- Folha de S. Paulo
Segundo técnicos do governo à época, houve 1.300 óbitos a cada 100 mil paulistanos
“O estado sanitário foi péssimo”, relatava o boletim do governo paulista acerca da saúde na capital no último trimestre de 1918. Uma epidemia de gripe eclodira em meados de outubro, “estendendo-se por toda a cidade com extraordinária rapidez e violência, acometendo quase duas terças partes da população em pouco mais de um mês”.
O informe acusa a notificação de 5.331 mortes por influenza no município, mas os técnicos desconfiam da cifra. Debitando os registros por gripe do total de falecimentos naquele quarto de ano, ainda restava um volume anormal de óbitos na comparação com períodos imediatos em que não houve infecção.
Em 1919 —mesmo ano em que Ronald Fisher, na Inglaterra, começou a lançar bases da estatística moderna—, os técnicos sanitários paulistas praticaram rudimentos de um gênero de estimação hoje altamente desenvolvido. Do cotejo com as médias fica um excesso de mortes que só pode ser decorrente, supõem, da própria gripe. Concluem então que o número verdadeiro de vítimas fatais da epidemia na capital foi de 6.861.
A população paulistana para o final de 1918 foi estabelecida no documento em 528.295. Aplicando-se sobre ela o total de mortes estimado pelos técnicos, chega-se a uma mortalidade brutal: 1.300 por grupo de 100 mil habitantes.
Realizando o mesmo o exercício para o Rio, capital da república, o boletim paulista chega ao montante de 14.504 vidas ceifadas pelo vírus, quase 1.600 por 100 mil moradores.
A mortalidade geral, computadas todas as causas, era bem maior naquele tempo. Num ano sem epidemia como a da influenza, faleciam 1.500 pessoas por 100 mil numa cidade como São Paulo. Hoje essa taxa para o Brasil está perto de 650.
Levando isso em conta, dá para esboçar o impacto da chamada gripe espanhola na capital paulista em 1918. Ele foi mais ou menos proporcional ao que provocaria, hoje, uma doença que matasse 70 mil paulistanos em um trimestre.
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