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Quem fará mais estragos ao Brasil?
O cenário era sugestivo. De um lado, a imponente sede do Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano de Brasília, uma monumental obra do arquiteto comunista Oscar Niemeyer. Do outro, cerca de 200 a 300 pessoas, a maioria vestida de verde e amarelo carregando faixas e cartazes onde pediam a volta do AI-5, o ato mais brutal da ditadura militar de 64, a censura à imprensa e o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
No meio, em cima da caçamba de uma camionete, sob a proteção da Polícia do Exército, o presidente Jair Bolsonaro tossiu, tossiu, tossiu, balançou um pouco, mas não caiu, e durante cinco minutos, sem máscara, expelindo perdigotos, disse que estava ali porque acreditava nos manifestantes que clamavam por uma nova intervenção militar. Mais de uma vez afirmou que o povo, agora, estava no poder e que poderia contar com ele.
Corte! Recuemos 10 ou 14 anos. O presidente da República chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Com dificuldades para governar, ele autoriza militantes do PT a irem às ruas em seu socorro. No dia marcado, um grupo numeroso de militantes, empunhando bandeiras vermelhas e vociferando contra o Congresso e a Justiça, se concentra diante do Quartel-General do Exército, em Brasília. Lula aparece, discursa e prega a ascensão do povo ao poder.
Como reagiriam os militares? Soltariam uma nota condenando o ato de natureza claramente golpista? Pelo menos uma nota para garantirem que nada tiveram a ver com o que assistiram tão de perto? Renovariam seu compromisso em respeitar a Constituição? Ou nada fariam, recolhendo-se ao silêncio? O “povo no poder” dito por Lula soaria à provocação, coisa de esquerdista? O de Bolsonaro, um extremista de direita, como coisa normal?
O Grande Mudo, como é conhecido o Exército, foi dormir calado. Políticos de todos os matizes foram dormir apreensivos. Quando se pensa que Bolsonaro ultrapassou todos os limites da irresponsabilidade, ele vai adiante. No seu caso, por desespero, mas não incoerência. Bolsonaro enveredou há muito tempo pela Avenida da Irrelevância. Perdeu o bonde da História quando subestimou o coronavírus. Não soube ou não quis corrigir o passo.
Por incoerência não morrerá. Foi um mal militar, como dele disse o ex-presidente Ernesto Geisel. Afastado do Exército por indisciplina e conduta antiética, alojou-se durante 28 anos na Câmara e, ali, foi um deputado sem nenhuma importância. Acidentalmente eleito presidente, o que se poderia esperar dele se não que fosse um presidente medíocre? Muita gente, mesmo assim, ainda acha que valeu a pena porque derrotou o PT.
A situação terá que piorar muito para que só depois comece a melhorar, ouvi de um ministro do Supremo Tribunal Federal. Em meio a uma pandemia, não se depõe presidente. Sirva de consolo que em meio a uma pandemia também não se aplica golpe. Impeachment não é golpe. É instrumento previsto na Constituição para remover governantes ineptos que perdem o apoio político necessário para governar. A hora de Bolsonaro chegará.
Ninguém, mais do que ele, se empenha tanto para que chegue a hora da verdade. Bolsonaro compete com o coronavírus para ver quem causará maior estrago ao Brasil.
A morna, quase fria, reação dos poderes aos atos do capitão
À espera que o vírus faça a sua parte
Então ficou combinado assim: Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, soltaria uma nota a respeito da gravidade do momento, mas sem se referir diretamente ao presidente Jair Bolsonaro. Foi o que ele fez. Só que não resistiu e misturou Bolsonaro com coronavírus.
Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, nada falaria como de fato nada falou. Toffoli é meio paranoico com a história de golpe militar. Quando eleito presidente do tribunal, a primeira coisa que fez foi levar um general da ativa para trabalhar com ele. Missão do general: servir de ponte entre os militares e Toffoli.
Por escolha própria, Davi Alcolumbre (DEM-AP) calado estava calado continuaria. Dos três, Alcolumbre é o mais ligado a Bolsonaro. Deve-lhe favores – de liberação de verbas a empregos para amigos. Bolsonaro deve-lhe a proteção que ele dá a Flávio Bolsonaro. Alcolumbre planeja voltar a conversar com Bolsonaro.
Maia, Toffoli e Alcolumbre concordam que, em breve, só duas coisas restarão a Bolsonaro: segurar em alça de caixão e administrar uma das maiores, se não a maior crise econômica da história do país.
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