Acuado pela crise, Macri propõe ‘acordo de estabilidade’ a Cristina e outros rivais
- O Globo
BUENOS AIRES - A apenas seis meses das eleições, o presidente argentino, Mauricio Macri, propôs um “acordo de estabilidade" aos principais líderes da oposição, incluindo a ex-presidente e senadora Cristina Kirchner, sua principal rival política. Macri procura negociar consensos básicos de governabilidade a fim de acalmar os conturbados mercados locais e resgatar o país da grave crise econômica que atravessa, informou ontem o ministro do Interior, Rogelio Frigerio.
Além de Cristina, Macri estendeu o convite aos 24 governadores, aos pré-candidatos à Casa Rosada, à Central Geral do Trabalho (CGT), principal central sindical do país, às igrejas Católica e evangélicas e a setores que representam o empresariado, como a Associação de Bancos Argentinos (ABA), a Câmara Argentina de Comércio e a União Industrial Argentina.
Na carta enviada aos principais atores políticos do país, o presidente propõe dez pontos básicos a serem combinados, como o compromisso de pagar a dívida externa, o respeito à independência do Banco Central, a redução da carga tributária e o cumprimento dos contratos assinados. No foco estão sobretudo o controle da inflação e o equilíbrio fiscal.
“Claramente temos tido problemas para nos pormos de acordo sobre questões básicas do nosso desenvolvimento econômico”, diz Macri na carta enviada, entre outros, aos pré-candidatos opositores Sergio Massa e Roberto Lavagna
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EX-PRESIDENTE EM SILÊNCIO
Sem maioria no Congresso, o presidente governa com apoio da coalizão de centro direita Mudemos e de setores do peronismo. Em sua estratégia para construir um consenso entre os principais setores políticos argentinos, o presidente busca deixar diversos pontos inegociáveis, antes de se sentar para conversar. Macri também deseja acalmar os mercados financeiros e, possivelmente, dividir o peronismo, cooptando os moderados. Há, ademais, outra possibilidade: a de Cristina ser a única parte que s e recuse ao diálogo, o que ai solariano país.
— Cristina Fernández de Kirchner representa uma parte importante do eleitorado da Argentina e tem que ser parte desta mesa —disse Frigerio a uma rádio argentina.
“Estos pontos não são um plano de governo, nem uma proposta eleitoral, nem um contrato de adesão. São um convite para que possamos tirar alguns temas essenciais de nossas discussões. Confio que, a partir da maturidade democrática, poderemos dar um exemplo de um acordo que nos permita dar maior tranquilidade aos argentinos”, escreveu Macri.
Na semana passada, pela primeira vez Cristina, que ainda não anunciou oficialmente a sua candidatura, apareceu à frente de Macri em uma pesquisa para as eleições presidenciais marcadas para outubro. Isso provocou abalos nos mercados financeiros do país, pelo temor de que ela rompa os acordos firmados com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e governe em desacordo com princípios da economia liberal.
Em setembro, o FMI concedeu o maior empréstimo de sua história à Argentina, de US$ 57 bilhões de dólares, o que elevou a dívida do país para quase 100% do PIB. Ainda assim, o país segues em controlara inflação, que é estimada em cerca de 40% para 2019. A economias e mantém em recessão e, em um ano, o valor do dólar mais do que dobrou, indo de 20 pesos para 45.
Cristina não se pronunciou diretamente ontem, mas um porta-voz da ex-presidente deixou claro que ela não assinará o documento de dez pontos que o governo já circula.
— Se nos convidarem a assinar um documento que dá aval às suas políticas, não vamos fazê-lo, porque a Argentina necessita mudar de rumo —disse um porta-voz, segundo o jornal Clarín. — Se continuarmos com estas lógicas, só teremos mais desemprego e mais pobreza.
O chefe da coalizão kirchnerista Frente para a Vitória (FpV), Agustín Rossi, que também é pré-candidato à Casa Rosada, adiantou que se sentará para dialogar em torno de uma agenda aberta, rejeitando o pacote já apresentado pelo governo.
A eleição de Macri, um empresário de sucesso, em 2015, interrompeu um ciclo de 12 anos de gestão dos Kirchner na Argentina. A sua eleição foi vista por muitos como a substituição de um governo por vezes considerado populista por outro de perfil liberal e reformista.
DIFICULDADES DE MACRI
O presidente tem tido dificuldade para obter sucesso com sua agenda. Macri prometeu pobreza zero, e hoje a taxa alcança 32%, maior nível desde a crise de 2001. A economia terminará o ano com nova queda do PIB, no melhor dos casos em torno de -2,7%. O colapso econômico refletiu-se nas pesquisas de intenção de voto e deu fôlego às esperanças de Cristina, que enfrenta diversas acusações de corrupção na Justiça.
A última vez que Cristina e Macri se comunicaram por telefone foi em 2015, em uma ligação que terminou em discussão. A então mandatária recusou-se a transmitir informações sob reaposse ao sucessor.
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