela. O Brasil, antes habituado às divisões entre “as esquerdas”, assim no plural, vem sendo introduzido às peripécias “das direitas”.
O lado supérfluo da crise de agora está nos confrontos entre militares e olavetes, como são chamados os apóstolos de Olavo de Carvalho. É supérfluo porque o guru do extremismo, pela essência da pregação e pelo histrionismo do pregador, uma hora voltará para seu recanto original: um ostracismo com certas curiosidades folclóricas.
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