- O Globo
É grave que Bolsonaro ataque o IBGE por causa dos dados de desemprego. Mas os cortes no Censo são mais preocupantes para o país
O presidente Jair Bolsonaro já deixou clara a sua intenção de intervir no IBGE. Antes da posse, ele disse que pretendia mudar a pesquisa sobre desemprego. “Isso daí é uma farsa”, disparou. No mês passado, voltou a criticar o instituto. Disse que o indicador parecia feito “para enganar a população”.
É grave que o presidente desmereça um órgão de estatísticas porque os números não casam com a propaganda oficial. Mas as declarações impróprias já viraram rotina neste governo, e são menos relevantes que a crise instalada no instituto.
Ontem a presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, demitiu dois técnicos envolvidos no Censo 2020. Ela exonerou os diretores de pesquisas, Cláudio Crespo, e de estatísticas, José Santana Beviláqua.
Os dois integravam um grupo de técnicos preocupados com o corte de verbas para o Censo. A tesoura foi determinada pelo ministro Paulo Guedes, a quem Susana deve o cargo. Ao demitir os subordinados, ela passou a mensagem de que não admite contestação.
Guedes argumenta que o governo precisa economizar, o que é incontestável. Ao mesmo tempo, revela desconhecimento sobre a importância da pesquisa e as consequências de um corte malfeito.
O ministro tem reclamado do tamanho do questionário e, em entrevista recente, disse que o Censo faz 360 perguntas. Na verdade, a última pesquisa básica fez apenas 49 perguntas. A detalhada, aplicada em 11% dos domicílios, fez 119.
Uma redução mal calculada pode causar prejuízo de uma década no planejamento de políticas públicas. O médico Dráuzio Varela já alertou para os riscos à saúde. A pesquisa orienta a fabricação de vacinas, a construção de postos de saúde e a compra de equipamentos. O mesmo vale para a educação.
A presidente do IBGE não informa o que quer fazer e reage mal aos questionamentos. Na sexta-feira, ela negou o bloqueio de 87% das verbas para a preparação de pesquisas este ano. O que ela chamou de “fake news” podia ser consultado ontem no Siop, sistema de execução orçamentária do governo.
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